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Marcus Eduardo de Oliveira

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Economia Social e Humana

A culpa é do crescimento econômico

Marcus Eduardo de Oliveira - Publicado: Quarta, 29 Julho 2015 11:34

De maneira convencional, o crescimento econômico está baseado numa sequência de aumento da produção de bens que gera capacidade de consumo, que aumenta ainda mais a produção, que gera mais consumo, e assim, sucessiva e viciosamente, produz-se para consumir, consome-se para produzir mais e mais.


Por sua vez, toda essa lógica econômica está “amarrada” a um conjunto de ações interligadas entre si: mais produção para mais consumo, incentivado, esse último, grosso modo, por maciça divulgação publicitária para aumentar mais ainda o consumo, realçando, sempre que possível e de forma camuflada, a prática da obsolescência programada, situação em que se deteriora um produto, caindo na “armadilha” em que consertar se torna mais caro que a compra de um novo.

É dentro dessa concepção de “mais crescimento econômico” (aumento da produção de mercadorias), que as principais economias pautam seus objetivos, observando os efeitos gerados sobre o aumento da riqueza, criação de novos postos de emprego e, claro, pelo desempenho “favorável” do PIB – medido friamente pelos fluxos de rendas e de gastos.

Entretanto, o que não é observado com o rigor e os cuidados necessários que deveriam ser são as “consequências” do processo de crescimento da economia, em especial sobre a natureza, no que toca especificamente ao fornecimento de matéria e energia, bem como a prestação dos chamados serviços ecossistêmicos (ou ambientais), como regulação do clima, solos, biodiversidade, água etc.

Em geral, o crescimento econômico é visto como uma espécie de rótulo colocado numa caixa de remédio, cuja leitura da bula indica a “cura” de vários males sociais.

Com isso queremos aduzir que o crescimento econômico, principalmente em ano de eleição presidencial, passa a ser buscado e estimulado com mais ênfase, pois serve como indicador de propaganda eleitoral atestando “um bom governo”.

Enquanto, desse modo, se pratica a “cultura da aparência”, enaltecendo com o aumento do PIB (crescimento econômico) o desempenho das nações no terreno da “eficiência” econômica, ignoram-se, por completo, as consequências em relação a todo o entorno.

É justamente com isso que surge um problema: como se coloca exagerada fé nas taxas de crescimento da economia como “santo remédio” para os males sociais, cultuando em paralelo o fator tecnológico como alavanca principal do culto do progresso (ter mais), tipificado no aumento de bens materiais, não raro os “administradores da economia mundial” fecham os olhos para a ameaça que isso representa à natureza, ao conjunto da vida ecológica.

Talvez seja por isso que a crise ecológica ora em curso, de seríssimas proporções e de consequências ainda não totalmente conhecidas (vide a crise de biodiversidade que, segundo projeções, até metade do presente século serão extintas cerca de 20% ou mais das espécies vivas do planeta), levou tanto tempo para ser enfatizada e divulgada.

O que o convencionalismo econômico tradicional, por sua vez, sempre procurou fazer - mascarando assim o real desastre ambiental em curso -, foi “priorizar” a atividade econômica, em especial essa “mania de crescimento” aqui mencionada, em detrimento ao planeta e a biosfera que abriga as funções primordiais da própria atividade econômica.

Por isso o pensamento econômico tradicional não considera com a devida importância o fato de que a natureza presta serviços ambientais à economia; assim como não se analisa, com a primazia devida e esperada, a interação dos processos sociais, econômicos e ecológicos, bem como não se questiona, com rigor e determinação, os próprios modelos de crescimento que desfiguram os ecossistemas, colocando as condições de vida em completo perigo.

Pior ainda é não atentar-se para o fato de que a economia somente continuará “funcionando” se formos capazes (governo, sociedade, empresas) de estancar o processo de contínua degradação da natureza.

Tão grave quanto isso é, de igual maneira, não atentar-se, por exemplo, para os custos elevados de um processo de despoluição. Sai muito mais caro despoluir – seja lá o que for - do que evitar a poluição.

Também de igual maneira, evitar desde já o aumento do aquecimento global se torna mais econômico (menos custoso) do que enfrentar, posteriormente, as consequências de um planeta mais aquecido em dois ou mais graus centígrados.

Assim, diante de muitas evidências sinalizadas pelos desequilíbrios climáticos, cujo aquecimento global certamente se enquadra como o principal deles, não chega a ser nenhum despropósito afirmar que, se há uma causa precípua para a crise ecológica, essa está pontualmente localizada – e bem visível - no cerne da economia.

A origem da crise ecológica, não tenhamos dúvidas, é puramente de fundamento econômico – fazer a economia crescer, pouco se importando com a existência de limites da natureza, tampouco com a disponibilidade limitada de recursos ecológicos.

Em relação a isso, somos partidários da apropriada observação feita pelo economista francês Serge Latouche: “La crise écologique a bel et bien été engendrée par la croissance économique...”, ou seja, “a crise ecológica foi criada real e verdadeiramente pelo crescimento econômico”.


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