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Raphael Tsavkko Garcia

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Análise eleitoral das eleições catalãs de 25 de novembro de 2012

Raphael Tsavkko Garcia - Publicado: Terça, 27 Novembro 2012 21:34

Com a maior participação eleitoral (56,3%) desde as eleições de 1988 e queda nas abstenções, a Catalunha escolheu no domingo, dia 25, seu novo parlamento com os olhos voltados para o referendo de independência prometido pelo atual presidente da Generalitat (governo autônomo local) Artur Mas, que buscava manter seu cargo e a maioria de sua coalizão conservadora Convergència i Unió (CiU).


Resultados divulgados, múltiplas leituras podem ser feitas, mas de concreto observa-se uma queda acentuada da coalizão conservadora de Mas (de 62 caíram para as 50 cadeiras), um crescimento significativo da Esquerra Republicana de Catalunya (ERC, nacionalistas de esquerda que subiram de 10 para 21 cadeiras), uma queda considerável do eterno segundo partido da Catalunha, o PSC (braço local do PSOE que caiu de 28 para 20 cadeiras), um leve crescimento do PP (de 18 para 19) e a chegada das Candidatures d'Unitat Popular (CUP, nacionalistas comunistas que conseguiram 3 cadeiras) no parlamento local, além do crescimento do partido Ciutadans, fortemente antinacionalistas (que foram de 3 para 9 cadeiras).

Os Ecosocialistas da ICV-EUiA (Iniciativa per Catalunya Verds - Esquerra Unida i Alternativa) aumentaram um pouco sua presença no parlamento e são, em geral, parceiros em um processo soberanista (subiram de 10 para 13 cadeiras). Estes se aproximam mais de posições nacionalistas catalãs, apesar de manterem um diálogo com outros setores não-soberanistas de esquerda e foram parceiros do PSC e ERC no governo de 2006.

Uns ganharam, outros perderam, resta saber se o ímpeto nacionalista de Artur Mas se manterá o mesmo e quem este irá convidar para formar parte da coalizão que precisará compor para se manter no poder. As apostas dão como certa uma coalizão com o ERC que, apesar de discordâncias de ordem econômica e social, é o único partido nacionalista com força suficiente para manter a rota traçada por Mas no caminho da independência.

E as primeiras declarações de Mas, de que "apesar dos resultados, o processo da Catalunha segue sem recuos, mas com a consciência clara de que a maioria foi ampliada" sinalizam a manutenção da rota escolhida em 2010.. Em outras palavras, será preciso dialogar enquanto coalizão para se alcançar a independência, mas que a maioria nacionalista cresceu e que em até 4 anos haverá uma consulta.

A CiU venceu, mas sofreu uma queda considerável mesmo tendo perdido apenas pouco mais de 120 mil votos e, ao menos de acordo com os primeiros discursos, não alterará a rota soberanista.

Para muitos analistas da imprensa espanhola, os resultados demonstrariam o descontentamento da população catalã com a rota para a independência desenhada pela CiU, porém estas análises desprezam o fato do ERC ter dobrado sua votação anterior e de ter, pela primeira vez, aparecido como segunda força na região, com uma cadeira na frente do PSC e também despreza a entrada da CUP no parlamento e que, somados, os nacionalistas mantém a maioria e hegemonia na Catalunha com larga vantagem.

Nas eleições de 2006, os nacionalistas CiU e ERC somaram 69 cadeiras (81 somando ICV-EUiA), enquanto os nacionalistas espanhóis PSC, PP e Ciutadans somaram 54 cadeiras. Nas eleições de 2010, os nacionalistas, somando CiU, ERC, ICV-EUiA e SI (Solidaritat Catalana, pela primeira vez no parlamento), conseguiram 86 cadeiras no parlamento, bem acima das 81 anteriores. Nestas eleições os nacionalistas ampliaram sua força, chegando às 87 cadeiras (CiU, ERC, ICV-EUiA e CUP).

A leitura dos resultados se mostra difícil, pois de certa maneira os partidos mais ferrenhamente antinacionalistas (que, por outro lado, se mostram nacionalistas espanhóis) não tiveram um crescimento significativo, onde PP, PSC e Ciutadans tinham 54 cadeiras em 2006, 49 cadeiras em 2010 e hoje caíram para 48.

Apesar da queda da CiU e PSC e do crescimento do Ciutadans e ERC, o número geral de cadeiras divididas entre nacionalistas catalães e nacionalistas espanhóis não sofreu grandes alterações, podendo esta eleição ser considerada muito mais um ajuste do que trouxe reais alterações no panorama eleitoral.

A tendência que se vê desde 2006 é uma queda na presença de nacionalistas espanhóis no parlamento, ao passo que vem oscilando e talvez tenha chegado ao seu teto a presença nacionalista catalã.

A abstenção e os votos nulos, por sua vez, sofreram grande queda, beirando os 32% frente aos mais de 40% de 2010, uma eleição com recorde de abstenção.

Em termos de votos, é curioso notar que os nacionalistas catalães aumentaram em quase 100 mil o total de votos, se somados com a ICV-EUia este número sobe para perto de 200 mil. Já os nacionalistas espanhóis cresceram cerca de 130 mil votos. A diferença entre nacionalistas catalães e espanhóis, contando com a ICV-EUiA, beira os 750 mil votos, o que, em eleições cujas votações foram de 3.1 e 3.4 milhões de votos é significativo. E é preciso ainda lembrar que há uma parcela significativa de eleitores do PSC e de membros do partido que não são totalmente avessos à soberania, ainda que apostem no federalismo.

Algo claro nos resultados de domingo é que tanto CiU quanto ERC voltaram ao patamar eleitoral de 2006, quando conseguiram, respectivamente, 48 e 21 cadeiras - é bom lembrar que em 2010 o ERC sofreu uma queda acentuada, ainda que não imprevisível, devido à péssima avaliação de seu governo em coalizão com o PSE e ICV-EUiA. PP vem crescendo pouco a pouco desde então ao passo que a ICV-EUiA vem se mantendo estável e o crescimento do Ciutadans é visível, com o triplo de cadeiras de 2006 para cá. Fato notável, ainda, foi a queda do PSC, mas que vem se mostrando tendência.

As eleições de 2010 fora atípicas, convocadas em meio a uma crise de governo, formado por partidos de esquerda que, porém, não concordavam com um referendo soberanista e com questões de maior autonomia regional frente à Espanha.

Frente às maiores manifestações da história da Catalunha no dia 11 de setembro de 2012, por motivo da Diada (dia em que se comemora ou relembra a conquista espanhola da região em 1714), com milhões de catalães inundando as ruas de Barcelona, e com todas as pesquisas de opinião garantindo uma ampla maioria ao "sim" em um possível referendo pela independência da região, os resultados se mostram, talvez, condizentes com o lento crescimento do nacionalismo catalão na região que não pertence nem à CiU e nem ao ERC.

No fim, os resultados de 2012 se mostram como uma forma de ajuste em relação às eleições de 2006 frente à uma eleição conturbada e atípica em 2010 com a população fazendo o ERC pagar pelos seus erros e dos seus parceiros no governo anterior.

O "plano soberanista" de Artur Mas não fracassou, como pregou o El País em manchete pós-eleitoral ainda antes dos 100% dos votos escrutados, mas apenas terá de sofrer alterações para acompanhar as posições dos outros partidos nacionalistas catalães que terão de ser parceiros no processo. A CiU, apesar de nacionalista, adota programa de austeridade semelhante ao do governo de Rajoy na Espanha, é aliada em votações-chave em questões econômicas e seu recuo nas urnas é muito mais um reflexo deste posicionamento do que em relação à suas vocações soberanistas.

O processo para a formação do próximo governo regional será complicado, pois apesar da proximidade de posições em torno da independência, ERC, CUP e ICV-EUiA se opõem às reformas econômicas e posições em relação à questões sociais dos conservadores da CiU, mas o mais provável é que algum tipo de acordo seja alcançado ao menos nas questões mais importantes e caras a ambos os grupos. Uma coalizão tensa, sem dúvida, mas necessária para que se caminhe para a independência.


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