E é terror justamente por ser assimilado por nós de maneira além de nossos planos de controle. É aterrorizante. Faz gelar a espinha imaginar que pegar o metrô para ir ao trabalho numa bela manhã de primavera seja a última coisa que você faça, antes de ser executado, explodido, infectado, etc.
As mortes das vítimas do terrorismo não são hollywoodianas. Muito menos acompanhadas de qualquer motivação ou arcabouço de intenções. São 'casualidades' esperadas ou até requeridas pelos atacantes. Sua intenção é ir além da carne.
Terror então pressupõe a perda do controle. O mal iminente. Aquele que derruba prédios, explode metrôs, chacina cartunistas. Aquele terror que metralha jornalistas, que bombardeia hospitais e escolas, que sistematicamente arranca o chão de povos inteiros, que lança ataques nucleares em cidades repletas de não-combatentes. Sim, tudo isso é terror, afinal, perpassam um estado temporal de guerra. Não se trata de exércitos atacando exércitos. Trata-se de executores predando todo tipo de gente, inimigo ou não. O terror implode nossas defesas, pois, após seu ato principal, encurrala-nos no medo.
Medo este que aquece e inflama reações mundo afora. Medo este brilhantemente usado por alguns líderes mundiais como argamassa de seus planos variados. Uns pretendem fazer com que o patriotismo e a xenofobia unam nações desmoralizadas e desmobiliadas pelas cristalinas contradições do modelo político-econômico que confabularam. Agora precisam de um inimigo comum. E, gradualmente, mesmo não apontando os dedos, permitem que minorias geradoras de fatos elenquem-nos o 'problema' de tudo. E o horizonte destes apontamentos é todo cercado de intolerância e, claro, medo.
Movimentos anti-islâmicos se fortaleceram em toda a Europa com o caso do ataque à revista Charlie Hebdo. Agora são predicados de muitos que acreditam que o terrorismo é somente aquele que lhes acomete, jamais aquele que por omissão e/ou negligência se espalha sob o manto de suas proteções individuais e modus vivendi.
Na Inglaterra, fala-se em restrições a programas de comunicação e aplicativos de celular, sob a desculpa que tais programas favorecem a organização de grupos e ações terroristas, visto que não podem ser vigiados/controlados por 'autoridades de segurança'. Melhor momento para implantar tais medidas não há. Com o medo espalhado, as pessoas se abrigam em tais tipos de sensações de segurança, abrindo mão, inclusive, do próprio controle absoluto do que conversam uns com os outros.
Medidas segregacionistas contra todo tipo de gente "não nativa" se alastram por Alemanha, França e países vizinhos. Diante da crise econômica, agora é hora de se livrar das minorias e imigrantes e garantir a 'pátria' aos 'nativos'. E novos esforços de guerra serão orquestrados para financiar uma multibilionária indústria bélica cujo objetivo será atacar e exterminar inimigos cada vez mais invisíveis e perigosos, instigados pela paixão ruidosa e pela desesperança. Daí o terrorismo ficará cada vez mais aterrorizante e extenuante. Estamos preparados para isso?