Os galegos entre aspas estão presentes na história de Espanha através dos seus escritores mais insignes, formadores dessa história negra, entre aspas, na qual galego (e a Galiza) são sinónimo do pior antónimo do ser castelhano, espanhol, que é o melhor.
O mesmo trato receberam os irlandeses dos ingleses, os polacos dos russos, os bretões dos franceses, os eslavos dos alemães. É a «vitória» de uma nação sobre outra. Qualquer que lera Galicia vista por los no gallegos (1974), de X. Alonso Monteiro, sabe que as declarações de Almodóvar e de Rosa Díez são do mais comum entre os espanhóis. As razões destas desqualificações históricas face à Galiza e aos galegos há quem as encontra na luta mantida pela nobreza galega contra a nobreza castelhana no século XV, na posterior derrota e expulsão da galega e na sua substituição pela castelhana na Galiza, que age de facto e direito como um exército de ocupação.
Os epítetos despectivos dedicados à Galiza e aos galegos tiveram entre os seus ideólogos as melhores penas espanholas: «Antes puto que gallego» (Quevedo). «Aunque gallego, es honrado». (Monroy y Silva). «Ni perro negro, ni mozo gallego» (Lope de Vega), «¿Rogaste a gallegos?, ya no puedes venir a menos». (Tirso de Molina).«Los gallegos no se colocan en predicamento, porque no son alguien» (Cervantes). «No salen tantas flores en diez mayos, como en Galicia mozas y lacayos», «Eres honrado. -Y noble, aunque gallego» (Tirso de Molina). «Si a la lengua la ciencia no acompaña, lo mismo es saber griego que gallego»(Lope de Vega).
A Almodóvar e a Rosa Díez atraiçoou-os o subconsciente. Seica as desculpas de Almodóvar são mais ruins do que as suas palavras, já que assegurou que não tinha intenção de ofender porque gostava muito da Galiza pela sua gastronomia e pelas suas paisagens… quer dizer, a mesma Galiza do Partido Popular, ausente de língua, cultura própria e indivíduos, uma foto fixa de uma paisagem e de uma festa gastronómica multitudinária e inacabável.