É diferente estar nas ruas que tomar as ruas. Quando a repressão impede de estar nas ruas, talvez a única saída seja tomá-las. Por isso, um grupo de prostitutas de Barcelona se mobilizou na última quinta-feira (26) para protestar contra a nova normativa municipal que pretende endurecer a repressão contra a oferta de serviços sexuais nas vias públicas.
Segundo Montse Neira, uma das porta-vozes do movimento, cerca de 500 pessoas entre prostitutas e apoiadores da causa marcharam desde o bairro do Raval, onde trabalha a maioria delas, até a praça Sant Jaume, onde se localizam as sedes do poder executivo municipal e autonômico.
As prostitutas mascaradas e carregando cartazes expressaram sua insatisfação levando apitos, muita energia e palavras de ordem diante do olhar curioso da população local e de muitos turistas, especialmente com sua entrada triunfal pelas famosas Ramblas de Barcelona: "Somos putas e temos direitos". Não é algo comum escutar este coro desde um coletivo tradicionalmente discriminado e perseguido. Alguma coisa está passando. Os trabalhadores e trabalhadoras estão- na verdade, continuam- indignados.
Na esteira do movimento 15M, o grupo se organizou na plataforma denominada Prostitutas Indignadas e teve seu manifesto assinado por mais de quarenta organizações sociais como ONGs e associações de vizinhos. Para Neira, assim como boa parte da sociedade espanhola, elas entendem que os políticos estão descarregando os problemas econômicos sobre os setores mais frágeis e vulneráveis. A prostituta Valentina afirma que como efeito da crise cresce a repressão policial e a aplicação de multas (entre 300 e 3 mil euros) com objetivo de aumentar a arrecadação do governo. "Muitas vezes estamos apenas falando com um amigo nas ruas ou com um cliente num bar e a Guarda Urbana vem nos multar", denuncia Valentina. Nesse sentido, Monste Neira afirma que a luta é também para garantir o cumprimento de seus direitos que são os mesmo de qualquer cidadão.
Na Espanha, o exercício e a contratação de serviços de prostituição não é um delito. Se pune apenas o proxenetismo, uso de violência e coação aos trabalhadores e trabalhadoras sexuais. A porta-voz do movimento entende que existem problemas sérios como o tráfico e exploração de mulheres mas que o poder público trata como delinquentes pessoas que na verdade são vítimas. Um informe das Prostitutas Indignadas aponta que a estratégia de perseguição implicará "uma maior estigmatização das mulheres que exercem prostituição, agravará sua situação de vulnerabilidade, ficando mais expostas que nunca à violência policial, à violência comunitária e à violência das organizações criminosas."
A manifestação das prostitutas não é novidade em Barcelona, mas organização avaliou o ato desta quinta-feira como o que conseguiu atrair maior participação de manifestantes e maior cobertura midiática desde 2006, quando começaram os protestos contra as leis contra o exercício da prostituição.
Serve de reflexão um cartaz levado por uma das prostitutas, que dizia: "Não nos multam pelo que fazemos, mas pelo que somos".