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Lucas Morais

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Crítica radical

Fidel Castro e WikiLeaks para Prêmio Nobel da Paz

Lucas Morais - Publicado: Terça, 10 Agosto 2010 02:00

Lucas Morais

Em seus recentes pronunciamentos, Fidel Castro não poderia ter sido mais direto. Ao soar dos alarmes vermelhos, o revolucionário cubano alerta toda a humanidade dos perigos de um ataque por parte de Israel, respaldado pelos EUA, contra o Irã, ressaltando que não tratar-se-ia apenas de uma agressão a objetivos militares, mas também civis.


Alertou ainda sobre a violenta escalada de conflitos que tal ação poderia levar no Oriente. Para Fidel, uma agressão ao Irã criará necessariamente uma conjuntura global de guerra nuclear. Certamente o cenário que o imperialismo do eixo EUA-OTAN-Israel impõem no Oriente Médio (ler Preparando a III Guerra Mundial (I)) também alteraria radicalmente a realidade no contexto da Ásia Central e teria consequências totalmente negativas para a Rússia e a China, países estes que Fidel afirma contundentemente que defendem a paz e permanentemente são ameaçados pela escalada imperialista dos EUA-OTAN-Israel no Oriente Médio e na Ásia Central.

Fidel Castro disse nesta semana, em entrevista a jornalistas venezuelanos, que o portal WikiLeaks merece uma estátua por divulgar os crimes ianques no Afeganistão, ressaltando a importância do trabalho feito pela equipe de Julian Assange e a coragem do jovem militar norte-americano, Bradley Manning, que supostamente vazou os arquivos classificados do exército estadunidense. No momento em que escrevo estas linhas, vem ao conhecimento de que ativistas civis saíram às ruas de Virgínia exigindo a libertação de Bradley Manning, principal acusado pelo Pentágono de filtrar os documentos militares publicados pelo WikiLeaks.

Atualmente, 62% dos estadunidenses consideram que a guerra no Afeganistão é um erro, o que reforça um péssimo cenário para Obama apoiar bombardeios israelenses às instalações militares e civis do Irã. Os EUA encontram-se atolados na guerra do Afeganistão-Paquistão, além das sequelas enfrentadas no Iraque.

Certamente a divulgação de mais de 90 mil documentos classificados pelo portal WikiLeaks, que inclui informações sobre violações dos direitos humanos, tortura, assassinato de inocentes (principalmente mulheres e crianças), teve um imenso impacto na opinião pública dos estadunidenses. O peso desta divulgação – a maior filtragem de documentos da história – levou aos EUA a exigirem a devolução imediata de documentos publicados pelo WikiLeaks, e, somando a isto, o Pentágono adverte seus militares para que não visitem o sítio web WikiLeaks, ameaçando-os com severas punições judiciais. Os militares estadunidenses não descartam um ataque militar para derrubar os servidores do WikiLeaks. Setores mais histéricos e reacionários dos republicanos chamaram pelo sequestro e prisão de Julian Assange, caso o jornalista não retirasse o portal WikiLeaks do ar. Robert Gibbs, atual porta-voz da Casa Branca, disse em discurso que os fundadores do WikiLeaks tem as mãos sujas de sangue, ao que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, respondeu negativamente. A Casa Branca pediu ainda que o WikiLeaks não publique outros 15 mil documentos que encontram-se sob poder do portal.

Em sua carta, "Endereçado ao Presidente dos Estados Unidos", Fidel ressalta que está nas mãos do atual presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, a decisão de iniciar a guerra nuclear ou trabalhar pela paz. O comandante cubano acredita que Obama não é um indivíduo insano como muitos de seus predecessores, como Reagan, Bush (pai e filho), dentre outros. E insiste, ainda, que há muitos motivos para resistirmos à guerra e lutarmos pela paz, muito em função dos novos meios de comunicação e das novas tecnologias, que propiciam espaços globais para expor os planos do imperialismo e criar condições de impedir a detonação de uma nova guerra de caráter global pelos envolvidos direta e indiretamente.

Como atual Prêmio Nobel da Paz, Obama corre um sério risco de ver seu governo e sua imagem internacional ser abalada por um ataque ao Irã, o que fez com que grandes setores, de ex-agentes da CIA a progressistas, afirmarem que a guerra ao Irã é um erro (ver Atacar o Irã: Erro iminente). Mais do que abalar a imagem de seu governo, uma impostura e posições hesitantes por parte de Obama na atual conjuntura pode ser ainda mais perigoso, dado que Israel só poderá bombardear ao Irã contando com o apoio militar e político dos EUA, mas que não necessariamente esperará um sinal verde formal do Governo dos EUA para realizar a agressão.

Nos ombros do atual Nobel da Paz recai a necessidade de posicionar-se diante de uma possível guerra nuclear, que marcaria cicatrizes e criaria um precedente perigoso, que reanimaria o irracionalismo beligerante entre os países que possuem ogivas nucleares. Nesta equação política, a Coreia do Norte nada teria a perder, tendo em vista que a agressão ao Irã se encaixaria na doutrina de agressão preventiva, inaugurada pelo republicano George W. Bush após o 11 de Setembro de 2001, e que o país norte-coreano poderia ser vítima de agressão simultaneamente ou na sequência a uma agressão ao Irã.

As possíveis agressões de Israel devem ser contidas imediatamente pelo presidente Obama, do contrário, uma escalada de conflitos fora de controle poderá se impor em muito pouco tempo, tendo em vista que outras potências, como a China e a Rússia, nada tem a ganhar com esta guerra, e, na verdade, muito pelo contrário. Ambos os países possuem relações comerciais estreitas com o Governo de Teerã, e no contexto de dependência de fontes externas de petróleo, a China só tem a perder, tanto economicamente quanto (geo)politicamente, caso uma guerra seja desencadeada ali.

Neste quadro, o Prêmio Nobel da Paz deveria ir justamente para aqueles que nos dois últimos meses realizaram um feito heroico, admirável e louvável por parte de toda a humanidade que luta pela paz, que é expor corajosamente mais de 90 mil documentos classificados dos militares estadunidenses, documentos que expõem boa parte da barbárie da guerra no Afeganistão. Os povos não devem esperar nada de falsos profetas como Obama, que defendeu o fim da guerra no Iraque e mantém a ocupação; que defendeu o fim da base de Guantánamo e, cedendo a pressões do lobby militar, a mantém a todo vapor; que não faz frente aos governos republicanos do Arizona e do Texas, que tentam criminalizar os imigrantes não documentados; que mantém o silêncio sobre a ocupação de Gaza pelo sionismo israelense; entre tantas outras promessas que não foram realizadas.

Diante tudo isto, Fidel Castro e WikiLeaks são os nossos verdadeiros Nobel da Paz.

Que reinem a paz, a liberdade e a fraternidade entre os nossos povos!

Lucas Morais
Jornalista do Diário Liberdade
http://www.twitter.com/luckaz

luckaz@gmail.com


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