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Xurxo Nóvoa Martins

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Em coluna

Carta aberta ao macho militante

Xurxo Nóvoa Martins - Publicado: Terça, 01 Setembro 2015 02:25

Quero pedir desculpas. Desculpas a todas as mulheres às tenho agredido por açom ou omissom. Por sacar a bailar comigo a quem nom queria, invadindo o seu espaço. Polas piadas desafortunadas. Por nom escuitar. Polas frases feitas que tanto custa desterrar da nossa linguagem. Por desentender­me do trabalho na casa, por nom valorar os sentimentos e os anseios das mulheres com as que comparto trabalho, amizade, militância, desejo, amor, luita.


Quero pedir desculpas publicamente, as mesmas que pedim em privado. Acho que NOM É TAM DIFÍCIL. Penso que é o mínimo que podemos fazer os homens ante a avalanche de privilégios de que desfrutamos. Mas nom é o único que podemos fazer. É mais, é urgente, importante e imprescindível reeducar-nos, evolucionar, mudar os nossos comportamentos, aprender a expressar os nossos sentimentos, os nossos medos, os nossos desejos sem ofender, sem impor, sem minusvalorizar, sem nos sentir atacados, e sim, essa é a palavra certa, SEM AGREDIR.

O machismo mora dentro de cada um e de cada uma de nós. É a consequência de anos de violência patriarcal e capitalista, do lavado de cérebro que os estados e as famílias obrarom durante séculos a fio, da exploraçom de corpos e da natureza que continua hoje. Porém somos os homens, os mesmos que polo único feito de o ser desfrutamos dum imenso catálogo de vantagens na vida social, laboral e pessoal, os que deveríamos contemplar horrorizados o feminicídio, o terrorismo machista, a violência do mesmo nome, e reagir apoiando o movimento libertador das mulheres, o feminismo.

Soberania, direitos linguísticos, ortografias, mátrias, direitos laborais, unidade popular? Como imos defender isto sem atender à soberania pessoal, ao direito a andar sozinha pola rua à hora que che pete sem que te chamem puta, sem ser suspeita de alguma cousa inconfessável? Ao direito à palavra, a ser escuitadas, tidas em conta? Como pretendemos passar por cima da conciliaçom, quando alguns apenas conciliam o seu glorioso labor de militante com a soneca de depois de comer? (e o que se sinta ofendido que nom pense por cima que estou a pensar nele). Como pretendemos ajudar a migrantes, a excluíd@s, a diferentes... se os homens estamos a assassinar à metade da populaçom mundial apenas por ter um sexo diferente ao nosso, POR SER MULHERES?

É tam difícil perceber que o melhor que podemos fazer os homens polo feminismo na maioria das ocassons é dar um passo atrás? É calar a boca e deixar que as precárias, as que nunca tiverom voz (porque nom lha deixarom expressar ou lha silenciarom, nom porque realmente nom a tiveram), podam expressar-se em liberdade, num ambiente nom opressivo, nom castrador?

A respeito do sucedido já demasiadas vezes dentro dos próprios coletivos teoricamente libertadores, quando uma mulher tem a coragem de fazer uma denúncia de uma agressom machista a um homem supostamente da sua parte em muitos ativismos, adoito ouvimos cousas como: 'Nom era para tanto', 'É intolerável o que fizeram com esse rapaz', 'Foi um linchamento'. DISCREPO TOTALMENTE. Podem ser incorrectas as formas, a maneira, mas ninguém lhe fez nada a esse rapaz nem a outro homem. A suspeita sempre mora no outro lado. Claro que nengumha/nengum de nós vai apoiar um linchamento e menos com o poder de destruiçom sobre a imagem pública e privada que podem ter as novas tecnologias e as redes sociais, mas a resposta a uma mulher que se sente agredida nom é essa, NUNCA DEVE SER ESSA. A renúncia aos privilégios é fulcral. A empatia é fulcral. A comunicaçom é fulcral.

Nom podemos pedir a alguém a quem pisamos -seja sem querer ou de propósito- que inda por cima nom proteste. Ou a uma pessoa negra que nom pode sentar no mesmo bus que nós que seja bem comportada e vaia cursar uma denúncia, em vez de levantar a voz ou directamente sentar onde lhe preste. Nom esqueçamos que o apartheid era legal, a escravatura era legal, que as mulheres nom pudessem nem sequer votar era legal e ainda o é em muitos países. A mutilaçom genital também. O maltrato emocional e psicológico, o maltrato físico a pessoas e animais, os abusos a crianças, a tortura, @s presos polític@s, o acosso sexual... som legais e/ou tolerados nos quatro cantos do mundo ainda hoje.

Exagero? A sério alguém pode aturar que para, com toda a legitimidade, defender o companheiro militante, o colega, o camarada, alguns (e algumhas) insultem, difamem, intimidem, ameacem? Que peçam represálias? Que exijam que a agredida, a vítima, revele a sua identidade para ser lapidada e apedrejada na praça pública? De verdade vamos demandar a uma rapariga agredida um maior grau de correçom, educaçom e acerto que o que pedimos ante qualquer outra agressom linguística, laboral, racial com que nos topamos no dia a dia? É preciso que os dominadores ataquemos e desprezemos ainda mais à vítima? Fica a nossa consciência mais tranquila ou é que temos medo de olhar no nosso interior, nom vaia ser que encontremos cousas das que nom gostamos?

É intolerável poder ir sem camisola os dias de calor? Caminhar sem companhia por onde me pete? Fazer piadas sobre mulheres, homossexuais e transexuais? Ser o protagonista da história no 99% dos livros, o porta-voz de deus na maioria das religions? Ser os líderes da velha e da nova política (com maravilhosas exceçons)? É intolerável que por ser homem nom comparem o teu humor ou inteligência com processos hormonais? Estar cada ano mais ghuapo e ainda mais com esse cabelo branco ou com essa careca / barriguinha tam sexy? Ser o dono da palavra e do espaço, levar as palmadas nas costas, ter garantida a aprovaçom, a compreensom e os risos cúmplices? Ir de vítima por nom poder chorar ou ganhar o aplauso porque o fazemos? Ser um completo analfabeto na educaçom afetivo-sexual? Algum homem se sente ofendido se o chamarem de 'lercho', 'histérico', 'zorro', 'bruxo', 'lúrpio', 'homem público'? Que venham apresentar-mo, pois nom conheço ningum.

Eu nom sou pró-feminista por ser sensível, porque às vezes outros homens me chamem 'maricom', por estar perdidamente apaixonado por uma mulher ou por um outro homem, por ser engatado violentamente nos banhos de algum pub, por nom ser o modelo que o meu pai ou a minha mai esperavam. Nom sou pró-feminista por compartilhar leituras e referentes. Isso pode ajudar-me a entender a luita das mulheres, a me pôr no seu lugar.

Sou pró-feminista quando critico o uso dos seus privilégios a amigos, camaradas, companheiros, colegas, quando nom calo a voz ante as agressons machistas do dia-a-dia. Quando nom tenho um sorriso conivente, nem reproduzo modelos violentos na minha masculinidade nem fago piadas a quem atua do mesmo jeito.

Sou pró-feminista quando percebo que é um movimento que procura a liberdade de açom, de expressom, de amor e também a liberdade na maternidade.

Sou pró-feminista quando entendo que a opressom patriarcal também me afeta a mim, quando questiono a minha maneira de atuar, de falar, de me comportar em público e em privado. O pessoal é político, sim, mas o/a que apenas fica na teoria está a ser cúmplice e disfarçar a realidade com o politicamente correto.

Acho que tod@s podemos e devemos aprender do que está a acontecer e tod@s devemos contribuir a que as cousas melhorem, a que nom haja mais agressons nem assassinatos, a solucionar os conflitos da maneira mais justa. Ninguém é infalível, todas as pessoas temos direito a retificar. O triste é que nestes debates houvo quem sim soubo acertar e arriscou-se a receber insultos, ameaças e incompreensom de todas as partes implicadas. É por estas pessoas que me decidim a escrever este artigo.

Somos diferentes e divers@s, essa é a nossa fortaleza, que nom nos venham os de sempre tentar enganar. Há cousas muito importantes em comum e desta vez imos a por todas. Dizia Emma Goldman aquilo já tam conhecido de 'Se nom puder dançar nom é a minha revoluçom'. Até aí tod@s de acordo. Mas depois é cada mulher a que decide com quem (ela ou ele) dançar ou se preferir dançar em roda, ou sozinha. Uma cousa nom exclui a outra. Junt@s na diversidade com alegria, respeito e consciência, eis o lindo caminho que muit@s querem/os construir.


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