Qualquer cidadão são é apto para a guerra: caso se oponha, só lhe resta a prisão. "Nenhuma comissão médica nos examinou. Eu tenho pneumonia, mas me disseram que estou bem, e aqui estou", comentou à RT um dos recrutas.
As numerosas testemunhas confirmam que os recrutas não estão dispostos a lutar contra a população civil e que não vêm sentido algum em pegar em armas. "São classificados como voluntários, mas eles não são voluntários. Não querem disparar contra a população, mas lhes dizem que, se não fizerem isso, serão condenados a cinco anos de prisão", disse um cidadão.
Os soldados ucranianos que participam da chamada "operação contra o terrorismo" – segundo Kiev denomina sua operação militar no Sudeste – asseguram que nunca viram um verdadeiro terrorista. "No Exército existem pessoas sensatas que não querem derramar o sangue do povo. Nos enganaram. Durante o tempo em que estou aqui não vi os terroristas nem os chechenos, só mulheres e crianças, pessoas comum que tentam sobreviver", insiste o major-tenente Stanislav Vecherok.
No entanto, o atual ministro do Interior, Arsen Avakov, considera da seguinte maneira: sua meta é recrutar mais soldados para que caçem terroristas no leste da Ucrânia. "Tomei a decisão de que 100% das unidades de combate e patrulhas do Ministério do Interior farão parte de uma operação antiterrorista. Não é só uma necessidade, mas uma prova de utilidade profissional e patriotismo. Todos os que pensavam que não fariam nada ou os que querem se esconder que ponham por favor sua renúncia sobre minha mesa", insistiu. Kiev chegou a mobilizar inclusive a unidade presidencial, que normalmente só está presente nos atos solenes.
A oposição aos métodos das novas autoridades se reproduz cada vez em um maior número de regiões. Assim, os estudantes da cidade de Odessa se indignaram pela obrigação de recrutamento. Os habitantes de Lviv também se negaram a servir às tropas. Em Melitopol os pais bloquearam a unidade militar e impediram o envio dos seus filhos à zona de conflito. Uma situação parecida aconteceu também em Ivano-Frankovsk.
Essa oposição é aproveitada pelos cidadãos com ideologia de extrema direita ou com antecedentes penais. Devido à falta de interesse de muitos por se somar às filas militares, agora aqueles não podem ser impedidos de ingressar no Exército, uma situação que só pode fazer com que aumente o derramamento de sangue, segundo analistas. "A permissão de radicalizar o Exército desembocaria em um conflito muito mais violento, muito mais sangrento", adverte Orlando Pérez, diretor do diário equatoriano 'El Telégrafo'.