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Marcus Eduardo de Oliveira

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Economia Social e Humana

Exploração econömica

Marcus Eduardo de Oliveira - Publicado: Quinta, 01 Outubro 2015 15:20

Diante da expansão das desigualdades sociais e do alargamento mais intenso dos bolsões de pobreza espalhados pelo mundo, torna-se cada vez mais insuportável aceitar a predominância de um modelo econômico que produz riqueza gerando pobreza; que eleva a produção física da economia global à custa da dilapidação do capital natural, que congrega quase 900 mil pessoas com os estômagos vazios de fome, que fabrica bens à base da subordinação de muitos mediante a absurda precarização das relações de trabalho ao fazer uso de mão de obra infantil e em condições análogas à escravidão.


O outro nome de tudo isso é insanidade econômica, uma verdadeira exploração, no sentido mais torpe possível do termo. Lamentavelmente, exemplos dessa exploração econômica não faltam e, pior, a cada novo dia ganham mais visibilidade ao se multiplicarem.

Enquanto de um lado poucos ganham muito na esfera das finanças internacionais, se regozijando nos cassinos financeiros, do outro, muitos sofrem e nada ganham. Enquanto uns se empanturram na abundância material, outros sofrem na escassez do mais básico para a sobrevivência: a falta de alimentos.

Vale como um primeiro exemplo o que ocorre nos EUA, onde, atualmente, o salário de um administrador top de linha de uma instituição de especulação financeira é, aproximadamente, o mesmo que o de 17 mil professores de ensino primário, diz Russell Jacoby, em “O Fim da Utopia”.

Essa exploração/insanidade econômica parece não ter limites e se reproduz, por consequência, nos mais diferentes lugares do mundo. Para citar a existência de trabalho infantil e em condições análogas à escravidão, por exemplo, basta recorrer às lojas de tapetes na Índia, no Nepal e no Paquistão.

Esses lugares, em conjunto, usam quase um milhão de crianças na linha de produção. São inúmeros os casos em que muitas dessas crianças atingiram a cegueira devido ao longo tempo em que passaram costurando.

As casas de prostituição tailandesas, indianas e birmanesas usam meninas de 10 anos de idade, numa submissão sexual sem precedentes. De igual forma, em várias cidades das regiões Norte e Nordeste do Brasil são "vendidos" a estrangeiros em visitas às cidades pela rede internet "programas sexuais" com adolescentes menores de 15 anos de idade.

No Oriente Médio, nas famosas corridas de camelo (são mais de 30 mil camelos destinados exclusivamente a isso), os jóqueis são meninos entre 7 e 10 anos "comprados" por comerciantes e tratados com brutalidade, colocados em cima dos animais uma vez que seus corpos franzinos permitem imprimir maior velocidade aos camelos.

No Camboja, a indústria de tijolos e telhas faz uso de meninos e meninas descalços e sem nenhuma proteção para o transporte desse produto. Razão pela qual inúmeras crianças aparecem com braços, pernas e dedos cortados pelos manuseios de pesados tijolos.

No Brasil, o trabalho infantil ainda é predominantemente agrícola. Cerca de 36,5% das crianças estão em granjas, sítios e fazendas, 24,5% em lojas e fábricas. No Nordeste, 46,5% aparecem trabalhando em fazendas e sítios. Estamos nos referindo a um contingente de 4,8 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos estão trabalhando no Brasil, segundo dados da PNAD 2007. Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre 5 e 13 anos.

A Nike, fabricante de material esportivo, enquanto enche ano a ano seus cofres (apenas até o primeiro trimestre de 2014 o faturamento da empresa foi de US$ 698 milhões, 0,78 dólar por ação) e torra fortuna em publicidade (a soma dos gastos em 2006 e 2007, por exemplo, atingiram US$ 406 milhões), continua usando trabalho infantil na Indonésia.

A Adidas, outra marca de reconhecimento internacional no mundo esportivo, fechou fábricas na Europa e transferiu grande parte de sua produção para a Ásia, aproveitando assim a mão-de-obra de baixíssimo custo.

Exemplo disso é a cidade de Sialkot, no Paquistão, que abriga mais de 2.000 fábricas de material esportivo, especialmente bolas de futebol. Cerca de 1.800 funcionários, ao longo de todo o ano de 2013 e primeiro semestre de 2014, produziram 20 milhões de bolas para a Nike, Adidas e Reebok, incluindo a “Brazuca”, bola oficial usada pela Adidas na Copa do Mundo do Brasil (2014).

Os salários desses funcionários, em valores convertidos em Real, não superam 220,00 reais/mês, ao passo que durante a realização da Copa do Mundo cada “brazuca” era vendida no Brasil a R$ 400,00, quase o dobro, portanto, do salário mensal pago aos trabalhadores paquistaneses.

No estado de Tamil Nadu (sudeste da Índia) quase 400 mil meninos e meninas trabalham manualmente produzindo cigarros da marca "Beddies", vendidos exclusivamente a elevado preço no mercado local. A "remuneração" desses meninos e meninas não ultrapassa 30 centavos de dólar/hora.

Os brinquedos distribuídos junto aos lanches das consagradas redes alimentícias Mc Donald´s, Bobs e Burger King, em mais de 140 países, são feitos por crianças com idade entre 11 e 14 anos em galpões sem nenhuma ventilação, a maioria deles localizados em Taiwan.

Essas crianças chegam a trabalhar entre 10 e 12 horas por dia em troca de ninharias ao final do mês; grande parte delas apresentam queimaduras em mãos e braços, mediante o uso de componentes químicos.

No entanto, em 2013, somente a rede Mc Donald´s, para citarmos um único caso, anunciou um lucro de US$ 1,4 bilhão atendendo, em média, 58 milhões de consumidores por dia.

Ainda em termos de brinquedos infantis, talvez os casos mais chocantes aconteçam nas fábricas na China, onde trabalham 70 milhões de crianças e adolescentes. Esse país asiático é o maior exportador de brinquedos do mundo (75% dos brinquedos do mundo são ali fabricados), usando aproximadamente seis mil fábricas situadas na maior parte na chamada "terra dos brinquedos", a província de Guangdong (sudeste do país).

É dessa província que vem o conhecido boneco "Buzz Lightyear" (do desenho "Toy Story"), um dos mais populares da Walt Disney. Há ainda uma ampla gama de produtos da empresa Mattel, a fabricante das bonecas "Barbie".

A mão-de-obra infantil usadas nas fábricas chinesas é remunerada a 13 centavos de dólar por hora, numa jornada diária de 14 horas de trabalho. Por sua vez, em 2007, o lucro da Mattel atingiu US$ 379,6 milhões (US$ 1,05 por ação); em 2013 subiu para US$ 422,8 milhões (US$ 1,21 por ação).

De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Programa Internacional de Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC), existem no mundo cerca de 350 milhões de crianças entre 5 e 16 anos envolvidas em alguma atividade econômica. Entre elas, cerca de 250 milhões são submetidas a condições consideradas de exploração, o que equivale a uma criança em cada seis no mundo.

Destas, 170 milhões trabalham em condições perigosas e 76 milhões têm idade inferior a 10 anos. A maior parte deste "exército de mini trabalhadores" (entre 5 e 14 anos de idade) vive na Ásia (127 milhões) e na África e Oriente Médio (61 milhões).

Na América Latina e Caribe são 17,4 milhões. Os países industrializados e o leste europeu não são exemplos de boa conduta nessa questão, uma vez que abrigam pelo menos 5 milhões de crianças trabalhando.

Uma parte menor, mas dramaticamente consistente desse contingente de trabalhadores infantis é vítima de escravidão, sendo destinada à atividade de prostituição - número estimado em 8,4 milhões de crianças no mundo.

Em Bombaim, nos bordéis localizados na rua de Falkland, as meninas mais jovens e bonitas são exibidas em jaulas ao nível da rua para atrair clientes. Muitas mulheres são ali despejadas por traficantes, mas muitas são definitivamente "vendidas" pelos pais ou pelos maridos.

Estima-se que atualmente 90 mil mulheres - metade das quais despachadas a partir do Nepal para a Índia - trabalham como prostitutas na cidade de Bombaim. A violência, as doenças, a subnutrição e a falta de cuidados médicos reduzem a esperança de vida para menos de 40 anos dessas mulheres.

Todos esses exemplos, poucos diante de tantos outros, fazem parte de um modelo econômico insano que privilegia o ganho financeiro de uns em detrimento à barbárie cometida contra milhares de homens, mulheres e crianças, numa verdadeira exploração econômica sem precedentes.

No mesmo instante em que crescem astronomicamente os lucros de empresas como a Nike, Adidas, Matell, e das redes alimentícias Mc Donald´s e similares aqui citadas, bem como dos fabricantes de tapetes do Nepal, da Índia e do Paquistão, cresce, de igual maneira, a dor e o sofrimento de milhões de indivíduos que "contribuem" com horas de trabalho diário para os ganhos exorbitantes desses grandes conglomerados que superam em importância econômica várias nações.

Não por acaso, nesse pormenor, quase 60% das cem maiores economias do mundo são corporações, e não países. Como exemplo disso, vale lembrar que as 2.000 maiores empresas do mundo, em 2014, foram responsáveis por um faturamento total de 39 trilhões de dólares, somando lucros de 3 trilhões de dólares e ativos valendo 162 trilhões de dólares, superiores, portanto, a vários países.

O banco norte-americano JP Morgan Chase é a maior empresa do mundo, seguido de outro gigante do mercado financeiro, o britânico HSBC. Seus ganhos superam os PIB´s somados de mais de 60 países.

Enquanto esse modelo econômico perverso não for alterado, o alargamento dos bolsões de pobreza e os índices de miséria e indigência serão constantes mundo afora. Enquanto o “lucro ganancioso” das grandes corporações internacionais continuar “falando” mais alto, continuaremos a presenciar a degradação do trabalho humano, afetando, sobremaneira, o principal de tudo: a vida humana.


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