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Jorge Beinstein

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Em coluna

Mudanças decisivas no sistema global: Entre ilusons e guerras desesperadas contra o tempo

Jorge Beinstein - Publicado: Sábado, 01 Novembro 2014 01:52

O FMI informou recentemente de que em 2014, a nível global, o primeiro Produto Interno Bruto (medido a paridade de poder de compra) já nom é o dos Estados Unidos, e sim o da China.


Segundo essa informaçom, em 2014 a China representa 16,4% do Produto Bruto Mundial contra 16,2 % dos Estados Unidos. Em 1980, os Estados Unidos representavam 22,3% e a China só 2,3 %. No ano 2004, os Estados Unidos ainda pareciam estar localizados num cume difícil de atingir, com 20,1 % do Produto Bruto Mundial e a China crescia, mas ficava nos 9,1 % (menos de metade do PIB estado-unidense). Em mais dez anos, equilibrou-se a balança e, de acordo com o prognóstico do FMI, a diferença a favor da China aumentará nos próximos anos.

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Os dados fornecidos polo FMI mostram nom só a expansom chinesa, como também (principalmente) o declínio dos Estados Unidos, cujo poderio económico relativo global foi retrocedendo ano após ano desde o início do século atual. A resposta da sua elite dirigente foi continuar com o processo de financeirizaçom que a tinha levado ao mais alto, ao mesmo tempo que degradava o sistema industrial e acumulava dívidas para proteger e prolongar os seus privilégios, enquanto, parasitando o resto do mundo, exacerbou a sua tendência militarista. O que se tinha iniciado na última etapa do governo de Clinton agravou-se com a chegada de George W. Bush e ainda mais na presidência de Obama. As guerras fôrom-se sucedendo e estendendo, a crise financeira de 2008 nom acalmou a euforia belicista; ao invés, acentuou-na, e as baixas taxas de crescimento produtivo que se seguírom, as ameaças de falência, o aumento da marginalidade social, as perdas de mercados externos e outras calamidades deixaram via livre ao autismo imperial. Encontramo-nos diante da reaçom desesperada de um sistema drogado, embarcado numha louca fuga para a frente, os lobos de Wall Street convergem com os militares hitlerianos da NATO no leme de um imenso Titanic que alberga o conjunto do G5 (Estados Unidos+Alemanha+França+Japom+Inglaterra).

Nom se trata só da China a ultrapassar os Estados Unidos, seguindo os dados do FMI em 2014. O BRICS atingiu o G5 (a cada um representa aproximadamente 30% do Produto Bruto Mundial) e poderia superá-lo em 2015.

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O militarismo é assumido pola classe dominante norte-americana como a "soluçom" aos seus problemas, procurando assim submeter os seus aliados-vassalos da NATO, encurralar a Rússia e a China, submergir no caos países de todos os continentes e assim tomar posse de umha ampla variedade de recursos naturais da periferia, desde o petróleo e o gás até chegar ao coltan, ao lítio ou ao ouro. Essa vaga de agressons começa a transformar-se num súper boomerang que golpeia a cabeça do império, assediado por dívidas e ameaças inflacionárias e recesivas.

Por outra parte, nom há desacople, a Uniom Europeia e o Japom afundam junto a seu amo. Também nom se salvam os capitalismos "emergentes" da periferia e, ainda que no curto prazo tirem vantagens do enfraquecimento do centro do mundo, no médio prazo esses países vam ficando presos na decadência global. Os seus principais clientes comerciais som precisamente as economias capitalistas centrais declinantes, enquanto a rede financeira (equivalente a vinte vezes o Produto Bruto Mundial) envolve todas as burguesias centrais e periféricas, neoliberais e estatizantes, pobres e ricas.

Tanto a Rússia como a China, seguidas por um amplo espectro de países periféricos, tenhem conseguido, graças aos controlos e intervençons económicas dos seus estados, preservar durante algum tempo os seus mercados internos e as suas estruturas produtivas, mas as economias da China, Índia e Brasil desaceleram e, em conseqüência, aceleram as suas contradiçons internas e a Rússia já entrou em recessom (suave por enquanto).

O velho centro do mundo, em torno do G5, apressa a sua decadência, ameaçando impor o maior desastre civilizacional e ecológico da história enquanto os seus oponentes periféricos procuram resistir a umha avalanche que os excede. Tentam integrar-se, mas acontece que cada potência emergente tem baseado a sua prosperidade recente nas demandas dos mercados centrais em crises que, através de complexas arquiteturas financeiras e comerciais, pudérom manter em funcionamento as suas economias inundando o planeta com dólares sobrevalorizados que lhes permitiam comprar produçons periféricas a baixo custo. Mas agora e no futuro previsível, para continuar a funcionar (na realidade para prolongarem a sua agonia) precisam é de baixar ainda mais os custos periféricos até levarem o processo ao nível de saque. Pola sua vez, os periféricos nom podem prescindir desses mercados centrais, nom tenhem como os substituir completamente nem a curto nem a médio prazo.

Um horizonte de guerras e crises vai-se instalando de maneira irresistível.

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Assistimos atualmente a umha dupla corrida contra o tempo. Em primeiro lugar, a de Ocidente e do Japom, que procuram submeter nuns poucos anos o resto do mundo para saquear os seus recursos naturais e exprimir rapidamente o que reste dos seus mercados internos. Os seus estrategas consideram que desse modo poderiam reduzir os custos das suas empresas, preservar os seus lucros e sustentar os mercados internos imperiais ou, polo menos, desacelerar o seu declínio. Ainda que a consecuçom dessas metas bata com resistências periféricas (estatais e populares), que o Império nom tem podido até agora anular; além disso a sua decadência económica e política reduz ano após ano a eficácia desses projectos.

Por sua vez, os capitalismos emergentes também desenvolvem umha guerra contra o tempo, ainda que a um prazo mais longo que se vai encurtando. Em torno do BRICS, as integraçons eurasiáticas, latino-americanas, etc. tencionam desenvolver mercados comuns que substituam os mercados ocidentais declinantes, gerando desse modo umha dinámica capaz de salvar do desastre global motorizado por Ocidente e inclusive arrastando este último mais adiante para umha nova prosperidade. Mas essa ilusom enfrenta problemas de quase impossível soluçom. Os emergentes periféricos precisam de tempo para se reconverterem e adaptar aos mercados de substituiçom internos e externos, se os capitalismos centrais se derrubarem no curto prazo, os emergentes sofrerám o impacto dessa retraçom e entrarám num período de crises explosivas. Para que os capitalismos centrais nom desabem no curto prazo, prolongando umha sorte de declínio controlado, seria necessário que os mesmos preservassem os seus privilégios monetários (hegemonia do dólar) e comerciais, mas isso só é possível à custa da estabilidade económica e política dos capitalismos emergentes. Dobrando a Rússia, China, Irám e os seus aliados e amigos periféricos, poderiam entom saquear livremente o conjunto da periferia. Ocidente conseguiria um tipo de aterragem suave, com a qual o planeta entraria para umha era de decadência geral prolongada.

Dito de outra maneira: para os emergentes nom caírem, precisam de que Ocidente demore, desacelere a sua queda e, para isso acontecer, Ocidente precisa saquear a periferia, fazer os emergentes cair. De todos os modos, se Ocidente chegar a ter sucesso e submergir no caos o resto do mundo, seguramente esse caos provocará a falência das suas próprias sociedades.

Na realidade ambas corridas contra o tempo tendem para convergirem num processo comum de crise, seus ritmos diferenciados de desaceleraçom do crescimento económico começam a se aproximar, (o Brasil e a Rússia, por exemplo, estancam-se atualmente igual que Inglaterra ou Japom) integrando-se num espaço universal de crises políticas, financeiras, militares, sociais, locais, regionais, etc; quer dizer, na rede complexa da decadência do capitalismo como sistema mundial. As esperanças de superaçom da crise a partir do interior do sistema vam ficando diluídas, Ocidente nom recupera as suas glórias definitivamente perdidas e da periferia nom chega a regeneraçom, o rejuvenescimento do capitalismo.

Alguns anos antes da Comuna de Paris, Proudhon descrevia a França decadente do seu tempo da seguinte maneira: "Todas as tradiçons estám gastas, todas as crenças anuladas; porém, o novo programa nom aparece, nom está na consciência do povo, daí o que eu chamo 'a dissoluçom'. É o momento mais atroz na existência das sociedades" . Como sabemos, uns poucos anos depois, do mais profundo do desastre, emergiu a Comuna de Paris (1871), insurgência efémera, mas decisiva, que alumiou as rebelions do século XX.

O horizonte negro que nos oferece esta civilizaçom contrasta com a incrível vitalidade demográfica, tecnológica e social em geral que demonstra a humanidade, o que anuncia choques, confrontos, alternativas que deveriam ir para além dos limites deteriorados do sistema.

Fonte: Primeira Linha.


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