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200812 adosÁfrica do Sul - Diário Liberdade - [Mário Maestri] África do Sul. Quinta-feira , 16 de agosto. Marikana, a cem quilômetros de Joanesburgo, a capital econômica do país. Por ordem de governo negro, policiais e oficiais negros, fortemente armados, massacram negros maltrapilhos.


No total, quase quarenta mortos, uma centena de feridos, trezentos presos. Tudo por exigência da mineradora britânica Lonmin, devido à greve de três mil mineiros, iniciada em 10 de agosto. Comanda o movimento por salários dignos central classista em dissidência com o sindicato governamental colaboracionista.

Não são negros matando negros, como sugere maldosamente jornalistas da imprensa nacional e mundial. Sequer tropeço, mesmo grave, do atual presidente Jacob Zuma, do Congresso Nacional Africano de Nelson Mandela, que lembraria “outra época”, ou seja, os “tempos do apartheid”.  Na África do Sul, no essencial, segue tudo como d’antes, nesse também triste quartel de Abrantes. À exceção de mudanças de cor no mundo político que terminaram paradoxalmente resultando na exacerbação da já mais que centenária exploração da riquezas e da população trabalhadora do país.

Em 1994, na África do Sul, após lutas heróicas, o fim do terrível sistema do apartheid deu-se com a transação do grande capital imperialista com a direção do CNA, comandada por Mandela. O acordo foi e seguiu sendo apoiada pela grande central sindical de trabalhadores – COSATU – e pelo Partido Comunista Sul-Africano. O governo seria escolhido pelo princípio de um homem, um voto, que entregaria o governo da África do Sul a políticos negro-africanos. E a ordem econômico-social manteria-se imutável, sob a proteção do novo Estado negro. Por trilhas semelhantes seguiram Angola e Moçambique, onde o movimento nacional de liberação vencera pelas armas.

As direções e os militantes do CNA que se opuseram à traição da heróica luta pela liberdade democrática social do país foram alijados ou marginalizados. Expressão excelente dessa resistência derrotada foi Winnie Mandela. Ela foi caluniada, perseguida e, em 1992, perdeu a posição de esposa de Nélson Mandela, transformado em ícone de movimento mais e mais esvaziado de seu conteúdo original. Ainda hoje, setores marginais do CNA exigem sem repercussão ao menos a nacionalização das riquezas  minerárias país.

A nova ordem abriu espaço à progressão de burocracia política e sindical, parte de nova classe média e de frágil burguesia negras, apoiadas em desbragada corrupção pública.  O CNA e seus aliados garantiram a continuidade da exploração internacional das imensas reservas minerárias de ouro, platina e carvão, em condições melhores do que durante o apartheid, à custa da manutenção da exploração histórica dos trabalhadores.

Após os primeiros anos de escasso crescimento econômico, devido política de austeridade liberal, sob a presidência de Nélson Mandela, o CNA e seus aliados buscaram o crescimento e investimentos internacionais através da aplicação das receitas neoliberais: privatizaram bens públicos; cortaram gastos sociais; restringiram as leis trabalhistas, etc. Setores como a moradia, a segurança, a saúde, a alimentação das classes populares atingiram níveis calamitosos. Atualmente, o desemprego e a miséria profunda atingem quarenta por cento da população.

Desde 2002, a expansão dos preços das matérias primas garantiu crescimento econômico que jamais alcançou as grandes massas populares. A alta taxa de desemprego ensejou movimentos xenófobos contra trabalhadores emigrantes chegados dos países vizinhos, que resultaram em verdadeiros pogroms racistas. Em maio de 2008, mais de 20 mil trabalhadores emigrantes, sobretudo moçambicanos, abandonaram suas casas à procura de refúgio – meia centena teria sido massacrada.     Com a crise econômica internacional e dilapidação crescente do antigo patrimônio político, a nova direção política, que se manteve no poder sobretudo devido ao seu antigo prestígio, vê-se obrigada a lançar mão crescentemente da repressão.

Também na África do Sul, os trabalhadores defrontam-se mais e mais, face a face, com seus exploradores, sem as máscaras das fantasmagorias raciais.

Mário Maestri, 64, historiador, é professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF. 


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