Presidente iraniano, Hassan Rouhani. Foto: Wikimedia Commons (CC BY-SA 3.0)
O próprio general Qasem Soleimani, o chefe do Quds, esteve à frente da contraofensiva que retomou a cidade de Tikrit e que obrigou o Estado Islâmico a retroceder após ter chegado a apenas 60 quilômetros de Bagdá, a capital do Iraque, e ter ameaçado tomar as cidades sagradas xiitas de Karbala e Najaf.
Os sunitas governaram o Iraque desde após a Primeira Guerra Mundial até a queda de Saddam Hussein. As revoluções árabes impulsionaram uma nova onda revolucionária onde os sunitas também se colocaram em movimento, após a onda xiita impulsionada a partir da Revolução Iraniana de 1979.
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A reação do Oriente Médio, encabeçada pela Arábia Saudita, os sionistas israelenses e o imperialismo, tem buscado derrubar o governo alawita na Síria e o governo de maioria xiita no Iraque. O governo dos aiatolás reagiu contra a ameaça do enfraquecimento da fronteira ocidental do Irã.
A ofensiva do Estado Islâmico no Iraque, até certo ponto, foi uma surpresa, já que os sunitas tinham sido contidos desde a queda de Saddam Hussein e o próprio Estado Islâmico tinha sido isolado, em 2007, em bolsões da província de Anbar, e se encontrava empantanado na guerra civil síria lutando contra o governo de al-Assad e contra todos os demais grupos. Em 2007, o grosso das tribos sunitas se incorporaram ao regime no acordo que levou à retirada das tropas norte-americanas do país.
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A retirada do Exército iraquiano de Mosul, perante a ameaça de aproximadamente dois mil milicianos do Estado Islâmico, colocou a necessidade do Irã reativar as milícias xiitas. A maior delas, a Mehdi, assim como aconteceu com outras menores, tinha sido dissolvida, em 2008, sobre a pressão iraniana, e direcionada a apoiar o braço político da família al-Sadr a partir de programas sociais. Alguns milicianos foram incorporados aos aparatos de segurança e ao exército.
Outras milícias xiitas iraquianas, como Asaib al-Haq e as Brigadas do Dia Prometido, tinham sido mantidas em estado de espera, fora da esfera pública, na tentativa de evitar a desestabilização do governo de al-Maliki. Mas agora a mobilização em larga escala se tornou fundamental para conter o avanço da desestabilização no Iraque.
Para o Irã, a estabilização da fronteira ocidental constitui um dos componentes mais importantes da política. Historicamente, essa tem sido a origem de todas as agressões. Ao mesmo tempo, na disputa regional, o Iraque desempenha um papel de contenção da Arábia Saudita devido à existência de uma maioria xiita, cujas principais lideranças têm ligações com o Irã. Os alawitas, na Síria, além de controlarem as regiões estratégicas que dão acesso ao Mar Mediterrâneo e a capital do país, Damasco, permitem o suprimento do Hizbollah, a poderosa milícia libanesa. O Hizbollah derrotou os sionistas israelenses em 2006 e representa um dos principais mecanismos de contenção contra a agressividade da reação na região. As suas táticas têm se tornado referência em vários países da região, como a Faixa de Gaza e o Iêmen.
Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade de escreve para seu blog pessoal.