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Maurício Castro

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Enquanto há força

Decência moral, eficácia técnica... e pátria espanhola

Maurício Castro - Publicado: Segunda, 06 Julho 2015 00:52

Esses som três dos eixos ideológicos que nestes dias Pablo Iglesias passeia em massivos atos públicos na Galiza.


Começo por mostrar o meu reconhecimento polo talento comunicativo do candidato, que de qualquer maneira seria inoperante se nom contasse com a importante cobertura mediática que o lançou como líder da “nova política” frente à “casta”.

Indo ao assunto, e depois de ter visto os vídeos das suas intervençons em Ferrol e Vigo, comento três leitmotivs presentes no discurso do líder de Podemos. Com eles, através de umha calculada repetiçom de mensagens tam facilmente digeríveis como carentes de conteúdo, Pablo Iglesias comparece como alternativa no atual mercado eleitoral de cara às legislativas do próximo outono-inverno.

O primeiro dos motivos repetidos é o da “decência” para limpar o mundo da política. Com bom critério mercadotécnico, fai propostas “em positivo” frente a umha realidade de corrupçom generalizada numha democracia burguesa de terceira categoria, como é a espanhola. Hoje todo o mundo deteta as importantes carências do regime bourbónico nesse campo.

O segundo tópico temático responde à sua condiçom de académico com alta formaçom e representante de um segmento social amplo no Estado espanhol: esse milhom de jovens licenciados pertencentes às classes intermédias ou filhos da classe trabalhadora que, com a crise, caírom no desemprego sem mais perspetiva que a precaridade extrema ou a emigraçom. Pablo Iglesias atribui a situaçom de todo esse setor de desempregados e desempregadas altamente qualificadas à “ineficácia” dos atuais governantes, contrapondo-lhes a “eficácia” garantida de um governo de Podemos.

A terceira soluçom para os problemas “de Espanha” (sempre Espanha!) baseia-se num novo regeneracionismo patriótico, de base social-democrata, que tenta resgatar o chauvinismo espanhol das catacumbas franquistas e convertê-lo em moderna argamassa para umha nova e transversal maioria eleitoral. Estamos ante umha carga de profundidade que tenta neutralizar a consciência nacional dos povos galego, basco e catalám, através de concessons cosméticas como a de oferecer umha imagem amável e atraente do “país de naçons” chamado Espanha.

Esses três produtos ideológicos que o líder de Podemos quer vender-nos nesta tourné galega de julho de 2015 som tam comerciais como inservíveis para a verdadeira transformaçom social que a Galiza precisa.

Primeiro, porque a corrupçom generalizada é umha expressom intrínseca da política no atual sistema e nom um problema redutível à sua dimensom moral. A raiz da corrupçom encontra-se na lógica do mercado capitalista como cerne da reproduçom social, sendo impossível evitá-la sem dar a batalha por situar a utilidade social, frente ao lucro, no centro de um sistema diferente. Nengum mecanismo de controlo institucional poderia, ainda que quigesse, evitar a corrupçom num sistema que é corrupto na sua essência, por ter como objetivo central o aumento constante e unilateral do capital em maos da classe dirigente e nom a garantia do bem-estar para o conjunto da populaçom. Esse sistema diferente chama-se socialismo: umha alternativa ausente, até onde sabemos, do programa político de Podemos.

Segundo, porque a crise atual, tal como todas as anteriores ao longo da história contemporánea, nom se deve de maneira principal a nengum problema de eficácia. Deve-se antes a umha lógica interna, cíclica e inevitável, tal como a economia política tem largamente demonstrado desde Marx. Na crise atual, poderemos estar a assistir à confirmaçom do seu caráter estrutural e já insuperável dentro do próprio sistema, se dermos credibilidade às análises de cientistas sociais tam solventes como o filósofo húngaro István Mészáros. Segundo a sua tese, substancialmente coincidente com a de economistas marxistas como Jorge Beinstein, o sistema capitalista será já dificilmente reformável de maneira positiva, nem que nos governasse umha equipa de brilhantes académicos encabeçados por Pablo Iglesias e assessorados por economistas keynesianos como Vicenç Navarro ou Yanis Varoufakis.

Terceiro, porque em naçons dependentes como a Galiza, nengumha soluçom virá das concessons de um grupo de ilustrados da metrópole, dispostos a realizá-las em troca da nossa renúncia à soberania. Num exercício de intolerável banalizaçom dos direitos nacionais, tanto Iglesias como outros líderes de Podemos repetem, por exemplo, que o “problema catalám” se deve a umha falta de sensibilidade do Partido Popular. A afirmaçom nacional dos povos sem Estado seria, no caso espanhol, umha forma de protesto quase infantil contra a incompreensom da direita espanhola e nom a irrenunciável afirmaçom de um princípio democrático. Nesse relato dos factos, a reivindicaçom soberanista deveria ficar reservada para a própria Espanha, frente à ditadura financeira da Alemanha, da Troika e do FMI.

Mais um apontamento em relaçom a esta questom: a estrutura interna de Podemos, a sua intervençom e conceçom política nom convida a sermos otimistas quanto ao seu modelo territorial. Inclusive dirigentes do partido na “periferia”, como a líder andaluza Teresa Rodríguez, denunciam a perspetiva estritamente madrilena de umha direçom que cada vez se perfila mais como umha elite nacionalista espanhola.

Poderíamos analisar outras fórmulas e esquemas ideológicos da “nova política” de Podemos: o verticalismo, a hiperliderança, a política reduzida ao espetáculo mediático, o explícito desprezo polos valores e símbolos históricos da esquerda... Porém, achamos que, com perspetiva galega e de esquerda, essas três ideias-força som suficientemente definitórias dos limites da alternativa política representada por Pablo Iglesias e Podemos.


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