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Ramiro Vidal

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A república do verbo

Atençom, que começa a contra-revoluçom!

Ramiro Vidal - Publicado: Sábado, 04 Agosto 2012 02:26

O regime bourbónico está disposto a fazer-se a contra-revoluçom preventiva de cima, antes de que a ninguém lhe ocorra fazer a revoluçom de baixo.


Disto os liberais-conservadores sabem muito, porque no fim de contas é umha máxima que aplicárom sempre que as cousas se punham um bocado tortas. Umha ferramenta de primeira ordem para preparar a opiniom pública para esta nova contra-revoluçom preventiva é a imprensa escrita. Na Galiza, é verdadeiramente pasmoso ver com que desfaçatez os popes e editorialistas vam debulhando palavras de ordem para reformar a cousa pública, origem de todos os males segundo o dogma de fé (ainda que a realidade demostre que as origens do buraco negro estám no capital financeiro principalmente, esse que agora marca surrealistamente o passo aos estados e às sociedades) e para isso reforçam-se com notícias que som tal... até certo ponto. Porque, com efeito, a cousa pública do Estado espanhol era e é umha poça sem fundo, mas nom está tam claro que isto nos apanhe na ignoráncia total... realmente algumha ideia tínhamos do que acontecia.

Entre os dados facilitados por exemplo nas últimas horas pola rotativa La Voz de Galicia está o escándalo dos mais de umha centena de presidentes de cámara que cobram salários por cima do que deveriam (um debate interessante é: quanto deveria cobrar um presidente de cámara, e com razom a quais variáveis?) que entre grandes cidades e deputaçons se gasta por volta dos cinco milhons de euros em pagar cada ano a "assessores" (esses enigmáticos personagens) que presidentes de cámara de concelhos com menos de 5.000 habitantes tenhem salários de mais 50.000 euros anuais e, para que nom caiam todos os paus na administraçom local, também nos "revelam" que há membros do "Congreso de los Diputados" que cobram ajuda de custo de deslocaçom por sessom parlamentar, apesar de terem propriedades imobiliárias na própria capital do Estado. O peculiar é que seja a imprensa do sistema que nos "informe" destas realidades que, dalgumha maneira, já conhecíamos e, quando nom, polo menos intuíamos. Em princípio, todos e todas sabemos que os presidentes do governo do Estado, os presidentes autonómicos, os das deputaçons provinciais, os presidentes de cámara, se ponhem o salário a si próprios, a livre critério e com o único limite do orçamento. Nom há nada, nengumha lei nem nada parecido, que regule quanto e com razom a que critérios tem que cobrar um cargo político. Mas essa questom nunca foi abordada a sério... o boato de que "os políticos chupam" é comum entre pessoal de toda condiçom social e toda ideologia política, mas nem a partir do reformismo mais radical se falou nunca a sério de arranjar isso. E agora, esta corrente "regeneracionista" ultraconservadora pretende "descobrir-nos" a avaria e "instruir-nos" sobre como repará-la.

Digamos que o regime bourbónico se está a vacinar contra a reaçom revolucionária que se poderia dar no seio do seu organismo. Bombardeiam-nos com que a máquina trabalha mal, que cumpre reparar o motor. Que lhe sobram peças, a questom é quais peças. À vista dos dados que eles próprios nos fornecem, parece que o que sobram nom som precisamente membros do funcionariado de base; antes parece que o lastro que cumpria safar era todo esse funcionariado extra, essa casta inatingível do pessoal de confiança e os assessores. Pessoal que cobra muito mais por nom fazer nada, ou por fazer muito menos em qualquer caso e que está aí nom por mérito e capacidade, mas realmente em pagamento por serviços emprestados a um projeto político. Por outro lado, haveria que regular de algumha maneira como se estabelece o salário que vai cobrar por exemplo, um presidente de cámara. Estipular um mecanismo que nom seja a componenda entre grupos políticos; mas disso ninguém fala, com o fácil que seria abordá-lo.

Afinal, um arranha um bocadinho em todo esse discurso grandiloqüente e carregado de razom e vê com facilidade o cinismo e a hipocrisia que encerra. Artilúgios tecnocráticos para justificar o que eles chamam o "emagrecimento da administraçom", que se operará como? Pois cortando pessoal nas administraçons, encarecendo serviços ou privatizando-os e recentralizando o Estado. A monarquia, nem tocá-la. A curiosa e absurda duplicidade Congresso-Senado, ninguém fala de a resolver.

O problema é que o regime como esqueleto jurídico-político do sistema capitalista, como projeto sócio-político da oligarquia espanhola, tem os problemas que ele próprio gera. Teceu-se um ordenamento jurídico e umha estrutura política-institucional que reciclava quadros, figuras, instituiçons do regime franquista e que procurava manter satisfeitos os grupos de pressom que continuavam fortes em cada território do Estado. Por isso se criárom níveis administrativos novos que se tentárom combinar com os velhos, e por isso se mantivo a divisom provincial com esse anacronismo das deputaçons (por exemplo).

É certo o diagnóstico de que há duplicidades competenciais, é certo que há excesso de burocracia e é certo que há muitíssima gente a chupar do aparelho do Estado; desde classe política que vive ou aspira a viver do teto das administraçons até "assessores" e personagens de natureza similar; como também é certo que partidos políticos e sindicatos enchem os seus sacos à conta das arcas públicas e com esse dinheiro pagam as suas campanhas eleitorais, pagam ao pessoal que trabalha para eles a tempo completo... o que nom está é autorizada moralmente a voz que "acusa" e portanto pouca credibilidade podem ter as pretensas soluçons que propugna. No que di respeito ao labirinto de níveis administrativos do Estado, já assinalamos o motivo dessa singular e complicada fisionomia político-institucional, e dificilmente se vam acometer mudanças reais; como muito mudará-se todo para que nada mude, ou seja, mudarám nomes e pouco mais. No que se refere a partidos e sindicatos, baste dizer que nom há um só partido político com presença institucional que resista umha auditoria das suas contas, e se a banca lhes exigisse o pagamento dos milionários créditos que lhes foi concedendo com a inflexibilidade com que cobram as hipotecas, as entidades financiadoras fartariam-se de embargar património e sem dúvida algum teria que disolver o bochinche. E o mesmo se pode dizer dos sindicatos. A resposta de porque nom acontece isso todo está no papel que a Constituiçom espanhola lhes concede. Se agora se "ataca" em certa medida os sindicatos é porque há urgência de desmantelar o modelo de relaçons laborais para implementar as reformas que a UE, o FMI e o Banco Mundial imponhem, mas tarde ou cedo se chamará ao diálogo para que as centrais maioritárias colaborem no formulamento de um novo modelo.

O que nom podemos permitir é que a oligarquia espanhola, a partir dos seus altofalantes, nos submerja na sua lógica e no seu discurso. A nossa obrigaçom nom é trazer soluçons para as carências do regime bourbónico. O dever da esquerda independentista e de qualquer movimento revolucionário é assinalar as contradiçons do sistema para o derrubar, nom para o reformar e, no longo prazo, reforçá-lo. Claro que este regime está enferrujado e cheio de corruptelas que o apodrecem por dentro. Como o capitalismo ao qual dá cobertura jurídica-política. De facto, umha das suas principais características é a sua tendência para o auto-colapso. A diferença entre os reformistas e os revolucionários é que os que pertencemos ao segundo grupo sabemos que a única "saída social à crise" é finiquitando o capitalismo.

Reformar Espanha e as contradiçons que gera a repartiçom da torta do poder entre façons da oligarquia, nom é logicamente tarefa nossa. Nom deve ser a nossa preocupaçom resolver os problemas de Espanha, mas libertar-nos de Espanha. Espanha, a Espanha sempre reacionária, imperialista, racista, militarista, fundamentalista, essencialista... é o inimigo. E isto deve também ser posto por diante na luita.

Fonte: Primeira Linha.


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