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Laerte Braga

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A hipocrisia e a hipocrisia

Laerte Braga - Publicado: Terça, 31 Julho 2012 17:17

A vitória de George Bush pai era considerada vital para os projetos políticos norte-americanos de liquidar com a antiga União Soviética. A chamada Guerra nas Estrelas projetada por Ronald Reagan seria consolidada por Bush, principalmente diante da fraqueza de Mikail Gorbachov, incapaz de implementar as mudanças políticas previstas em suas plataformas – Glassnost e Peristroyka .


Gorbachov foi um erro de avaliação de Yuri Andropov que sucedeu a Leonid Breschnev e apostou em reformas políticas e econômicas para alavancar uma nova etapa no processo revolucionário soviético. Governou por poucos anos, assumiu a chefia do Partido Comunista já doente e imaginou que após o breve período Konstantin Tchernenko, homenagem a uma velha liderança de 1917, seria possível avançar com Gorbachov. Não foi.

Gorbachov foi engolido pela oposição interna dentro do próprio partido, pela ação dos norte-americanos nas velhas políticas de suborno e intimidação, no recrudescimento do nacionalismo de países como a Ucrânia, Letônia, Lituânia e os acontecimentos na Polônia, a queda do Muro de Berlim, a gota d'água veio no silêncio das forças armadas soviéticas.

Um pé no freio nas políticas agressivas de Reagan era o pré-candidato democrata Gary Hart, favorito em todas as pesquisas dentro de seu partido e na disputa com George Bush pai. Hart foi flagrado com duas moças diferentes em situação constrangedora e sequer candidato foi.

Bush pai, um sujeito que se tiver que amarrar seus sapatos vai ter sérias dificuldades e problemas cerebrais irrecuperáveis, tal e qual Bush Filho, o que lê livros de cabeça para baixo, foi eleito presidente.

À época se dizia que se fosse no Brasil Hart teria sido eleito com larga vantagem, iria virar enredo de escola de samba, dar receitas em programas de culinária na tevê e as moças com certeza estariam estrelando novelas da GLOBO com pungentes declarações sobre suas vidas e as "dificuldades" que enfrentaram ao longo caminhada, lógico, ambas se comparando a Marilyn Monroe.

Nos EUA sumiram. Tanto as moças como Gary Hart. Reagan sofria de Alzheimer, não governou um único instante dos seus dois mandatos, a presidente era sua mulher e o grupo de extrema-direita que o cercava e o escolheu como marionete. Sabia sorrir, ler os discursos que Nancy lhe entregava, acenar para o eleitor e fazer um tipo bem ao estilo Hollywood, que americano adora, ainda mais se o cara for capaz de agüentar mais de dois minutos no boi mecânico. Aí deixa de ser um canastrão como Reagan e vira um "herói" como John Wayne.

Como eu disse no Brasil é diferente. À época da revolução cubana, década de 60 do século passado, surgiu até uma marchinha carnavalesca que dizia mais ou menos o seguinte – "em Cuba, Cuba, Cuba, andou na contramão vai para o paredão/no Brasil acaba na televisão".

Alexandre Garcia foi demitido do governo Figueiredo – exercia o ofício de dedo duro no SNI, mas lotado no Gabinete Militar – por assédio sexual e está onde?

Gildevan Fernandes é um deputado estadual e beato de uma igreja neopentecostal. Vende a palavra de "Deus" a 10%. Isso no estado do Espírito Santo. Tem o hábito de molestar sexualmente fiéis de sua igreja.

Cercado de capangas, escorado na fé cega e no medo que impõe às famílias, tem se safado de todas as acusações, até porque conta com a cumplicidade do Ministério Público, da Polícia, do Poder Judiciário e da Assembléia Legislativa, espécie de quadrilhas organizadas em sua imensa maioria. E agora um funcionário do Tribunal de Contas que por razões desconhecidas – mas que podem ser imaginadas – influi no trâmite de um processo contra o deputado/bandido.

Gildevan molestou sexualmente a funcionária pública Débora Cardoso. No melhor estilo canalha que caracteriza esse tipo de gente, era amigo da família, pertencia à mesma igreja que a vítima e seus pais, freqüentava a casa da moça e numa carona cometeu o crime.

Pilantra, logo escorregou em mil e uma explicações, negativas, enquanto intimidava as pessoas ao redor de Débora e própria Débora. Numa audiência púbica na Assembléia Legislativa do Espírito Santo sobre direitos das mulheres o fato foi levado ao conhecimento da senadora Ana Rita e de várias entidades de direitos humanos.

O processo permanece parado e Gildevan é candidato a prefeito da cidade de Pinheiros. Uma organização religiosa ligada a ele espalha outdoors pela cidade louvando suas "virtudes", enquanto o jogo pesado contra a vítima permanece.

Luciano, namorado de Débora, é funcionário concursado do cartório eleitoral da cidade e exercia a função de chefia do mesmo. Foi afastado pelo juiz eleitoral do cargo de chefia a pedido do deputado/bandido sob alegação que não agiria com imparcialidade.

Todo tipo de expediente possível está sendo usado pelo deputado seja para desqualificar a vítima, para pressionar seu namorado, para intimidar suas famílias e as novas vítimas que começam a aparecer, todas tímidas, mas fatos já suficientemente públicos para abertura de um processo de cassação do deputado, seqüência do inquérito policial com denúncia do Ministério Público e o curso normal do processo.

A hipocrisia que tirou Gary Hart da campanha presidencial de 1988 e abriu espaços para a vitória de George Bush pai é diferente no jeito de ser da hipocrisia que marca o uso de igrejas ou seitas para barbaridades cometidas por criminosos como Gildevan Fernandes.

Mas são formas de hipocrisia que permeiam a sociedade capitalista nos dias atuais, recheadas de moralismo e de fé. No caso de Hart, no dia seguinte apareceu com sua mulher para pedir desculpas aos norte-americanos. No caso de Gildevan uma teia de silêncio e impunidade vai sendo construída e Débora Cardoso massacrada nesse processo estúpido de desqualificação e perseguição da vítima.

E tudo "envolvendo" Deus. Hart pediu perdão e invocou a proteção divina para agradecer a força que lhe estava sendo dada por sua mulher. Gildevan se abriga numa igreja para vender a imagem de piedoso e homem temente a "esse" Deus.

Com freqüência os canais de tevê via satélite, ou cabo, exibem um filme sobre a preparação da Sarah Palin, vice de John McCain nas eleições presidenciais vencidas por Obama em 2008. Palin, de extrema-direita, ex-governadora do Alaska, é uma bela mulher com um belo corpo e segundo os jornalistas norte-americanos, "detentora" de um dos mais belos pares de pernas do país.

A mesma hipocrisia que tirou Hart da disputa presidencial, foi contornada no caso de Sarah. Marqueteiros arrumaram um jeito das pernas de moça aparecer em palanques, em programas de televisão, adotando um tipo de roupa conservador, mas nem tanto e "vestindo-a" com um óculos que se lhe dava a aparência de alguém mais velha e responsável.

Não adiantou, McCain perdeu para Obama, mas Palin continua sendo uma das principais líderes da ultra-direita nos EUA e, recentemente, uma deputada democrata, em 2010, foi atingida por um dos seus seguidores num evento em sua cidade. É que Palin havia distribuído um cartaz, ano de eleições legislativas, com um alvo no meio e os nomes dos deputados a serem "abatidos". E invocando proteção divina para salvar os EUA do "socialismo" de Obama.

Não é bem uma questão de há hipocrisia e há hipocrisia. Os dois fatos são hipocrisia de uma sociedade falida na sua essência e uma falência construída na alienação que envolve desde a fé cega, ao caráter espetaculoso da sociedade.

É capitalismo puro e simples. Enquanto Sarah Palin é uma peça que destrói, Gildevan um pústula que se esconde atrás da cruz, Débora é o centro do alvo a ser atingido.

Qualquer dia Gildevan vai dizer que Débora dispõe de armas químicas e biológicas fornecidas pelo demo para atingi-lo em sua "santidade", o modelo, qualquer que seja a dimensão do fato.


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