O tempo já nos tem demonstrado que há situaçons que nom se revertem, e quando as mulheres somos notícia a causa do terrorismo machista nom é com a intençom de denunciar situaçom algumha. O certo é que este tipo de informaçons ainda som tratadas com absoluto desconhecimento, sem a mais mínima perspetiva de género e como se fossem umha notícia mais, um simples sucesso, e nom a lacra social que representam. No caso dos meios audiovisuais, o impacto é ainda maior, pois a informaçom vai polo geral acompanhada de imagens em que prima o morbo e o sensacionalismo.
Os meios de comunicaçom do sistema transmitem umha imagem parcial e distorcida do que hoje ainda definem como “violência doméstica”. No entanto, a realidade deixa clara qual é a situaçom e, como mostra, podo referir umha recente estatística a nível mundial que revela que 1 em cada 3 mulheres sofrem violência física ou sexual, à qual devemos acrescentar a violência que padecemos a totalidade das mulheres no dia a dia por estarmos submetidas a este sistema patriarco-burguês.
Ante este panorama, torna quanto menos incompreensível que os governos nom tomem determinaçons contundentes para pôr fim a esta situaçom que nom deixa de piorar com o passar do tempo. O patriarcado apoia-se nos próprios governos e nos meios de comunicaçom para se fortalecer, e estes pola sua parte atuam como meros transmissores dos ditames do patriarcado, dando continuidade à mensagem de dominaçom e o que é ainda pior, fomentando comportamentos abertamente machistas que, no caso da Galiza e do Estado espanhol, nem sequer som considerados agressons por parte do governo.
Cada dia é mais freqüente a distribuçom de material informativo em que o assédio sexual vai disfarçado de piada ou mesmo é suavizada por acontecer em contextos festivos.
Recentemente, vários jornais e televisons resenhavam as celebraçons do San Fermín, mostrando com total normalidade imagens teoricamente festivas de mulheres que estavam a ser assediadas por vários homens. Num primeiro momento, nem se chegárom a questionar a gravidade do que realmente estava a acontecer e nom foi até que o movimento feminista basco se manifestou ao respeito que se iniciou o debate, mas sempre de maneira “extraoficial”. Nom é por acaso que o que se tentou promover por cima doutras cousas foi a defesa da imagem das festas de San Fermín.
A internet e as redes sociais em particular estám a jogar um papel determinante na hora de difundir informaçom e, no caso da erradicaçom do machismo, infelizmente nom sempre colaboram com a causa. É tristemente habitual encontrar verdadeiras barbaridades em Twitter que fam clara apologia do terrorismo machista, ante a passividade de milhares de pessoas que no fim de contas toleram e aceitam “inocentes piadas”, ignorando o problema de fundo e perpetuando também de esta maneira o processo de assentamento e normalizaçom que vive o patriarcado na atualidade.
A visualizaçom da mulher como objeto sexual fai com que, no caso de um assassinato por terrorismo machista, a sociedade nom o considere um crime propriamente dito, quer dizer, com a mesma releváncia que poderia ter se a vítima fosse um homem. Além disto, sempre se questionam fatores como o tipo de vida que levava a mulher, as circunstáncias particulares, o estado mental do agressor e outros muitos tipos de desculpas e justificaçons pouco afortunadas e que, mais umha vez, desviam a atençom do verdadeiro foco do problema.
Um exemplo de grande alcance mediático a nível internacional foi o assassinato de ReevaSteenkamp. Para as que seguimos a imprensa internacional com freqüência, o bochornoso tratameto da notícia nom passou em absoluto despercibido, nomeadamente na já de por si sexista imprensa desportiva.
Fôrom muitas as lamentáveis justificaçons públicas de desportistas e pessoas achegadas ao assasino, o atleta Oscar Pistorius, que pouco a pouco conseguírom colocar-lhe a etiqueta de vítima, enquanto da verdadeira afetada, Reeva Steenkamp, quase nem se sabia nada porque afinal ela era simplesmente “a moça de” e, além do mais, nem sequer era famosa.
A fraqueza que apresenta a questom de género a nível internacional em comparaçom com outras questons, somada à crise sistémica do capitalismo e uns factores erroneamente considerados “culturais”, dificultam enormemente um avanço significativo a curto praço, mas ao meu ponto de ver há uns mínimos exigíveis que se devem levar a cabo sem maior demora.
Apesar da existência de decálogos de boas práticas na hora de transmitir informaçom destas características nos meios de comunicaçom, o certo é que pouco ou nada se percebe a este respeito. Isto deve-se em parte a umha clara falta de vontade por parte das e dos jornalistas, mas também devemos questionar a sua utilidade e legitimidade.
Som tempos em que o patriarcado está a ser reforçado e as feministas temos que procurar a maneira de incidir em todos os ámbitos da sociedade para evitar o seu avanço e conseguir que deixem de minimizar ou neutralizar as nossas reivindicaçons. Sem dúvida, os meios de comunicaçom som o instrumento ideológico de dominaçom por excelência e, por este motivo, devemos impedir que continuem a invisibilizar e a atrapalhar a nossa luita.
Sem pretender pôr em dúvida a profissionalidade e o compromisso de algumhas e alguns jornalistas, entendo que se fai mais necessário do que nunca que as mulheres fagamos parte de maneira ativa e demandemos que todas as publicaçons e materiais audiovisuais tenham um enfoque de género, sem esquecer o uso de umha linguagem inclusiva e nom discriminatória.
É momento de que os meios de comunicaçom fagam do verdadeiro problema a manchete e atuem como transmissores da visibilizaçom e denúncia de um problema que é inquestionável. A partir desse momento, será mais fácil para as mulheres difundirmos a nossa mensagem, a da construçom de umha sociedade justa e baseada na igualdade.
Corunha, 1 de agosto de 2013