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010115 dtaEstados Unidos - Palavra Operária - No dia 29 de dezembro o conselho editorial do New York [Tatiana Cozzarelli] Times publicou um editorial que se chamava "Desperdiçado o respeito à polícia nos ataques feitos a De Blasio". De Blasio é o prefeito de Nova Iorque. Esta crítica pública do mais importante jornal burguês norte-americano ocorre em momento de crescente polarização entre aqueles que criticam à violência policial e uma polícia que reafirma que atuou corretamente em cada um dos casos que tem sido criticados como "violência policial".


O objetivo deste importantíssimo jornal com este editorial é de conter os ânimos dos policiais críticos à De Blasio, e assim buscar um caminho que ao mesmo tempo que assuma muito limitadamente as críticas à instituição a preserve e fortaleça. O Times sabe que a polícia é estratégica e ela não pode ter a aparência de ser reacionária, mas sim supostamente “neutra”, “cumpridora das leis”. Ao fazer estas críticas o jornal esta reconhecendo indiretamente que o terreno “moderado” justamente no país da suposta não-radicalização está encolhendo e cresce a polarização.

A polícia passou da correlação de forças?

Na última semana a Polícia de Nova Iorque (NYPD na sigla em inglês) e especialmente seu sindicato, a “Associação Benevolente dos Patrulheiros”, partiu para o ataque depois da morte de dois policiais. Estes policiais foram mortos por um homem que matou sua namorada em Baltimore e depois pegou um ônibus para Nova Iorque, e após quatro horas de viagem matou estes policiais. O atirador escreveu em uma rede social que teria agido assim para vingar Michael Brown (morto pela polícia em Ferguson, Missouri) e Eric Garner, na própria Nova Iorque. Também veio a público que o atirador, Ismaaiyl Brinsley tinha instabilidades psicológicas – tendo tentando se suicidar um ano antes e estava sob tratamento psiquiátrico.

Sem levar em consideração estas informações sobre o atirador o sindicato da NYPD partiu para a ofensiva, acusando os manifestantes e sobretudo os políticos pela morte dos policiais. Patrick Lynch, dirigente da Associação Benevolente dos Patrulheiros anunciou à TV que o prefeito Bill de Blasio “tinha sangue em suas mãos” por ter “apoiado” os manifestantes. O ex-governador do estado de Nova Iorque, George Pataki, por sua vez atacou o Procurador Geral do Estado, Eric Holder, afirmando que estes assassinatos eram um “resultado previsível de uma retórica da divisão e anti-policial” por parte daquele procurador. O ex-comandante da polícia, Ray Kelly, colocou a culpa dos assassinatos no debate público sobre a medida de “stop and frisk” (“pare e reviste”, uma autorização à polícia para arbitrariamente parar qualquer pessoa, mas, evidentemente, isto afeta sobretudo os negros e latinos) nas eleição para a prefeitura da cidade. Estas diferentes declarações são todas elas parte de uma pressão que a polícia está fazendo ao governo e à burguesia para que ela seja defendida sem reservas contra os manifestantes. A polícia quer que as manifestações sejam criticadas e que não se reconheça a validade das críticas.

Esta ofensiva da polícia e seus apoiadores mais incondicionais pode ser entendida como uma tentativa de aproveitar a comoção com a morte dos policiais para consolidar suas posições e “contra-atacar”. No entanto este tiro parece estar saindo pela culatra.

De Blasio apoiava as manifestações e ninguém sabia? 

Ao contrário das críticas da polícia, o prefeito De Blasio sempre teve uma posição moderamente conservadora em relação às manifestações. Ele sempre reafirmou “a coragem” da polícia e o direito dos manifestantes devido a liberdade de expressão. É esta retórica que está sendo atacada como sendo “de apoio aos protestos”. Além disto o prefeito também é alvo de críticos por ter, supostamente, deixado as manifestações irem longe demais ao ter permitido que elas frequentemente fechassem importantes rodovias, e inclusive por ter ocorrido alguns danos a propriedade privada nestas manifestações.

Segundo uma parte dos críticos do prefeito ao permitir estas situações isto teria levado diretamente ao assassinato dos policiais. O motivo seria a lógica conhecida como “teoria da vidraça quebrada” – onde uma vidraça quebrada leva todo um bairro a degenerar, seguindo o mal exemplo. Esta teoria tem sido usada como justificativa para intensificar a repressão a crimes de menor importância, como posse de drogas, como maneira de “conter” crimes maiores, e é responsável para um aumento sem precedentes nas prisões e detenções de “pessoas de cor” (negros e latinos). O prefeito De Blasio apoia esta teoria, bem como também apoia o policiamento (e repressão) reforçado nos bairros de moradores “de cor”. Entretanto o prefeito assumiu uma posição de alterar a controversa política de pare e reviste, esta posição foi um dos aspectos centrais de sua campanha eleitoral.

Apesar de ter defendido o direito (constitucional) de se manifestar, o prefeito logo após as mortes veio a público chamar os manifestantes a darem uma pausa nos protestos em respeito aos policiais mortos. Seu chamado não foi atendido. Centenas continuaram se manifestando em Nova Iorque, e a importante Quinta Avenida foi bloqueada por um protesto, apesar do chamado do prefeito e também a despeito da proximidade do natal. Mas mesmo com esta guinada à direita do prefeito isto não o poupou das críticas da polícia. E esta crítica tem se expressado de muitas maneiras, não só nas declarações que ele teria “sangue em suas mãos”, o prefeito foi vaiado durante uma cerimônia de graduação de policia e no enterro de um dos policiais mortos milhares de policiais presentes viraram de costas para o prefeito.

O que quer o Times?

O editorial do Times advertiu a polícia que suas ações estariam minando a credibilidade da própria NYPD. O editorial defende a polícia como instituição, e argumentava como é difícil ser um policial, e também afirmava que a campanha contra De Blasio estava construída em cima de uma ideia que a força policial só pode ser reverenciada e nunca objeto de reflexão e reforma.

Este editorial é um chamado aos membros da NYPD a se comportarem de modo a manter sua imagem e reputação. Este editorial, crítico, nunca fala que deveria acabar o policiamento racista nem o assassinato de negros pela polícia, mas somente tomar cuidado com a imagem e reputação. O centro de seu argumento é que ao atacar De Blasio, a polícia teria ido demais à direita e assim atrapalhado em aproveitar a conjuntura com a comoção pela morte dos policiais para conter as manifestações e críticas.

O artigo longe de condenar a violência policial, ou mesmo de buscar reformas na força policial procura conter o crescimento na reação de direita às manifestações massivas contra a violência policial. O assassinato dos policiais estava fadado a ser utilizado para desviar o debate da violência policial a uma visão de “como é difícil ser policial”, e assim criar um terreno intermediário no debate que tem se polarizado, e convencer muitos que ser críticos à violência policial podia levar a mortes. Neste sentido estratégico o New York Times não diverge do sindicato dos policiais, porém a forma de avançar a esta posição seria para este jornal através da humanização das forças policiais e assim recuperar sua imagem. Porém as ações da polícia atrapalharam este plano ao atacar os políticos e por buscar se colocar acima de qualquer crítica. Esta posição da polícia jogou mais gasolina no fogo da polarização e ao contrário de erguer uma ponte aumentou a divisão de um país que está aos poucos tendendo a se distanciar do centro e a caminhar a polarização.

Uma imagem deteriorada

A direitada dos “casacos azuis” (como são conhecidas as forças policiais de Nova Iorque) parece ter sido um tiro que saiu pela culatra. A própria necessidade desta direitada e não uma postura defensiva, mostram quão encurraladas e na defensiva estão as polícias na opinião pública. A falha do ataque dos policiais mostra também como o que tem mudado nos EUA e se expressado nas manifestações pós-Ferguson são um sinal de mudanças duradouras, para além de conjunturas, como a que foi aberta com o assassinato dos policiais.

O tiro pela culatra da Associação Benevolente dos Patrulheiros atinge não só este objetivo da burguesia em reconquistar respeito a sua força repressiva, mas continua a queimar a imagem de uma instituição que a burguesia norte-americana gasta bilhões em erguer no mundo todo como um exemplo de polícia cidadã, respeitadora das leis e eficiente, como se vê em numerosos seriados mundialmente famosos como CSI, Law and Order, Blue Bloods, entre outros. A imagem mundial é crescentemente do enforcamento de Eric Garner e não da detetive Oliva Benson de Law and Order.


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