Mais do que conhecer, tive a honra e o privilégio de conversar com o mestre por mais de duas horas. Não era essa a minha pretensão quando bati à sua porta, no velho sobrado do Poço da Panela, para conseguir do mesmo uma assinatura, como "padrinho" cultural de um projeto editorial que exigia uma indicação. Vejam como fui danado, embora já sabendo da boa fama do mestre em receber as pessoas. Pois bati palmas no portão, e eis que o próprio vem até mim, grandão e com cara simpática, para me atender. Ali mesmo, no portão, eu me anunciei e disse a que vim. Ele olhou minha carta com atenção, e eu, logo que ele terminou a leitura, disse que deixaria trechos do meu texto para que ele depois decidisse se assinaria ou não a carta de indicação. Para minha surpresa, Ariano, com aquele velho vozeirão, disse na lata: "Não precisa disso, não, rapaz. Já pela carta a gente vê que você escreve bem". Eu sorri em silêncio, bestificado com o homem, sua singeleza e grandeza de alma. Depois que ele assinou, comecei a agradecer para me retirar, quando Ariano me interrompeu, dizendo mais ou menos o seguinte: "Não vá embora, não. Vamos conversar um pouco", e me convidou a acompanhá-lo até à sala.
Eu não acreditava, mas, envaidecido, é claro que aceitei aquele convite. E então, numa noite memorável, ouvi a aprendi alguma coisa que pude reter de tanta erudição, sem qualquer sombra de pernosticismo tão comuns aos nossos intelectuais, de um dos maiores pensadores da cultura brasileira, em todos os tempos. Ele tratou, sobretudo, da cultura ibérica e suas influências sobre a cultura brasileira, demonstrando como o popular e o erudito estão interrelacionados desde a raiz.
Obrigado, mestre Ariano, pela lição de cultura e natural humildade humana.
Descanse em paz.