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merklandUnião Europeia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O eixo da política na Europa, em 2016, estará marcado pelas eleições nacionais que acontecerão na Alemanha e na França, as duas principais potências da Zona do Euro. O aprofundamento da crise econômica tem criado uma clara movimentação à direita do regime político e a tendência à classe operária entrar em movimento.


Chanceler alemã Angela Merkel e presidente francês François Hollande. Foto: Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0)

A própria Zona do Euro será colocada em xeque, em 2016, por causa do aumento das contradições entre a França e a Alemanha. A aliança entre as duas potências, que data desde o final da Segunda Guerra Mundial, começou a apresentar rachaduras. A França pressiona pelo aumento dos gastos da União Europeia em obras de infraestrutura e, principalmente, na compra de títulos públicos pelo BCE (Banco Central Europeu). O governo alemão, pressionado pelos setores mais à direita, tem resistido a essas pressões. A Grande Coalizão, encabeçada pela chanceler Angela Merkel, entrou em crise por causa da recessão industrial e a crise dos refugiados.

Na França, a Frente Nacional, o partido da extrema direita, deverá continuar se fortalecendo e eleger um número significativo de deputados à Assembleia Nacional. Se a recessão acelerar, poderá passar ao segundo turno junto com o Partido Republicano de Nicolás Sarkozy. Os social-democratas do PSF poderão ter o mesmo fim do Pasok grego.

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Na Alemanha, a extrema direita, agrupada no AfD, também deverá crescer. A ala direitista da CDU/CSU deverá se fortalecer com a perda de deputados nas eleições, o que levará à renúncia de Merkel do cargo de chanceler. A ala direita do partido social-democrata, o PSD, deverá se enfraquecer.

O Tratado de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas e mercadorias, deverá ser colocado em xeque. Os controles fronteiriços deverão aumentar. Aparecerão acordos regionais, como os que já se encontram em negociação entre os países nórdicos ou alguns países da Europa Oriental.

A Grécia continuará sendo o patinho feio da Zona do Euro, mas vários outros países andarão rapidamente no sentido de converter-se em novas Grécias. Principalmente Portugal, Irlanda, Espanha, Itália, mas também a França e a Inglaterra. A pequena maioria parlamentar do primeiro ministro Alexis Tsipras deverá colapsar conforme aumentar a pressão da União Europeia para aplicar os planos de ajuste, a crise continuar devastando as condições de vida dos trabalhadores e a válvula de escape da migração à Alemanha e aos países nórdicos for perdendo fôlego.

Um novo “resgate” grego não está colocado para 2016, mas o aperto sobre a população deverá levar a uma nova escalada dos protestos sociais. A pergunta do milhão é até que ponto os mecanismos de contenção das massas conseguirão ser mantidos em pé, principalmente no contexto do enfraquecimento da Alemanha e demais países desenvolvidos da Europa, que funcionam como amortecedores sociais dos países em crise.

Os governos multipartidários de Portugal e do Estado espanhol serão governos de crise. O governo de esquerda de Portugal, encabeçado pelo PSP (Partido Socialista), continuará aplicando as políticas de austeridade com a ajuda da direita, como aconteceu recentemente no caso da venda do banco Banif ao Santander.

No Estado espanhol, as tendências independentistas continuarão evoluindo na Catalunha conforme a crise continuar se aprofundando. O atual primeiro ministro Mariano Rajoy não será empossado novamente. No lugar, provavelmente, ficará um elemento do PSOE. O novo governo será um governo de crise, fraco, que deverá negociar também com o Podemos e o Ciudadanos, além do Partido Popular.

Os baixos preços do petróleo e as dezenas de bilhões que o BCE repassa aos monopólios manterão a economia funcionando, mas a recessão industrial continuará a acelerar. O desemprego continuará contido, mas a qualidade do emprego continuará se deteriorando.

O aumento das contradições entre a França e a Alemanha levará ao aumento das tendências centrípetas nos países mais afetados pela crise na Zona do Euro. O ritmo da aplicação dos planos de austeridade deverá ser desacelerado. O BCE, que é controlado pela Alemanha, será obrigado a escalar as medidas de repasse de recursos, o que manterá os lucros em queda, mas acentuará a crise na Alemanha e em toda a Europa.

Na Itália, o referendo sobre as reformas constitucionais de 2015, que acontecerá no segundo semestre de 2016, será derrotado. O governo do primeiro ministro Matteo Renzi entrará em crise, o que aumentará as divisões internas no Partido Democrático. As eleições agendadas para 2018 serão adiantadas. A extrema direita deverá se fortalecer da mesma maneira que acontece nos demais países europeus.

Na Grã Bretanha, acontecerá, no final do ano, o referendo sobre a permanência na União Europeia. Antes disso, haverá um acordo sobre várias das exigências da burguesia britânica, principalmente manter-se à margem da evolução, pretendida pelo imperialismo franco-alemão, na direção de uma federação europeia. O primeiro ministro, David Cameron, usará a pressão da saída para obter maiores concessões da União Europeia.

Os direitos dos imigrantes serão reduzidos e o Tratado de Schengen, do qual hoje a Grã Bretanha já não participa, será colocado em xeque. Novos países levantarão a bandeira sobre o direito ao veto dos parlamentos nacionais. As contradições com os países da Europa Central e Oriental aumentarão.

Na Polônia, a extrema direita que controla a presidência da república e o parlamento continuará pressionando a Alemanha com o objetivo de manter a pressão sobre a Rússia, o que inclui a alocação de forças militares permanentes no território e a manutenção das sanções. A Alemanha continuará liderando a renovação das sanções contra a Rússia em julho, mas imporá o principal acordo do próprio interesse, o gasoduto Nord Stream 2, apesar dos protestos dos mesmos governos da Europa Oriental.

O novo governo da Polônia, para compensar o distanciamento da Alemanha, da França e da Administração Obama, buscará a aproximação com o chamado Grupo de Visegrad (Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia), a Ucrânia e com a Grã Bretanha.

Na Romênia, o outro importante componente da OTAN na política de contenção contra a Rússia, o novo “governo tecnocrático” que substituiu o primeiro ministro Victor Ponta manterá a proximidade com a Alemanha, a França e a Administração Obama. Também manterá as contradições com a Rússia e continuará pressionando pela aproximação com a Moldávia, enquanto a Rússia manterá o enclave da Transnístria, como contrapressão contra a União Europeia e a OTAN. Nas eleições que acontecerão em dezembro, o “governo tecnocrata” terá o mesmo fim do “governo tecnocrata” de Mario Monti na Itália. Na Moldávia, as denúncias contra a corrupção do governo dificultarão a aproximação da União Europeia e favorecerão os partidos pró-russos.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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