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Ilka Oliva Corado

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Crónicas de uma inquilina

Quem fomenta o tráfico de pessoas somos todos nós

Ilka Oliva Corado - Publicado: Terça, 04 Agosto 2015 21:44

[Tradução de Camila Lee para o DL] O tráfico de pessoas é um assunto escabroso que, como sociedade de dupla moral, preferimos manter à margem do mundo de apatia onde vivemos. Isto não quer dizer que não seja de extrema importância falar sobre, denunciá-lo e acionar para combatê-lo. Precisamente porque é uma realidade crua e nos exige consciência é que preferimos ignorá-la, mas o que aconteceria se um dos nossos fosse vítima do tráfico de pessoas? As coisas mudariam, não é mesmo? Porque se trataria de afetos e laços sanguíneos. É uma total mesquinhez se só denunciamos quando um dos nossos está implicado. Prevenir o tráfico de pessoas é a obrigação de todos, bem como denunciá-lo e lutar pela sua erradicação.


O tráfico de pessoas tem tantos rostos, se comercializa com eles para fins como a exploração sexual, o tráfico de órgãos e o trabalho forçado, o que hoje em dia também é chamado como escravidão moderna. O tráfico de pessoas com fins de exploração sexual se encontra em cada bar, casa de diversão ou, como é conhecido normalmente, prostíbulos (não estou de acordo com este termo, mas este não é o foco neste artigo), onde existem pessoas que estão ali contra a sua vontade. Meninas, meninos, adolescentes e mulheres. Quantos bares existem na nossa cidade, no nosso bairro, no nosso país, no mundo inteiro? Quantas milhares de pessoas estão ali, do outro lado da porta, e nós fingimos não vê-las? Porque somos moralistas hipócritas, temos uma dupla moral e os preconceitos e os esteriótipos nos corroem.

Como humanidade, temos de realizar uma avaliação profunda sobre a nossa forma de atuar, sobre essa indolência que nos impede ver o sofrimento de outros. Em todas as classes sociais qualquer um está propenso a ser vítima do tráfico de pessoas, porém é facilitada em casos de pessoas que vivem em vulnerabilidade econômica. Muitas são enganadas com promessas de trabalho, ai entram as imigrações forçadas que deixam a milhares à deriva. Meninos, meninas, adolescentes, mulheres, afro-descendentes, pessoas LGBTI, indígenas...

O tráfico de pessoas não pode ser imperceptível, este conta com a impunidade de estruturas nos governos de origem, deslocamento e chegada. Para isto, é exigido um engatador, um transporte, um deslocamento e uma receção. Vem por engano ou por sequestro. O tráfico de pessoas ocorre diante dos nossos narizes e a indiferença e o egoísmo de pensar que tudo gira ao redor do nosso umbigo não nos permite ver o que é obvio. Não só não fazemos nada para evitá-lo e denunciá-lo, mas também, ainda por cima, criminalizamos as vitimas do tráfico de pessoas. Somos tão caras-de-pau?

Um exemplo muito claro é o das vítimas que foram detidas por autoridades como caso de prostituição, têm a barreira de não poderem aceder livremente e sem preconceitos por parte do sistema e da sociedade à saúde, à educação, ao emprego e à moradia.

O tema do tráfico de pessoas é extenso, um artigo não é suficiente. Um dia mundial também não. Vemos o tráfico de pessoas todos os dias, nas crianças que trabalham nas ruas, nos campos de cultivo onde estão esses jornaleiros sem dormir e sem comer, trabalhando de sol a sol, sem pagamento ou com um salário miserável. Vemos o tráfico de pessoas todos os dias nos nossos irmãos imigrantes que vão embora dos nossos países, que se deslocam nos nossos países, que chegam aos nossos países. O tráfico de pessoas está em todos os lugares. Como é possível que não atuemos para erradicá-lo?

Não nos esqueçamos de que a violência sexual e os feminicídios vão lado a lado com o tráfico de pessoas, a violência de gênero e o patriarcado. Que o tráfico de pessoas com fins de exploração laboral vão ombro a ombro com o capitalismo, a oligarquia e as transnacionais. Que essa exploração infantil que está ligada ao tráfico de pessoas se encontra par a par com a descriminação e o classicismo. Tudo está entrelaçado. O tráfico de pessoas com fins de roubo de órgãos é sofrido, na maioria dos casos, pelos imigrantes sem documentos nestes tempos de imigrações forçadas.

 Um filme excelente que toca profundamente o tema do tráfico com fins de exploração sexual é longa argentino La mosca en la ceniza. Também o famoso curta de menos de dois minutos, mas que dá um golpe certeiro, Bailarinas en el barrio Rojo de Ámsterdam O filme espanhol Evelyn

Da próxima vez que vejamos em um bordel, que vejamos crianças trabalhando na rua, nos campos de cultivos, nos bananais, nas plantações de canas, de algodão, de tabaco... Maquilhadoras, fábricas, imigrantes... pensemos no tráfico de pessoas. E perguntemos o que podemos fazer para nos informar sobre e para contribuir para denunciá-lo e erradicá-lo. Eu diria que o único que precisamos é essência humana e amor. Porque o caminho se encontra quando se deseja fazer parte da mudança.

Eu me pergunto, o que pensam sobre o tráfico de pessoas este pessoal que coloca a capa de revolucionários e intelectuais ou os religiosos rematados, mas que assistem com prazer os bares onde crianças, adolescentes e mulheres são violadas. O que pensam as mulheres preconceituosos de boa fé que não saem das igrejas? E você, que lê este texto, o que pensa sobre o tráfico de pessoas?

Vamos por aquilo que vale, de nada adiante uma vida de mediocridade se não dignificamos a nossa essência humana. Se não fazemos florescer este amor que nos torna irmãos.


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