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alemanha-homoAlemanha - Plante uma Semente - [Lenon Mendes] Entre 1933 e 1945, o governo nazista, comandado por Adolf Hitler, usou da sua autoridade para excluir do território germânico pessoas que não se encaixavam na visão da "Raça Ariana superior".


Os mais perseguidos eram os Judeus, que, de acordo com a ideologia antissemita Nazi eram considerados uma raça inimiga. Porém, muitos outros grupos eram alvos de perseguição e assassinato, incluindo alemães com deficiências físicas e mentais, homossexuais, Testemunhas de Jeová e Soviéticos, dos quais milhões pereceram neste período de tirania.

As informações contidas neste texto foram retiradas do acervo online do United States Holocaust Memorial Museum (http://www.ushmm.org/), localizado em Washington DC, dedicado a preservar a memória de todos aqueles que sofreram com essa tragédia sem precedentes. Eu tive a oportunidade de visitar o museu pessoalmente há alguns dias. Este texto é movido pelo os sentimentos que senti, enquanto percorria os vagões originais que transportavam os prisioneiros, os alojamentos dos campos de concentrações, assim como as histórias de milhões de pessoas que tiveram suas vidas arrancadas da maneira mais brutal e desumana possível.

Os Números da Perseguição

Dentre os grupos alvos, a campanha Nazista contra os homossexuais, atingiu mais de um milhão de homens Alemães que, segundo a classificação do estado, feriam a supremacia masculina Ariana. Chamados de "parasitas antissociais" e considerados inimigos do estado, mais de 100,000 homens foram aprisionados durante a repressão contra os homossexuais. Aproximadamente 50,000 foram condenados à prisão, enquanto um número desconhecido foi institucionalizado em hospitais psiquiátricos. Outros, provavelmente centenas, foram mutilados e castrados, com autorização legal do governo Alemão.

Analises de registros sugerem que em torno de 15 000 homossexuais foram aprisionados em campos de concentração, onde vários morreram de inanição, doenças, exaustão, torturas ou como cobaias para experimentos médicos.

Na prática Nazista, as mulheres eram valorizadas por sua habilidade de ter filhos. Assim, o estado presumia que mulheres homossexuais ainda eram capazes de cumprir o seu papel social. Desta forma, lésbicas não eram sistematicamente perseguidas, apenas sofriam pela exclusão social e falta de espaço para livre expressão.

O Início

Antes do Terceiro Reich, Berlim era considerada uma cidade liberal, com bares e cabarés frequentados pela comunidade homossexual, assim como, existia um movimento pelo os direitos dos homossexuais, liderado por Magnus Hirschfeld. Contudo, semanas depois que Adolf Hitler se tornou chanceler, os homossexuais alemães começaram a sentir o impacto do novo regime.

Em fevereiro de 1933 ordens foram dadas para que bares e clubes de público homossexual fossem fechados, assim como todas as publicações com conteúdo sexual foram proibidas de serem vendidas no país.

Em maio de 1933, grupos de estudantes Nazistas e simpatizantes do movimento Nazi saquearam o Instituto de Ciências Sexuais de Magnus Hirschfeld, em Berlim, por ser um dos mais visíveis símbolos de reforma sexual. Quatro dias depois, a maior parte da biblioteca do instituto foi destruída e seu acervo único queimado em nome da supremacia Ariana.

Em Outubro de 1934, Gestapo, a polícia secreta Nazista, se organizou para coletar informações sobre homossexuais. Telegramas foram enviados para todos os departamentos de polícias locais ordenando que listas com nomes de suspeitos de serem homossexuais fossem encaminhadas para Berlin.

Com o aumento do interesse da polícia, muitos homossexuais emigraram para outros países. Contudo, a grande maioria começou a se esconder socialmente, até mesmo através de falsos casamentos. Outros, no desespero, cometeram suicídio.

O Parágrafo 175

O Parágrafo 175 tinha sido parte do código Criminal Alemão no tempo do Império Germânico, sobre o comando do Kaiser Wilhelm I. Como parte da massiva reescritura do código criminal, os juristas Nazistas revisaram o Parágrafo 175. Registrado em 28 de Junho de 1935, e colocado em efeito em primeiro de setembro de 1935, a visão criminalizava a relação entre dois homens como indecente.

A revisão na lei abriu caminho para diversas interpretações judiciais, porque categorizava a homossexualidade como não-natural. Em 1938, as cortes Alemãs decidiram que qualquer contato entre homens, com intenção sexual, mesmo um simples olhar ou toque, eram motivos para punição.

Denúncias e Prisões

Com a consolidação do poder do regime e centralização da autoridade no estado, os instrumentos de persuasão emergiram. Através da propaganda, a homossexualidade foi associada à traição, encorajando-se a intolerância pública.

Refletindo o dramático aumento de procedimentos legais contra homossexuais, desde 1933, o trabalho policial de rastreamento deste grupo de indivíduos, dependia largamente de denúncias da própria população, a qual, manipulada pela mídia, contribuía para o massacre de centenas de pessoas.

Agindo com base nestes informantes, a Gestapo e a Polícia Criminal apreendiam e interrogavam os suspeitos, que, frequentemente eram forçados a dar nomes de amigos e conhecidos, acabando por final, a se tornarem os próprios informantes.

Durante a Era Nazi, em torno de 100,000 homens foram presos por violação do Parágrafo 175 e metade foi condenada por contrariar a lei.

Dentre os 100,000 aproximadamente 78,000 foram presos entre 1936 e 1939, assim como, a maior parte eram da classe operária, que por não dispor de dinheiro para alugar casas ou apartamentos individuais, era facilmente encontrada em locais semi-públicos com seus parceiros, transformando-os em vítimas fáceis para a polícia.

Conforme as notícias de prisões massivas se espalharam, uma atmosfera densa de medo envolveu os homossexuais alemães. Assim como o estado pretendia, a repressão física, de uma minoria de homens homossexuais, serviu para limitar a vida da vasta maioria.

Muitos prisioneiros foram condenados a trabalho forçado, como parte do programa Nazi de reeducação. As prisões, penitenciárias e campos de concentração eram precários e os encarcerados lidavam dia-a-dia com o sofrimento provocado pelos maus tratos dos guardas e pelo o ódio dos próprios amigos e familiares.

Os Campos de Concentração

Em torno de 15,000 homossexuais foram aprisionados em campos de concentração, durante o regime Nazista. Dentro da prática, chamada de "custódia preventiva", suspeitos homossexuais eram separados da sociedade e confinados juntamente com judeus e outros oponentes políticos.

Como forma de humilhação, os homossexuais detidos eram identificados com um triângulo rosa em seus uniformes, e sofriam diariamente de abuso físico e sexual pelos guardas dos campos de concentração. Temendo serem culpados por associação, os outros prisioneiros deixavam os homossexuais isolados e desprovidos de hierarquia.

Os primeiros Campos de Concentração foram regulamentados em 1934, por Heinrich Himmler, chefe de polícia do governo Nazista. Dentre os diversos campos, os homossexuais eram enviados principalmente para Sachsenhausen, Buchenwald e Dachau.

Conheça um pouco de cada um abaixo:

Dachau

Estabelecido em Março de 1933, o Campo de Concentração de Dachau foi o primeiro campo regulamentado pelo governo Nazista. Ele era localizado em uma fábrica de munições abandonada, na cidade de Dachau, há aproximadamente 16 km de distância de Munich.

Durante o primeiro ano, o campo recebeu em torno de 4,800 prisioneiros, constituídos primariamente de Comunistas Alemães, Socialistas Democratas, sindicalistas e outros oponentes políticos do regime. Depois de um tempo, outros grupos também passaram a ser internados em Dachau, em especial os Testemunhas de Jeová, Romanos (Ciganos), homossexuais e criminosos.

O campo de concentração de Dachau, não era especifico para Judeus. Durante os primeiro anos, poucos Judeus foram encarcerados em Dachau. Contudo, com o aumento da perseguição, o número aumentou, chegando a 10,000 judeus em 1938.

Dachau era também um centro de treinamento da SS, e a sua administração e rotina eram consideradas modelos para os outros campos. Basicamente, o campo era dividido em duas seções – a área do campo e a do crematório. A área do campo era constituída por 32 alojamentos, incluindo um para religiosos que se opunham ao novo regime e outro reservado para experimentos médicos.

Em 1942 a área do crematório foi construída próximo ao campo principal. Ela incluía um crematório antigo e um recém construído, possuindo câmara de gás. Não há evidências de que a câmara era usada para execuções em massa. Ao que se registra, ela era usada para eliminar indivíduos doentes ou fracos para o trabalho.

Ainda, em Dachau, físicos e médicos nazistas utilizavam-se dos prisioneiros para a realização de experimentos, incluindo-se experimentos sobre alta altitude, usando câmeras de compressão; malária e tuberculose, hipotermia e testes com novos medicamentos. Também, os prisioneiros eram forçados a testes de transpiração, para a transformação em água potável, e testes sobre sangramentos e hemorragias.

Os prisioneiros de Dachau eram usados como força de trabalho escravo. A princípio, eles foram empregados na própria construção do campo e em pequenas indústrias localizadas no próprio local. Os prisioneiros eram responsáveis pela construção de estradas, cascalhamento de rochas e o dreno de pântanos. Durante a guerra o trabalho realizado pelos prisioneiros dos campos de concentração se tornou extremamente importante para a produção bélica.

O número de prisioneiros em Dachau, entre 1933 e 1945 excedeu 188,000, sendo que o número de mortes apenas entre 1940 e 1945 foi de pelo menos 28,000, porém devido a falta de registros, é impossível estimar a quantidade real de vítimas.

Buchenwald

Juntamente com outros campos satélites, Buchenwald era um dos maiores campos de concentração estabelecidos dentro da Alemanha. O campo, construído em 1937, era localizado em Ettersberg, há 8 km de distancia de Weimar.

A maior parte dos primeiro prisioneiros eram rebeldes políticos. Entretanto, em 1938, a SS Alemã enviou quase 10,000 judeus ao campo de concentração. A chegada deste grupo foi marcada por extrema crueldade, sendo que 255 morreram como resultado dos maus tratos iniciais.

Assim como em Dachau, além dos prisioneiros políticos e dos judeus, grupos de desertores, ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais e pessoas consideradas inaptas ao trabalho eram enviados ao local.

Em 1941, um grupo de médicos e cientistas iniciaram um programa de experimentação médica nos prisioneiros. Dentre os testes, estavam pesquisas relacionadas a vacinas e tratamentos contra doenças contagiosas, como tifoide, cólera e difteria. Também, foram realizados diversos experimentos utilizando-se de hormônios para se "curar" a homossexualidade, comandados pelo Dr. Carl Vaernet.

Os prisioneiros em Buchenwald também eram fonte de trabalho escravo, com uma população chegando aos 112,000 no começo de 1945.

Sachsenhausen

O Sachsenhausen Campo de Concentração, aberto em Julho de 1936, era o principal campo na área de Berlin.

Assim como Dachau e Buchenwald, Sachsenhausen inicialmente recebeu apenas presos políticos, mas com o tempo passou a receber outros grupos de prisioneiros, incluindo-se os homossexuais.

Ainda, em Novembro de 1939, as autoridades Alemãs encarceraram em torno de 1,200 estudantes universitários, devido a demonstrações contra o governo Nazista.

A as forças Alemãs deportaram para o Campo de Concentração milhares de Poloneses, especialmente professores, padres, doutores, oficiais do governo e demais líderes nacionais, em uma tentativa de eliminar a elite pensante da Polônia.

O primeiro grupo de prisioneiros de guerra chegou a Sachsenhausen em agosto de 1941. Ao final de outubro daquele ano, já s contavam em torno de 12,000 prisioneiros de guerra. As autoridades do campo de concentração eliminaram milhares de prisioneiros logo após a chegada. Estimam-se que entre 11,000 e 18,000 foram mortos no local.

A Perseguição

A intenção de Hitler, de adquirir mais espaço adjacente para a Alemanha, colocou o país em caminho de guerra. Antes do começo da Segunda Guerra Mundial, com a invasão da Polônia em 1 de Setembro de 1939, mais de dois milhões de homens, incluindo milhares de homossexuais, foram chamados para o serviço militar. Durante os anos de guerra, estima-se que mais de 7,000 militares foram condenados e sentenciados a prisão, pelo o Parágrafo 175, mas, por fim, foram forçados a voltar para a frente de guerra.

Com a reintrodução, em 1935, do recrutamento de todos os homens entre 18 e 45 anos, os homossexuais alemães se tornaram apitos para o serviço militar. O Código Alemão Militar, não bania homossexuais, mesmo os homossexuais condenados, de servirem nas forças armadas. Como resultado, milhares de homens homossexuais ajudaram em um regime que os perseguiam como cidadãos.

No exército, o medo de que a homossexualidade se espalharia como epidemia, levou ao isolamento dos homossexuais, que, quando pegos contra o Parágrafo 175, eram brutalmente punidos, e, em casos considerados de homossexualidade irreversível, os indivíduos eram enviados para os campos de concentração.

No verão de 1940, Himmler ordenou que homens homossexuais condenados por seduzir um ou mais parceiros deveriam ser enviados aos campos de concentração depois de cumprirem a sentença na prisão. O tempo de prisão poderia ser diminuído, através da castração voluntária, ou, depois de 1942, através da ordem de castração no campo de concentração.

Conforme as forças alemãs foram se movendo pela Europa, o Parágrafo 175, ou leis equivalentes foram seletivamente reforçadas nos objetivos Nazistas. Em territórios anexados, como Áustria, Checoslováquia ocidental, Polônia ocidental, Alsácia-Lorena, e Luxemburgo, a lei alemã foi imposta, estendendo a criminalização da homossexualidade em todo o Reich Maior.

Em terras ocupadas, a situação era diversificada. Em geral, o regime nazista era somente preocupação para os homossexuais germânicos. Não era muito preocupante para os Nazistas se a população nativa possuía homossexual, ao menos que isso pudesse prejudicar o Germanismo.

O Final da Guerra

Conforme os Aliados varriam a Europa do regime Nazista, em 1945, centenas de milhares de prisioneiros foram libertados dos campos de concentração. O Governo Militar Aliado Alemão baniu incontáveis leis e decretos. Porém, deixou intacta a revisão do parágrafo 175 feita pelos Nazistas em 1935. Sobre a ocupação Aliada, alguns homossexuais foram forçados a cumprir suas penas de prisão, independente do tempo passado no campo de concentração. A versão Nazi do Parágrafo 175 permaneceu inalterada até 1969, quando as relações homossexuais entre homens acima de 21 anos foi descriminalizada.

A continuidade das proibições legais contra a homossexualidade na Alemanha escondeu o fato de que os homossexuais foram vítimas de perseguição Nazista. Em Junho de 1956, a Lei da Alemanhã para Reparação de vítimas do Socialismo Nacional declarou que o internamento de um homossexual em um campo de concentração não qualifica a pessoa para receber indenização.

Homossexuais assassinados pelos nazistas receberam o primeiro reconhecimento em 8 de Maio de 1985, em um discurso do Presidente Alemão Richard von Weizsäcker, no quadragésimo aniversário do fim da guerra. Quatro anos depois da reunificação em 1990, a Alemanha aboliu o Parágrafo 175 e em Maio de 2002, o Parlamento Alemão completou a legislação para perdoar os crimes de todos os homossexuais condenados pelo o Parágrafo 175 durante a Era Nazista.

Desde 1984, memoriais das vítimas homossexuais no Regime Nazista tem aparecido em várias cidades e em campos de concentrações.


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