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Joycemar Tejo

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Elogio da dialética

O porquê de votar em Dilma

Joycemar Tejo - Publicado: Quarta, 22 Outubro 2014 00:15

Em 2006 e 2010, fui um severo adversário do voto dito "crítico" nas candidaturas do PT no segundo turno, mas me submeti à decisão do Partido.


Em razão disso, a princípio, talvez o voto nulo hoje em 2014 viesse a, finalmente, me contemplar. Mas fica evidente, para quem quer que analise e observe a realidade brasileira, que a conjuntura em 2006 e 2010 não era tão grave quanto hoje. Em 2006 e 2010 o PT possuía larga vantagem diante dos adversários do PSDB. Os tucanos eram adversários fáceis, sua base de sustentação, conservadora como sempre mas mais tímida. Nesses cenários, o voto nulo por parte da esquerda revolucionária seria pertinente: marca-se posição e denuncia-se o lulismo (agora lulodilmismo), sem que se facilitasse as coisas para os tucanos. Em 2014, a situação é diferente: aquilo que há de mais reacionário e atrasado na sociedade brasileira perdeu a timidez e ganhou a luz do dia. Os corifeus da extrema-direita têm cada vez mais espaço nas mídias tradicionais (a web ainda é uma trincheira), o Congresso recém-eleito é o mais reacionário das últimas décadas, a luta de classes tem cada vez mais passado às vias de fato (vide a violência física contra militantes de partidos de esquerda e movimentos sociais nas "jornadas de junho" de 2013), sedes de partidos e movimentos de esquerda têm sido invadidos pelo Brasil (PSTU no Rio etc.), candidatos ligados a causas sociais (LGBTT etc.) são atacados durante a campanha eleitoral, são praticados atos terroristas -como há poucas semanas no hotel em Brasília- por desequilibrados influenciados pelo discurso de ódio dos Bolsonaros etc. etc. etc.

Ora, justamente esses fascistas estão na base de apoio da candidatura de Aécio. O Clube Militar ter granjeado seu apoio ao PSDB, para "interromper a sovietização do país(1), é outro de inúmeros sintomas. Isto é: não é que Dilma seja comunista. Longe disso. Mas o anticomunismo está é com Aécio.
 
Dois exemplos, muito sintomáticos.
 
Em encontro recente, em discurso, Dilma faz referência à reeleição de Evo na Bolívia. Os presentes bradam por uma "América Latina socialista", ao que a presidente responde, "menas" (2). Não poderíamos esperar resposta diferente, claro. Mas alguém consegue imaginar algo sequer parecido envolvendo Aécio e sua plateia?
 
O que nos leva ao exemplo seguinte. Encontro de artistas pró-Aécio. Entre o presentes, Coronel Telhada da ROTA e Lobão, falando em "golpe comunista" e "atmosfera stalinista"(3)
 
O anticomunismo mais histérico está com Aécio, portanto, e votar nulo nesse cenário é uma temeridade.
 
Novamente: não é que o PT seja esquerda. Mantenho a minha definição, a de partido burguês com influência de massas (4). Não acredito que seja necessário, a essa altura do campeonato -já se vão 12 anos de PT no poder- explicar e denunciar as práticas e opções desse partido. Causa-me vergonha alheia a tentativa de alguns amigos, colhendo dados, números e estatísticas para "provar" os êxitos do PT governo.
 
O que justifica o voto em Dilma, hoje em 2014, não é eventual "melhora" do PT. Não é que o PT tenha melhorado; a oposição de direita é que piorou muito. Portanto o voto hoje é justificado, como não foi em 2006 e 2010.
 
A melhor análise que li sobre o momento é a da Liga Comunista. Evocando um antigo texto de Trotsky (5), deixa claro que não se trata de escolher o "mal menor". Veneno e um tiro de pistola não são "males menores" um em relação ao outro; ambos são fatais. Contudo, pergunta Trotsky, entre um inimigo que nos envenena diariamente, e outro prestes a nos alvejar com a pistola, contra qual nós nos voltaremos primeiro? O inimigo com a pistola, é claro, e, diz corretamente a LC, o inimigo com a pistola -portanto o inimigo imediato- é Aécio(6).
 
O PT tem realizado e continuará realizando as contrarreformas, evidentemente- desde a da Previdência em 2003- mas é o inimigo envenenador; diariamente uma pequena dose, até o óbito. Mas a própria natureza do instrumento, veneno, permite que se resista; é uma ação demorada, gradual, e os melhores organismos podem resistir à sua ação. Já o tiro de pistola, não. Vai direto ao ponto, sem chance de defesa. Isto é, as contrarreformas que o PT tem realizado, o PSDB realizará numa velocidade ainda maior. E amplamente amparado pelo Parlamento que, repito, é o mais reacionário das últimas décadas. Aécio já anuncia que reduzirá a maioridade penal, por exemplo, e já se especula em seu ministério excrescências como Ronaldo "Fenômeno" e Armínio Fraga (que já disse que, em sua eventual gestão como ministro da Fazenda, não sabe o que "sobrará" dos bancos públicos, adiantando assim a ofensiva neoliberal em doses cavalares que se avizinha) (7). E pensem na situação internacional, América do Sul por exemplo. Serão Brasil de Aécio e Colômbia contra os "bolivarianos".
 
Votar nulo nesta situação não é uma opção, como foi em 2010 e 2006. Principalmente quando sabemos que estas eleições serão resolvidas na margem de erro. Os parcos (há que reconhecer) votos que os partidos de esquerda, PCB, PSOL, PSTU e PCO tiveram podem definir o resultado. E votar nulo é abrir as portas para o pior cenário. É facilmente verificável que o voto nulo, nestas eleições, tem defensores basicamente naqueles que o sustentam desde o início, isto é, a turma do "eleição é farsa" (como se não soubéssemos disso), ou naqueles que se baseiam em critérios moralistas pequeno-burgueses (baixaria da campanha, nenhuma das propostas contempla etc.). Não sendo o caso de principismo anarcoesquerdista ou de moralismo pequeno-burguês, resta a alternativa, temerária, quase suicida, do "venha quem vier". É claro que os comunistas estaremos na oposição "venha quem vier"; mas se é possível escolher o inimigo, por que não fazê-lo? Um milionésimo que seja de diferença pode ser, às vezes, a única vantagem que resta, e há que aproveitar essa vantagem.
 
O fato é: um dos dois será eleito presidente. O voto nulo não mudará isso, salvo na fantasiosa expectativa de que determinado número de votos nulos possa anular a eleição, o que dependeria de uma conjuntura que não corresponde à realidade de hoje e, é claro, do entendimento da Justiça Eleitoral. Portanto, queira-se ou não teremos ou PT ou PSDB. Se há um milionésimo de diferença que seja, não faz sentido, diante dessa inevitabilidade, desprezar essa diferença.
 
Voto Dilma, portanto. E no dia primeiro estarei na oposição como tenho estado há uma década.
 
Notas:
 
 
 
 
 
 
 

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