Bandeira do Hizbollah sobre uma peça de artilharia abandonada. Foto: Paul Keller (CC BY-NC 2.0)
[Alejandro Acosta] No dia 4 de maio, grupos guerrilheiros liderados por Jabhat al-Nusra (a al-Qaeda na Síria, apoiada pelo imperialismo) atacaram o exército e a milícia libanesa Hizbollah na fronteira com o Líbano, perto dos povoados de Kfeir, Zabadani, Serghaya e Hreira, como resposta aos ataques nas montanhas ocidentais de Qalamoun.
No dia 13 de maio, o Estado Islâmico capturou o estratégico vilarejo de Al-Sukhnah, localizado na província de Homs, perto da rodovia que conduz à província de Deir el-Zour, em pleno deserto, ao leste de Homs.
No mesmo dia, após terem tomado várias posições no mês de maio, o Hizbollah tomou Talit Moussa o pico mais alto da região de Qalamoun, a partir de onde o exército monitora as movimentações na região.
Leia também:
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte I)
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte II)
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte III)
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte IV)
No dia 14 de maio, o exército e o Hizbollah conseguiram controlar as estratégicas montanhas de Jabal al-Barouh, por onde passa a rodovia que une a fronteira do Líbano com Damasco, a capital da Síria, e a também estratégica cidade de Homs. No mesmo dia, Jabhat al-Nusra foi derrotada na região ocidental de Qalamoun.
De acordo com algumas fontes, o Hizbollah estaria mobilizando para a Síria em torno de mais 15 a 20 mil novos milicianos.
Por que o Hizbollah se envolveu na Guerra Civil na Síria?
O crescente envolvimento do Hizbollah na guerra civil na Síria se relaciona com a própria sobrevivência do Líbano e, principalmente, da população xiita que habita o Líbano. Se a Síria cair nas mãos do Estado Islâmico ou dos outros grupos guerrilheiros, mesmo tratando-se de partes do território, o próximo alvo, inevitavelmente, será o Líbano.
O Hizbollah se encontra sobre a influência do regime dos aiatolás iranianos, de quem recebe apoio militar e econômico. Mas não representa uma simples marionete nas mãos dos aiatolás. O Hizbollah conta com um forte apoio de massas, principalmente no sul do Líbano, onde os xiitas são a maioria da população. Participa do governo, inclusive com ministros, conta com uma forte imprensa própria e controla vários programas sociais, que fortalecem o apoio popular.
Leia ainda:
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte V)
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VI)
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VII)
Síria: o Oriente Médio em chamas (Parte VIII)
A milícia está fortemente armada. Possui grande quantidade de mísseis, artilharia pesada, drones, unidades de homens-bomba e enorme experiência militar. Em 2006, o Hizbollah derrotou a tentativa do exército sionista de controlar militarmente o sul do Líbano, o que catapultou a influência política. Nasrah Nasrallah, o líder da milícia e do partido, é considerado um herói pelos xiitas. Nasrallah se considera um discípulo de Ali Kamenei o líder espiritual dos xiitas iranianos.
O aprofundamento da crise no Oriente Médio tem levado ao acirramento da luta contra o imperialismo e os sionistas. A reação mundial levantou a bandeira vermelha quando o Irã e o Hizbollah passaram a apoiar o Hamas palestino, uma milícia sunita. A liquidação do Hizbollah representa um dos alvos da reação. E o direcionamento dos “seus” grupos guerrilheiros contra o Líbano faria parte desses planos.
O Hizbollah representa um dos bastiões da luta anti-imperialista no Oriente Médio, junto com a luta dos palestinos e dos curdos pela autodeterminação. No Iraque, as milícias xiitas derrotaram a invasão norte-americana em 2007 e agora reaparecem no primeiro cenário da situação política como a única força capaz de conter o Estado Islâmico, e dirigidas diretamente pela Guarda Republicana iraniana.
Quando os grupos sunitas e xiitas se unem na luta contra o imperialismo e seus agentes, apesar da camuflagem do discurso religioso, é a dominação imperialista que está sendo colocada em xeque, e, como consequência, o coração do sistema capitalista mundial se enfraquece.