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osamSíria - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O Estado Islâmico tem se convertido na principal ameaça para a existência da al-Qaeda, ameaçando implodir a capacidade de recrutamento, retenção dos militantes e a capacidade de financiamento.


Foto: Thierry Ehrmann (CC BY 2.0)

A al-Qaeda morreu?

Durante os últimos meses, a al-Qaeda tem conseguido ressurgir aparecendo como uma ala mais moderada do “jihadismo”, na comparação com a política truculenta aplicada pelo Estado Islâmico, e fortalecendo a aproximação com o imperialismo na Síria. Jabhat al-Nusra, a filial da al-Qaeda na Síria, não é considerada uma organização terrorista pelos Estados Unidos e a União Europeia, o que abriu caminho para receber apoio financeiro, militar e logístico.

A política de aproximação ou de acordos entre a al-Qaeda e o imperialismo não representa nenhuma novidade. A origem data da luta contra a invasão do Afeganistão pela União Soviética, em 1979. Após a retirada da União Soviética do Afeganistão, aconteceu um distanciamento que acabou refletindo na escalada dos ataques terroristas em vários países.

Os atentados de setembro de 2001, em Nova Iorque, serviram como motivador da política promovida pela ala direita do imperialismo norte-americano, a chamada “guerra ao terror”. Na base, se encontrava a tentativa de dar sobrevida às políticas neoliberais que apresentavam sérios sinais de esgotamento.

As derrotas militares no Afeganistão, e principalmente no Iraque, jogaram esses planos por terra e aceleraram o colapso capitalista, que aconteceu em 2008.

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A partir de 2002, a al-Qaeda tem se encontrado acuada. Osama Bin Laden foi transformado numa espécie de demônio pela propaganda do imperialismo, e numa espécie de herói para a maioria dos povos árabes. Mas o certo é que, apesar da propaganda demagógica em relação ao assassinato do “inimigo número 1” da “democracia”, ele se encontrava escondido no Paquistão, provavelmente contando com a proteção dos serviços de inteligência do país e, o que é mais importante, sem nenhuma atuação importante. Enquanto a al-Qaeda se paralisava, o “jidahismo islâmico” ganhava novo fôlego com o Estado Islâmico a partir do Iraque, em 2006.

O Estado Islâmico tem se convertido na principal ameaça para a existência da al-Qaeda, ameaçando implodir a capacidade de recrutamento, retenção dos militantes e a capacidade de financiamento.

Em muitos casos, tanto um como o outro, têm funcionado como guarda-chuvas para a atuação de grupos locais, sem uma atuação centralizada. A recente declaração do Boko Haram nigeriano, no sentido da adesão ao Estado Islâmico e da mudança do nome para Wilayat al Sudan al Gharbi, não significa que Abubakar Shekau perdera o controle sobre a organização nem que serão enviados recursos para a Nigéria em larga escala. Mas a ameaça e o potencial estão colocados para um futuro onde a concentração das atividades seja expandida a partir da Síria e do Iraque.

O talibã paquistanês, Tehrik-i-Taliban, rejeitou publicamente o Estado Islâmico, contra a tentativa de um grupo paquistanês menor, que aconteceu em janeiro.

O que representa a Jabhat al-Nusra, a al-Qaeda na Síria?

Em alguns países, como o Paquistão, o Iêmen e a Argélia, as filiais da al-Qaeda continuam sendo mais poderosas que as do Estado Islâmico.

Jabhat al-Nusra se tornou uma das principais forças na guerra civil na Síria, por causa do apoio direito do imperialismo e das potências regionais, após ter liquidado em termos militares o mais moderado Harakat Hazm, que contava com o mesmo apoio.

A nova política, “mais democrática”, da al-Qaeda foi colocada em prática em Idlib, onde al-Nusra derrotou o exército. Ao invés de aplicar a Sharia, foi colocado em pé um governo de colaboração com os grupos aliados, que controla quase toda a província. Essa frente única se prepara para avançar em três direções: Latákia, Hama e Aleppo.

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A essas vitórias se somam as de aliados mais poderosos, como Jaish al-Fatah, que é financiado abertamente pelo imperialismo. Ao mesmo tempo que a al-Qaeda se fortalece, existe a possibilidade de um novo racha, com a liderança central, com o objetivo de possibilitar uma maior aproximação com o imperialismo na busca de apoio.

O envolvimento aberto do Catar ficou evidente quando, há poucas semanas, a rede de televisão Al Jazzera, controlada pelo próprio governo do Catar, levou ao ar dois programas especiais com uma entrevista de Abu Mohammad al-Golani, o líder da al-Nusra, que foi amplamente divulgada e no formato de um chefe de estado.

Al-Golani declarou a subordinação ao líder da al Qaeda Ayman al-Zawahiri pela Jabhat al-Nusra e os aliados do Jaish al-Fatah.

A al-Qaeda também se aproxima do imperialismo no Iêmem e no Mali

Uma política semelhante está sendo colocada em prática no Iêmen. A Arábia Saudita concentrou os ataques sobre os Houthis e as forças leais ao antigo presidente Ali Abdullah Saleh, que são os principais adversários da al-Qaeda. Desta maneira, a al-Qaeda ganhou fôlego e conseguiu controlar a província de Hadramawt. A política aplicada nesta província segue os mesmos moldes da aplicada por al-Nusra na Síria: “baixa intensidade” e nada de Sharia. Exatamente o oposto do que o Estado Islâmico tem feito e exatamente o mesmo que a Al-Qaeda também tem feito nas regiões do norte do Mali. Com esta política, tem conseguido o apoio de líderes tribais para combater o exército sírio e os Houthis no Iêmen. No primeiro caso, tem se beneficiado do apoio da aviação norte-americana. No segundo, do apoio da aviação saudita.

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Apesar de alguns ataques realizados com drones contra alguns alvos em Mukalla, a capital de Hadramawt, o controle da província não tem sido afetado. Representantes dos chamados Filhos de Hadramawt, a organização que a al-Qaeda criou para governar a província com outros grupos aliados, têm realizado frequentes viagens a Riyadh na busca do apoio saudita.

É possível uma fusão entre a al-Qaeda e o Estado Islâmico?

As principais divergências entre a al-Qaeda e o Estado Islâmico aparecem claramente nas “Diretrizes Gerais para a Jidah”, escrita por al-Zawahiri, o líder geral da al-Qaeda, publicada em setembro de 2013.

Enquanto a al-Qaeda orienta a evitar ataques contra os xiitas e outras “seitas desviadas”, Ismailis, Qadianis, Sufis e Drusos, o Estado Islâmico considera essas minorias como hereges e que, portanto, deveriam ser eliminadas. No dia 20 de março, homens-bomba assassinaram 142 houthis em Sanna, a capital do Iêmen, além de terem ferido outras centenas.

A al-Qaeda orienta a evitar ataques contra cristãos, sikhs e comunidades hindis que vivam nas regiões muçulmanas. Os ataques do Estado Islâmico têm sido uma constante.

Essas diferenças têm existido desde 2004, quando a organização liderada por al-Zarqawi se juntou com Jamaat al-Tawhid, dando origem à organização que esteve na base da formação do atual Estado Islâmico.

A al-Qaeda tem chamado a participar das manifestações de massa contra os “regimes opressores”, tal como o fez no Egito e na Tunísia por exemplo. O direcionamento dos ataques deveria ser orientado contra o imperialismo norte-americano e a “aliança dos cruzados”. O Estado Islâmico nunca conduziu atentados contra alvos fora da região, fora da Síria, Iraque e Jordânia.

A al-Qaeda tem tentado promover uma espécie de foquismo, “despertar as massas por meio de ataques focados”. O Estado Islâmico tem procurado seguir o exemplo do profeta Mahommed, criar um “califato” que sirva como ponto de partida “para a conquista do mundo”.

O crescimento da al-Qaeda na Síria e no Iêmen tem acontecido em cima do apoio do imperialismo e da Arábia Saudita, o que aumenta ainda mais as contradições. Somente em casos de menor relevância grupos menores ligados a um ou outro têm atuado em conjunto, principalmente em regiões de combates periféricos, como Yarmouk, na Síria, mas mesmo assim longe de uma possível fusão.

As contradições ideológicas entre a al-Qaeda e o Estado Islâmico têm crescido em cima do enfrentamento político e militar. Representam duas políticas diferentes em relação à aproximação com o imperialismo. Por esse motivo, neste momento, parece bastante difícil que esse grupos se fundam.

Mas, conforme a crise se aprofundar e, principalmente, a partir de mudanças na política do imperialismo, a situação pode evoluir para uma radicalização maior. Dos grupos que hoje são mantidos sobre um certo controle do imperialismo, podem surgir rachas e evoluções. Neste sentido, um fator importante, que deverá ser analisado no próximo período, são as várias eleições que aconteceram na Europa e, principalmente, as eleições nos Estados Unidos, do próximo ano, onde a ala direita do imperialismo, que hoje já controla as duas câmaras do Congresso, deverá sair vitoriosa.


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