Poster soviético dedicado ao 5º aniversário da Revolução de Outubro, 1922. (CC BY-SA 3.0)
Onde está a esquerda revolucionária na Síria?
Uma parte considerável da esquerda mundial despreza o conflito na Síria alegando que não existe um partido revolucionário, operário, e que se trata “apenas” de uma briga entre potências regionais e imperialistas.
Se bem é verdade que não existe uma esquerda revolucionária de peso e com apoio de massas na Síria, e muito menos um partido revolucionário operário de massas, o mesmo pode ser dito sobre a maioria (para não dizer praticamente todos) os lugares onde há conflitos armados, de cunho nacionalista, em andamento. Essa situação acontece no leste da Ucrânia e em todas as demais regiões separatistas russas, como na Trasnístria (Moldávia), na Ossétia do Sul e na Abkazia, regiões encravadas na Geórgia.
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Os “vários sabores” de grupos guerrilheiros islâmicos que têm se tornado muito ativos no Oriente Médio, na África e em várias regiões da Ásia estão muito longe de poderem ser chamados de lutadores pelo socialismo.
Os grupos guerrilheiros que se auto reivindicavam como socialistas atuaram, principalmente, na década de 1960 e 1970, muitos deles inspirados pelo “guevarismo”, e foram todos eles derrotados.
Hoje, na Colômbia, as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo), assim como o ELN (Exército de Libertação Nacional), participam de um processo de negociações com o governo para tornarem-se partidos políticos legais. Para o governo de Juan Manuel Santos se trata da necessidade de pacificar o país para facilitar a exploração dos minerais e petróleo nas regiões ocupadas pelos guerrilheiros, com o objetivo de conter o aprofundamento da crise capitalista. Esses grupos têm sofrido sérios golpes nas cidades. Sua base social sempre foi camponesa, com a reforma agrária como principal bandeira.
Os grupos guerrilheiros maoístas que atuam na Ásia, também o fazem sobre a base de um programa camponês. Um dos princípios teóricos do maoísmo, “cercar as cidades pelo campo”, foi elaborado por Mao TseTung após o massacre de milhares de comunistas, em Xangai, por Chiang Kai Shek, após a derrota da revolução chinesa de 1927, que, em grande medida, teve na base a orientação de Stalin de fundir o Partido Comunista Chinês no Kuomintang.
A classe social que tem como tarefa histórica a derrubada do capitalismo não são os camponeses, e muito menos nos países atrasados. A revolução socialista deverá ser obra da classe operária dos países desenvolvidos. Pela primeira vez, em várias décadas, está colocado a retomada do ascenso operário e a crise dos mecanismos de contenção nesses países.
Surge a pergunta chave: então,
qual é a importância da crise no Oriente Médio para a revolução proletária mundial?
O sistema capitalista mundial deve ser compreendido como um organismo único e integrado, apesar das especificidades e peculiaridades regionais e nacionais. O avanço da desestabilização na Síria e na Ucrânia não significa que há avanços diretos e imediatos na luta pelo socialismo nesses países. Mas a desestabilização da periferia, dos países atrasados, repercute sobre os países centrais, debilitando-os e provocando o aumento das contradições.
A derrota da França, na Indochina primeiro e na Argélia logo em seguida, debilitou o país e foi um dos fatores que impulsionou os movimentos estudantis de 1968.
A derrota do imperialismo norte-americano no Vietnã levou à crise mundial de 1974, conhecida como a crise mundial do petróleo. As derrotas no Iraque e no Afeganistão levaram ao colapso capitalista de 2008.
A desestabilização no Oriente Médio tem o potencial de impulsionar o novo colapso capitalista previsto para o próximo perído. E não se trata de qualquer “crisezinha” como uma parte da esquerda oportunista propagandeia. As crises cíclicas fazem parte do passado, do século XIX. O que temos a partir do século XX, com o imperialismo, o controle do mundo por um punhado de monopólios, e, com muita maior intensidade, a partir do século XXI, são crises estruturais que, cada vez mais, têm se tornado difíceis de serem fechadas e que conduzem a novas e mais profundas crises. Seria como se o sistema ganhasse a cada nova crise mais uma ponte de safena.
Sobre a base do aprofundamento da crise capitalista é que a classe operária mundial entrará em movimento, principalmente nos países desenvolvidos, retomando o ascenso do movimento grevista dos anos de 1980, contido por meio das políticas neoliberais.
O ascenso operário colocará novamente a necessidade do surgimento, como necessidade histórica, de novos partidos operários, revolucionários e de massas. A esmagadora maioria da esquerda atual desaparecerá do cenário político atual, assim como acontecerá com a burocracia sindical.
A revolução não é o primeiro ato da peça, mas a cerejinha do bolo, que tem como objetivo colocar abaixo a “carcaça” capitalista. Os partidos operários, revolucionários e de massas surgirão como produto dessa crise e da necessidade da classe operária se organizar para enfrentar a burguesia. O período de estabilidade nos países desenvolvidos e de pacificação das massas está com os dias contados. Começa a se colocar à ordem do dia o enfrentamento aberto entre a burguesia e o proletariado, entre a revolução e a contrarrevolução. A burguesia tentará apertar o cerco por meio do fascismo e as guerras, estas como a “saída” para a crise. Os trabalhadores tenderão a lutar pela expropriação do punhado de parasitas que controla o mundo.