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Helena Embade

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Novas crónicas feministas

Cultura do medo e terrorismo sexual

Helena Embade - Publicado: Domingo, 24 Agosto 2014 16:33

Desde as suas origens, o patriarcado mede o valor do corpo das mulheres pola sua pureça, devido à condiçom reprodutiva.


Até nom há muito ainda eram consideradas propriedade do pai, até que no momento do casamento passavam a pertencer ao seu marido. Forçar umha mulher nas relaçons sexuais dentro do matrimónio nom se considerava umha agressom, e perante qualquer relaçom sexual extra-matrimonial, consentida ou nom, a mulher era criminalizada e humilhada até que finalmente assumia a culpa. Nom podemos dizer que na atualidade esta situaçom esteja superada.

Ao longo dos anos, o corpo das mulheres estivo sob o domínio dos homens, sendo utilizado como arma de guerra nos conflitos armados ou em contextos de repressom política, sofrendo todo tipo de abusos, vejaçons e torturas. As represálias que tenhem padecido as mulheres galegas, também nom é algo superado e que forme parte do passado.

O movimento feminista dos anos 60, consciente da opressom que sofriam as mulheres a todos os níveis, redefiniu as agressons sexuais como um mecanismo de dominaçom e controlo para reforçar a sua subordinaçom aos homens através do medo. Situar a problemática das agressons sexuais no contexto político e social foi sem dúvida determinante e implicou mudanças na consciência coletiva, mas hoje sabemos que neste sentido nom se avançou o suficiente e ficam muitas questons no ar.

Há que deixar claro desde o princípio que o machismo nom é algo que vaia simplesmente da esfera pessoal à pública. O que acontece é que o patriarcado atopa as condiçons idóneas para reproduzir-se numha sociedade na que se fomenta a fragilidade das mulheres no entorno pessoal para que sejam obedientes e dependentes. Desta maneira, produze-se um silenciamento e umha espécie de tabú em determinadas questons que afetam à violência contra as mulheres, e em muitos casos é complicado detetá-las e erradicalas.

Nom há muitas semanas, umha revista feminista alertava na rede da existência dum documento no sítio web do Ministerio do Interior que parece sacado de outro tempo, mas que ao mesmo tempo resulta demasiado familiar no contexto social no que vivemos. Trata-se de 9 pontos que fam apologia do terrorismo sexual, resumindo umha série de recomendaçons para que AS MULHERES evitemos violaçons. Nom há que ler o documento na sua totalidade para detetar esse paternalismo rançoso do que tanto gosta o poder para controlar os nossos movimentos e evitar que saiamos do estabelecido. Chama a atençom a nula alussom às recomendaçons para que OS HOMENS evitem violar.

Com esse insultante documento que carece de qualquer tipo de perspetiva de género, o governo espanhol pretende fazer-nos crêr que ficando fechadas na casa ou seguindo umhas pautas do mais disparatadas evitaremos que um potencial agressor que se agacha entre os arbustos esperando por nós cometa umha violaçom. Dam a entender que se acontece algo será que nom pugemos suficiente da nossa parte (que nom tentamos dialogar, que nom o conseguimos disuadir…) polo que nom fica outra que aternos às consequências, por imprudentes, e polo visto também por nom empatizar o suficiente com o nosso agressor.

Fica claro que desde o poder –e desde os mmcc do sistema- nom querem admitir que a maior parte das agressons som produzidas por conhecidos. Suponho que nesse caso, e sempre desde o seu prisma patriarcal, dam por feito que é algo consentido e assim nom dá lugar a dúvidas se há denúncias por meio.

Também nom querem nem mencionar as nom poucas agressons sexuais que se produzem no âmbito familiar e da parelha, as que som silenciadas, as que rara vez saem a luz e por suposto nom aparecem nos meios de comunicaçom.

Nada falam das mulheres que tenhem que suportar comportamentos sexuais agressivos em relaçons teóricamente “normais”, aquelas que som obrigadas polas suas próprias parelhas a fazer determindas práticas contra a sua vontade, aquelas que sofrem coaçons ou mesmo ameaças de morte.

Algumha das 9 medidas propostas polo Ministério do Interior oferece umha soluçom minimamente útil a estas mulheres quando estám sendo agredidas sexualmente? Existe prevençom própriamente dita? Em algum momento encorajam às mulheres a que, se falham as imprescondíveis medidas em matéria de educaçom sexual, nom tenham medo e fagam frente aos agressores?  Certamente nom.

A imprensa burguesa, sobradamente conhecida por ser a mais fiel aliada do patriarcado, fai umha impagável contribuiçom a perpetuar ideias equivocadas, justificando as mais das vezes as agressons. Acostumam culpar a ingesta de álcol ou tirar de eufemismos (ou nom) para responsabilizar às mulheres agredidas, outras vezes ponhem em dúvida a sua palavra. Também é habitual silenciar vozes discordantes e críticas para garantir que a transmissom da mensagem seja a de sempre: o discurso do medo. Ao mesmo tempo nom podem evitar fazer-se eco das declaraçons misóginas das elites católicas quando defendem as agressons sexuais de maneira explícita.

O que nunca fam nem as instituiçons nem a imprensa sistémica é chamar as cousas polo seu nome e criminalizar o verdadeiro culpável de que no século XXI vejamos reforçadas as desigualdades e como pretendem que as mulheres sejamos emocionalmente dependentes e que nos sintamos permanentemente ameaçadas, como se fossemos parte do problema ou simplesmente dar as costas e fazer que nom existe tal problema.

Da impunidade e da exaltaçom do machismo que se viveu nas redes sociais nos últimos dias, banalizando sobre a violaçom em grupo de umha rapariga em Málaga, podo tirar um par de conclussons: ou bem nom estám tam mal vistas as agressons ou bem umha boa parte da sociedade ainda nom se deu conta da gravidade da situaçom e simplesmente está reproduzindo da maneira mais cruel os roles que lhe assinou o patriarcado.

As feministas estamos em pé, alerta, organizando a resistência feminista. Denunciaremos e combateremos todas e cada umha das cousas que contribuem direta ou indiretamente a roubar-nos o que é nosso, a nossa vontade, a nossa capacidade de decissom e a nossa dignidade.

Nem eu nem outras compaheiras estamos dispostas a renunciar à nossa liberdade para que o patriarcado saia reforçado e poda seguir estigmatizando-nos. Trata-se dum problema estrutural e é o conjunto da sociedade quem se tem que implicar e assumir o compromisso de combater o sexismo e todas as suas consequências, demandando medidas efetivas que empoderem nom só às mulheres agredidas, mas também às que nos querem colocar a etiqueta de “vítimas potenciais” pola inoperáncia do sistema patriarco-burguês.

Por outra parte, di bastante do governo umha inaceitável reforma de lei educativa que nos quer domesticar e anular ainda mais, enquanto para os agressores estám garantidas as desculpas e justificaçons que sempre se lhes concedeu. A educaçom sexual ficará para outro momento, e os “novos” valores cívicos e sociais que se impartirám no curriculo escolar estarám focados em questons que o sistema considera mais importantes e que nos afastarám ainda mais do nosso objetivo de deixar de perpetuar o machismo entre a juventude.

Queremos apostas firmes e comprometidas pola plena transformaçom da sociedade, que incidam desde a raiz do problema, aí é onde os centros de ensino jogam um papel fundamental. Nom podemos tolerar que quando escuitamos um homem fazer umha piada sexual os nossos companheiros digam que nos temos que conter e conhecer a essa pessoa um pouco melhor para entendé-la. Conhecemos e reconhecemos esse tipo de comportamentos, e sabemos que ficando caladas ou fazendo que nom passa nada ao nosso redor só estamos contribuindo na difussom do patriarcado.

Queremos ser formadas em pé de igualdade e queremos estar seguras, mas seguras de nós próprias, das nossas capacidades e da nossas força. Seremos mulheres livres e autónomas e acabaremos com o terrorismo machista.

Basta de impunidade!

Rebeliom feminista!

 

Vigo, 21 de agosto de 2014


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