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israel-2Israel - Opera Mundi - [Guila Flint] Centenas de milhares de ultraortodoxos, reunidos neste domingo (02/03) em Jerusalém, fizeram uma demonstração de força na "assembleia de oração e clamor" - nome dado a manifestação contra lei que obrigará parte dos jovens da comunidade a servir o Exército.


Foto: Centenas de milhares de ultraortodoxos paralisaram as ruas de Jerusalém. Da Agência Efe.

A multidão paralisou o trânsito e bloqueou os principais acessos da cidade.

Milhares de ônibus, do país inteiro, transportaram os manifestantes a Jerusalém, depois que seus líderes espirituais ordenaram a participação em massa de homens, mulheres e crianças. "Trata-se de um momento de emergência, levantaram a mão contra a Torá (livro sagrado do judaismo)", afirmou uma coalizão ampla de rabinos de todas as correntes ultraortodoxas, incluindo líderes espirituais de origem ocidental e oriental.

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"É inconcebível que justamente no Estado judaico, estudiosos da Torá sejam considerados infratores", afirmaram os rabinos, em referência à cláusula da lei que estabelece pena de prisão aos jovens ultraortodoxos que forem convocados ao serviço militar e tentarem se esquivar de cumpri-lo.

A lei, que deverá entrar em vigor só a partir de 2017, foi iniciativa do partido laico Yesh Atid (Existe Futuro, em tradução livre), liderado pelo ministro das Finanças, Yair Lapid.

O partido defende o que chama de "igualdade de carga", slogan principal de sua campanha eleitoral, acusando os ultraortodoxos de não arcarem com as cargas do serviço militar e do pagamento de impostos como os cidadãos seculares. "Israel não pode mais permitir que um grupo tão grande da população seja isento das obrigações aplicadas a todos os cidadãos", afirmou Lapid.
Entre os 8,1 milhões de habitantes de Israel, cerca de um milhão são ultraortodoxos.

De acordo com a avaliação da policia havia pelo menos 350 mil participantes no protesto, pois por meios eletrônicos foram contabilizados 350.000 telefones celulares no local. Já os rabinos calcularam o número de participantes em 600.000. O analista do canal 10 da TV israelense, Avishai Ben Haim, que acompanhava as orações, explicou aos expectadores laicos que uma das bençãos proferidas pela multidão só pode ser dita quando há pelo menos 600 mil participantes no ritual.

Diálogo impossível

No entanto, fica cada vez mais evidente que não há diálogo possível entre um politico como Lapid e os lideres da comunidade ultraortodoxa. Ambas as partes falam hebraico, porém o entendimento e a linguagem são diferentes.
A grande maioria dos laicos em Israel não entende o significado das orações proferidas pela multidão de ultraortodoxos que tomou o norte de Jerusalém durante a manifestação.

Os ultraortodoxos, por sua vez, não entendem a linguagem dos laicos. Fora de sintonia com o resto do país, eles não assistem televisão, não leem os jornais laicos e não têm acesso a sites considerados "impuros" na internet.

Até os celulares do público ultraortodoxo possuem filtros contra "sites impuros".

"Pinguins murmurando em Esperanto"

A colunista ultraortodoxa do jornal Yediot Ahronot, Shoshana Hen, coloca de maneira bem forte o estranhamento entre laicos e ultraortodoxos. Citando um dos trechos da oração ela afirma: "como dói que para muitos isso soa como se pinguins estivessem murmurando em Esperanto".

O trecho que Hen citou diz, em tradução livre: "se eu não me divertisse com a vossa Torá, estaria perdido na miséria".

Enquanto centenas de milhares de ultraortodoxos rezavam a Deus para que os salvasse da lei que consideram catastrófica, a população laica se indignava com os enormes engarrafamentos que a manifestação causou, paralisando a cidade de Jerusalem.

Os lideres da manifestação decidiram não colocar palanque. Havia apenas grandes alto-falantes que orientavam os fiéis durante o ritual. Entre as orientações houve ordens explicitas para separação entre homens e mulheres, indicando onde cada grupo deveria se posicionar.

As imagens aéreas transmitidas ao vivo por todos os canais de TV mostravam uma multidão preta – a dos homens que se vestem só com roupas pretas – e uma multidão, separada e colorida – a das mulheres.

"Esta assembleia solicita que os jovens das yeshivot (seminários rabinicos) não sirvam o Exército de maneira alguma e não cedam a nenhuma tentação ou ameaça", diziam os alto-falantes.

Contexto histórico

Em 1947, um ano antes da fundação de Israel, foi estabelecido o chamado "status quo" entre o Estado e a religião.

Com o objetivo de garantir o caráter judaico do Estado, os lideres laicos que fundaram Israel, conduzidos por David Ben Gurion, cederam partes significativas do poder aos rabinos ultraortodoxos.
O acordo do "status quo" outorgou ao rabinato ultraortodoxo o monopólio sobre questões cruciais na vida de qualquer cidadão. Por exemplo, em Israel apenas os casamentos realizados por rabinos ultraortodoxos são reconhecidos pelo Estado.

Outra cláusula do acordo se referia à liberação do serviço militar para estudantes dos seminários para rabinos, que então eram apenas 400. De 1948 até 2010 o número de estudantes nos seminários rabinicos aumentou para 62.500 e todos foram liberados do serviço militar.

Existem instituições rabinicas para jovens e para adultos e todas recebem financiamento do Estado, inclusive instituições nas quais estudam homens casados, que recebem uma espécie de bolsa de estudos e não trabalham.

Nessas circunstâncias criou-se uma grande ilha ultraortodoxa, desconectada da sociedade israelense e do mercado de trabalho para a qual a prioridade é manter os homens nos seminários rabinicos. Segundo os rabinos ultraortodoxos, "a base para a preservação do povo judeu sempre foi o estudo da Torá, somos os verdadeiros guardiões de Israel".


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