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kurdsSíria - Diário Liberdade - Quais são as forças que se enfrentam na Síria? – Os Curdos


Foto: jan Sefti (CC BY-SA 2.0)

[Alejandro Acosta] As unidades milicianas curdas do YPG (Unidades de Proteção do Povo Curdo) têm se fortalecido no norte da Síria. O YPG controla a maior parte do nordeste sírio. Trata-se de uma milícia bem armada e organizada, e que conta com amplo apoio de massas.

O Curdistão foi desmembrado após a Primeira Guerra Mundial em quatro partes principais que estão localizadas em quatro países – Turquia, Síria, Iraque e Irã. Na Turquia, ocupa a região de Anatólia Oriental.

Após terem tomado o vilarejo de Suluk, desde o dia 15 de junho, o YPG tomou o vilarejo fronteiriço de Tal Abyad e a base militar conhecida como Brigada 93, localizada perto do povoado de Ayn Issa e que se encontrava nas mãos do Estado Islâmico desde agosto. O YPG contou com o apoio da aviação norte-americana.

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Pela primeira vez, os curdos sírios conseguiram unir os três territórios, que controlam, na fronteira com a Turquia. Agora os territórios curdos de Kobane e Kasakah ficaram conectados.

A distância a Raqaa, a principal concentração do Estado Islâmico na região, é de apenas 50 quilômetros. Trata-se da primeira linha de defesa e uma rota de extrema importância no suprimento de novos recrutas estrangeiros a partir da Turquia.

De acordo com a UNHCR, o organismo das Nações Unidas, mais de 220 mil pessoas têm sido mortas na Síria nos últimos cinco anos e 22 milhões têm sido obrigadas a abandonarem seus lares.

O ESL (Exército Sírio Livre), que conta com o apoio do imperialismo, também tem avançado no norte da Síria com o apoio do YPG. Mas um dos integrantes, Jaish al-Fateh, não conseguiu repetir as vitórias relativamente fáceis de Quneitra, na fronteira com o Golan. A ofensiva de Ghab enfrentou enorme resistência do exército por causa das tropas que foram realocadas a partir de Damasco.

As contradições são enormes e crescem a cada dia. No nordeste da Síria, o YPG se enfrentou com as tropas do exército em Qamishli, apesar dos acordos com o governo de al-Assad.

Kobane: o ponto de virada dos curdos

Quando o Estado Islâmico tomou duas cidades curdas no norte do Iraque, Zumar e Sinjar, na região de Mossul, mais de 200 mil pessoas foram expulsas, sendo obrigadas a fugirem. Essas foram as primeiras derrotas dos curdos iraquianos desde que o Estado Islâmico começou a avançar, em 10 de junho do ano passado, tomando várias cidades do norte do Iraque rapidamente, até chegar em Samara, a 60 Km da capital, Baghdad. Com a tomada dessas cidades, os curdos da Síria e da Turquia se uniram aos curdos iraquianos para combater o Estado Islâmico.

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Em Kobane, a cidade curda que faz fronteira com a Turquia, após quatro meses de combates acirrados, os curdos aplicaram a maior derrota sofrida pelo Estado Islâmico desde que entrou no conflito em 2013, na qual teria perdido mais de 1.000 combatentes. O YPG contou com o apoio da aviação norte-americana, que foi um importante fator que desequilibrou os combates, e dos curdos iraquianos, que, nos últimos anos, têm colaborado estreitamente com a Turquia e o imperialismo.

Kobane representou o ponto de virada dos curdos sírios, em primeiro lugar, porque abriu caminho para o avanço nas regiões do norte da Sïria permitindo conectar os bolsões existentes na fronteira com a Turquia. Ao mesmo tempo que se fortaleceu a política de colaboração com o imperialismo, as contradições avançam. Há receio em relação à experiência dos conselhos populares que contam com grande poder no Curdistão Sírio. A participação dos curdos iraquianos busca fortalecer a ala direita dos curdos sírios.

O governo autônomo curdo – na Síria

Desde julho de 2012, o PYD (Partido da União Democrática) e o Conselho Nacional Curdo passaram a controlar o Curdistão Sírio, que, até recentemente, estava composto por três áreas separadas: Cizîr, Kobane e Efrîn. As YPG (Unidades de Defesa Popular), se formaram em cima de milícias populares, dirigidas pelo PYD que mantém estreitas ligações com o PKK (Partido dos Trabalhadores) turco,que é dirigido por Ocalan. Ocalan, mantido preso há 15 anos na Turquia, se encontra na linha de frente das negociações com o governo de Erdogan. Um ponto que chama a atenção nessas negociações é que o PKK abriu mão da independência, para, no lugar, levantar a bandeira da "autonomia". Mas as contradições não conseguem ser contidas conforme a crise avança na Turquia.

Desde maio de 2013, a Frente al-Nusra (a al-Qaeda na Síria) e o Estado Islâmico começaram a se enfrentar com os curdos e as milícias do YPG.

A implementação das políticas neoliberais pelo regime nacionalista sírio de al-Assad, já em decadência nos últimos 15 anos, antes da guerra civil, levaram a privatizações em larga escala e a que 70% da economia passasse a depender do chamado setor de serviços – o imobiliário, o turismo, os bancos e o comércio. O empobrecimento das massas trabalhadoras, enquanto a minoria no poder se enriquecia, e, fundamentalmente, a disparada dos preços dos alimentos e da energia, estão por trás dos fatores que levaram ao estouro das revoltas populares em 2011. Mas, rapidamente, o imperialismo, as monarquias reacionárias que controlam a região, a Turquia, a al-Qaeda e o Estado Islâmico controlaram as revoltas, se infiltraram e se envolveram numa luta fratricida.

Perante a desagregação do regime sírio e as ameaças turcas na fronteira, emergiu, no norte da Síria, o governo autônomo do Curdistão que passou a controlar, rapidamente, as principais cidades do norte do País - Qamishlo, Afrin (norte de Aleppo), Ayn al Arab, Darbasiya, Amuda e Derik. O governo autônomo se posicionou contra as posições pró-imperialistas do CNS (Conselho Nacional Sírio) e o governo da Turquia. Foram formados conselhos e milícias populares.

O PYD (Partido da União Democrática), que controla de maneira hegemônica a região, é aliado próximo do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que tem forte atuação na Turquia, desde 1984, conta com apoio de massas e é a base de um partido político legal que tem representação parlamentar. Também participam grupos minoritários que contam com o apoio do Curdistão do Iraque.

O governo de al-Assad apoiou veladamente o governo autônomo curdo, como um mal menor, na tentativa de contrapô-lo à Turquia e ao avanço dos guerrilheiros islâmicos na região. Por exemplo, foi concedida a nacionalidade síria a 300 mil curdos, que era uma reinvindicação histórica, autorizou a volta do líder do PYD do exílio e libertou 600 presos políticos do PYD.

O governo autônomo curdo – no Iraque

A contra-ofensiva do governo iraquiano pela reconquista de Ramadi começou no dia 26 de maio. No dia 10 de junho, o presidente norte-americano Barak Obama autorizou o envio de 450 especialistas militares, adicionais aos 3.000 já existentes, ao Iraque, que foram alocados em Al Habbaniyah, na Provincia de Anbar, a partir de onde foi preparada a contra-ofensiva sobre Ramadi com dezenas de milhares de milicianos xiitas.

No Norte do Iraque foi estabelecido um governo autônomo, após a invasão norte-americana no país, presidido por Massoud Barzani, que é controlado pelo imperialismo norte-americano e pela Turquia.

No final da primeira Guerra do Golfo, tinham ocorrido revoltas curdas no Norte e revoltas xiitas no Sul. Apesar de pesadas baixas, os Peshmerga, os combatentes do PDK, conseguiram repelir as tropas do exército de Saddam Hussein, ajudadas pela zona de exclusividade aérea estabelecida pelos norte-americanos e implantaram, de fato, o governo autônomo regional curdo no Iraque. O referendo pela independência, anunciado para junho de 2014, acabou não acontecendo devido ao avanço do Estado Islâmico.

As relações do governo central de Bagdá, de maioria xiita, com o Curdistão Iraquiano, continuam contraditórias. No mês de maio, o governo Iraquiano enviou US$ 430 milhões à região autônoma, apenas a metade do que deveria ter sido enviado. Segundo o ministro das Finanças iraquiano, Hoshyar Zebari, a razão seria que o governo curdo não teria enviado o montante de petróleo acordado.

Em dezembro, houve um acordo entre os governos de Bagdá e Arbil, pelo qual os curdos passaram a fornecer 500 mil barris de petróleos diários em troca da retomada dos repasses de Bagdá que foram suspendidos em 2014.

Apesar do governo do Curdistão buscar a independência e exportações por fora do controle do governo de Bagdá, o avanço do Estado Islâmico tem levado ao fortalecimento de uma frente.

No dia 7 de junho, o exército recapturou a cidade de Beiji, localizada na província de Salahuddin, que se encontrava nas mãos do Estado Islâmico, que acabou recuando para Mosul. No mesmo dia, o primeiro-ministro iraquiano, al-Abadi, e o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, acordaram expandir a cooperação militar, econômica e diplomática, com foco no fornecimento de tecnologia militar, a cooperação para o “combate ao terrorismo” e nos setores de petróleo e gás natural.


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