A população de Gana se mostrou dividida nesta sexta-feira (08/01) com a vinda de dois iemenitas presos em Guantánamo há quase 14 anos na base naval norte-americana em Cuba.
Nas próximas horas, os dois detentos chegarão à capital do país africano, Acra. Na última quarta (06/01), eles foram libertados pelo governo dos EUA e enviados ao território ganense, em um acordo com as autoridades locais. A transferência de ambos havia sido aprovada em 2010.
Segundo o site GhanaWeb, uma parcela dos cidadãos da capital está apreensiva com a chegada da dupla, pois creem que o país se coloca como um alvo do terrorismo ao recebê-los. Outra parcela, contudo, acredita que receber Mahmud Umar Muhammad bin Atef e Khalid Muhammad Salih al-Dhuby poderá ajudar a reputação de Gana perante a comunidade internacional.
O Ministério das Relações Exteriores de Gana afirmou que eles poderão permanecer no país durante dois anos, segundo a Associated Press. A pequena nação da África Ocidental também receberá dois prisioneiros de Ruanda, julgados pelo Tribunal Criminal Internacional para Ruanda — que julga os crimes cometidos durante o genocídio do país, em 1994.
Tanto Atef quanto Dhuby não foram autorizados a voltar para o Iêmen devido à guerra civil que afeta o país desde março do ano passado. Os dois foram classificados como “membros prováveis” da Al Qaeda, mas foram definidos pelas autoridaes norte-americanas como “de baixo risco”. O embaixador ganês entrevistou os dois antes de aprovar a transferência.
“Os EUA agradecem o governo de Gana por seu gesto humanitário e disposição em apoiar os contínuos esforços dos EUA para fechar a prisão da Baía de Guantánamo”, declarou em nota um porta-voz do Pentágono
Um terceiro detento, Faez Mohamed Ahmed Al-Kandari, do Kuwait, também teve sua transferência autorizadas. Ele embarcará para seu país de origem nesta sexta-feira (08/01), informou o Pentágono, onde será solto.
Detentos de Guantánamo
Com a saída dos iemenitas e do kuwaitiano, Guantánamo ainda possui 104 presos, dos quais 31 já tiveram suas transferências liberadas e estão esperando acolhida. Além de Atef e Dhuby, outros 14 detentos na base naval norte-americana devem ser liberados até o fim de janeiro.
Após a liberação do trio, a Anistia Internacional veio à público criticar a atitude norte-americana. “A administração dos EUA está esperando que outros países façam o que eles próprios se recusam a fazer, apesar de serem a autoridades, este país que criou esse problema em primeiro lugar”, disse à Deutsche Welle, Rob Freer, pesquisador da organização de direitos humanos .
“Os EUA são responsáveis por isso e não fizeram tudo o que poderiam ter feito para acabar com esta injustiça”, completou.
Há anos, o presidente norte-americano, Barack Obama, vem tentando fechar Guantánamo, uma das suas principais bandeiras eleitorais. Sem o apoio do Congresso de maioria republicana, ele não conseguiu sequer autorizar a transferência de detentos para prisões dentro de seu território nacional, recorrendo a outros países.