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Diego Bernal

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Tupi-guarani atrás da moita

Diego Bernal - Publicado: Quinta, 24 Setembro 2015 00:34

A imponente sede da Organização das Nações Unidas, desenhada polo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, abrigou recentemente a apresentação da restauração dos emblemáticos murais Guerra e Paz.


Dous majestosos murais que foram o derradeiro trabalho de Cândido Portinari, o artista plástico brasileiro de maior projeção internacional.

b 640 0 0 00 archivos Administradores diego 2015 09 un in new yorkParadoxalmente quando, em meados do século passado, a obra foi inaugurada no arranha-céus nova-iorquino o autor foi impedido de assistir por “motivos políticos”. Esta censura imoral foi denunciada polo filho de Portinari na reinauguração decorrida neste mês de setembro de 2015.

Cândido Portinari, filho de uma humilde família veneziana, fora militante do Partido Comunista Brasileiro e isso no mundo “livre” estadunidense era proibido.

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Ao igual que o pintor brasileiro, milhões de latino-americanos são descendentes de emigrantes italianos. Ainda hoje no Brasil é falado o véneto que, sob o nome de talian, é oficial em vários municípios do país sul-americano.

Exemplos da influência italiana no Brasil são a incorporação da polenta, a pizza e o panettone à culinária nacional ou o uso comum do depreciativo cafona –do italiano cafone-, de mau gosto, sem requinte, vulgar; onde o português europeu usa a palavra piroso.

Portugueses, galegos, japoneses, alemães, holandeses e polacos foram algumas das nacionalidades que se juntaram a africanos e ameríndios e fizeram da mestiçagem uma das identidades do Brasil.

A miscigenação teve, como é lógico, um reflexo linguístico e deixou a sua pegada no português brasileiro.

Para além do léxico das diferentes línguas dos emigrantes europeus, muitos dos termos que singularizam o português americano frente ao português europeu são de origem tupi-guarani.

Aos numerosos topónimos, alguns bem emblemáticos –praia de Ipanema do Rio, o parque de Ibirapuera de São Paulo ou a praia de Itapuã de Salvador-, temos que acrescentar um grande número de animais que ainda hoje são denominados com o nome com que os povos originários da América os tinham batizado.

Assim, os crocodilos tornam-se jacarés; os abutres, urubus; os papagaios, araras e os caranguejos, siris.

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Nestes casos, a forma do português europeu designa o termo neutro enquanto a tupi-guarani fica reservada para a espécie própria do Brasil.

Numerosas espécies de animais do Brasil como cobras  (jiboia , jararaca), rãs (perereca), peixes (muçum), lontras (ariranha), mexilhões (sururus), formigas (saúvas) ou vespas (camoatim) conservam nomes indígenas.

Há também termos tupis que passaram ao português europeu.

Guaxinim, capivara, quati ou tatu são os vocábulos usados a ambas as beiras do Atlântico para designar estes animais americanos.

Outros como gambá e tamanduá são formas privativas do português brasileiro frente a opossum e papa-formigas do português europeu.

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Por vezes, o animal vira insulto. Assim, araponga é um pássaro, mas também uma pessoa que fala aos gritos; biquara é um peixe mas também uma mulher com os lábios pintados exageradamente; os citados gambá e jararaca uma pessoa suja e uma pessoa má, ruim, respectivamente.

Por último, não queria deixar de citar as cutias, uns simpáticos roedores que podem ser vistos no Campo de Santa Ana, conhecido espaço verde da zona centro do Rio de Janeiro. 


Imagens: 1. Sede da ONU em Nova Iorque.

2. Murais de Guerra e Paz de Portinari.

3. Jacarés do Pantanal, foto de Sebastião Salgado.

4. Tamanduá ou papa-formigas.


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