Foto de Irish Defence Forces (CC BY 2.0) - Resgate de migrantes.
"A UE e os governos europeus não só falharam colectivamente à hora de abordar a crise, mas o facto de colocar o foco nas políticas de dissuasão somado à sua caótica resposta às necessidades humanitárias de quem foge, pioraram em 2015 as condições de milhares de homens, mulheres e crianças vulneráveis", afirma Paula Farias, responsável por Operações no Mediterrâneo de MSF.
O relatório "Corrida de obstáculos à Europa", elaborado através dos testemunhos de pessoal e pacientes de MSF, assim como dos dados médicos coletados no decorrer do ano passado, detalha as consequências humanitárias das políticas europeias. Adicionalmente, o documento mostra que os muros, administrativos e físicos, levantados pelos países europeus e a UE obrigaram a MSF e outras organizações humanitárias a alargar de forma drástica as suas actividades nos pontos de entrada para o continente. Nunca antes a MSF teve em andamento tantos programas médico-humanitários e tal número de pessoal implantado na Europa. Nunca na história da organização, a MSF mobilizara barcos para levar a cabo operações de procura e resgate no mar.
"O facto de que as pessoas tentem encontrar segurança e uma vida melhor na Europa não se trata de um fenômeno novo", acrescenta Farias. "Ao contrário, é uma realidade com a qual nos havemos de ir familiarizando por muitos anos. Contudo, em começos de 2015, decidimos que não podíamos assistir impassíveis desde a beira a como o Mediterrâneo se convertia numa vala comum. Em 2016, os estados europeus devem avaliar o custo humano das suas decisões, assumir as suas responsabilidades e aprender dos seus erros".
O relatório descreve os obstáculos que a UE e os seus estados membro situaram no caminho de mais de um milhão de pessoas, a maioria das quais fogia da guerra e a perseguição. Europa fez um trabalho atroz. As políticas européias incluíram da ausência de qualquer alternativa a uma travessia mortal, ao levantamento de muros e cercos de arame farpado, passando pela contínua mudança dos procedimentos de registo, a comissão de atos violentos no mar e nas fronteiras terrestres e o fornecimento de condições de abrigo na Itália e a Grécia totalmente desadequadas.
Após realizar mais de 100.000 consultas médicas e de saúde mental, a MSF compilou uma visão dramática e representativa do impacto que estes obstáculos têm na saúde física e mental das pessoas.
"Estamos no começo de um novo ano em que, com certeza, a gente continuará a arriscar as suas vidas e em que nenhuma política restritiva vai fazer com que deixem de procurar um futuro melhor para elas e as suas famílias. Por este motivo, continuamos pedindo vias seguras para elas e instamos a Europa a que deixe de brincar com as vidas e a dignidade destas pessoas ", destaca Aurelie Ponthieu, assessora humanitária sobre Deslocamento de MSF.
"Esta crise está longe de terminar e a ajuda continua a ser completamente insuficiente na Itália, a Grécia e os Balcães", continua Ponthieu. "Durante 2015, os Estados europeus trataram de encontrar políticas que protegessem as suas fronteiras de pessoas que chegavam a elas em situação de extrema vulnerabilidade. Esperamos que em 2016 não haja necessidade de proteger a estas pessoas das políticas européias".
* Revisão e adaptação do Coletivo Editor do Diário Liberdade.