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A grande ilusão Foto 00França - PGL - [José Paz Rodrigues] Em 1964, o poeta e pedagogo balear Llorenç Vidal, teve a feliz ideia de criar o DENIP (Dia Escolar da Não-Violência e da Paz).


Ele mesmo não podia imaginar-se naquela altura o sucesso que ia ter a sua proposta nos seguintes anos, pois a comemoração estendeu-se por todas as escolas e estabelecimentos de ensino, coincidindo com o dia 30 de cada mês de janeiro, data em que no ano 1948 fora assassinado o indiano Gandhi, um dos maiores pacifistas e defensores da não-violência do mundo. O pedagogo balear tinha realizado a sua tese de doutoramento precisamente sobre educação para a paz, pelo que conhecia perfeitamente aqueles vultos que mais se tinham distinguido no mundo em defesa da paz, como o próprio Gandhi, Robindronath Tagore, Luther King, Lanza del Vasto e outros. Com tal motivo no dia 30 de janeiro devemos celebrar esta jornada dedicada à paz. A celebração deste dia pretende chamar a atenção de políticos, governantes, pais, educadores e professores que é necessária uma educação permanente pela Não-Violência e pela Paz; que é preciso educar para a solidariedade e para o respeito pelos outros, porque “Uma vez que as guerras nascem na mente dos homens, é na mente dos homens que deve edificar-se a paz”, diz o Preâmbulo da Constituição da UNESCO.

Para o presente depoimento escolhi possivelmente o filme mais modélico a favor do pacifismo que existe na história da filmografia mundial. Sob o título de A grande ilusão, foi realizado em 1937 por Jean Renoir. Inácio Araújo, crítico de cinema do jornal A Folha de São Paulo, analisa muito acertadamente esta grande obra-mestra cinematográfica. Em 1937, escreve o cinéfilo brasileiro, os prenúncios de uma nova guerra mundial já estavam no ar, e talvez seja isso que melhor explique o fato de A Grande Ilusão ser uma exceção na carreira de Jean Renoir. O apelo desta fita é, em primeiro lugar, o pacifismo. Tudo nos faz pensar no absurdo da guerra, desde que dois aviadores franceses, o nobre capitão Boïeldieu e o plebeu Marechal, são abatidos e depois recebidos no campo de prisioneiros por outro nobre, o capitão Von Rauffestein. A partir daí, Jean Renoir se entrega à digressão, uma figura muito a seu gosto. Ora nos conduz à amizade supranacional entre Boïeldieu e Von Rauffestein (maneira de dizer que, antes da pátria, existem as classes sociais, a identidade entre sujeitos da mesma categoria é profunda, independentemente das divisões de fronteira). Ora nos enreda em tentativas de fuga que envolvem sobretudo os plebeus, embora não de forma exclusiva; Boïeldieu também se envolverá com fugas, como a nos lembrar que um homem não é determinado apenas por sua classe social. Ora, ainda, introduz um personagem judeu, para nos lembrar de que a origem étnica de alguém não é uma diferença essencial. Mas é a parte final do filme, que convém não revelar, que nos conduzirá à moral da história: o sentimento de que franceses e alemães podem perfeitamente conviver pacificamente. Nesse sentido, o nacionalismo (e sua decorrência, as fronteiras) é antes de mais nada uma construção perversa do homem. Reside nisso, aliás, o que este filme conserva de dramaticamente atual e que pode se aplicar quase literalmente aos conflitos nos Balcãs ou no Oriente Médio (para não falar daquilo que ocorre na América Latina, em que brasileiros e argentinos vivem atribuindo uns aos outros crises pelas quais a responsabilidade principal é, aparentemente, de suas respetivas políticas económicas). Reside nisso, também, a sabedoria de Renoir: apesar do sucesso imediato, A Grande Ilusão conserva seu frescor. O que tem a dizer não se limita ao conflito que se anunciava: a Segunda Guerra. E mesmo se, como assinalou François Truffaut, esse é um de seus raros filmes em que a psicologia prima sobre a poesia, é quase impossível não admirar a construção sólida dos personagens e de suas muitas contradições.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

  • Título original: La grande illusion (A grande ilusão).
  • Diretor: Jean Renoir (França, 1937, 95 min., preto e branco).
  • Roteiro: Jean Renoir e Charles Spaak. Produtora:RAC.
  • Música: Joseph Kosma. Fotografia: Christian Matras.
  • Atores: Jean Gabin (Tenente Marechal), Erich vonStroheim (Van Rauffenstein), Pierre Fresnay(Capitão Boeldieu), Marcel Dalio (Rosenthal), Dita Parlo (Elsa), Jean Dasté (professor), Julien Carette(o ator Traquet), Georges Péclet (Cartier), Werner Florian (Kantz, como Arthur), Sylvain Itkine (tenente Demolder, como Píndaro), Gaston Modot(engenheiro registador), Jacques Becker (oficial inglês), Claude Sainval (Capitão Ringis), Roger Forster (Maisonneuve), Carl Koch (guarda do campo), Habib Benglia (o Senegalês), Pierre Blondy(um soldado), Albert Brouett (um prisioneiro), Georges Fronval, Karl Heil, Michel Salina, Claude Vernier e o pequeno Peters (como Lotte).
  • Prémios: Foi nominado ao Óscar ao melhor filme em 1938, e recebeu no mesmo ano o prémio ao melhor filme estrangeiro do Círculo de Críticos de Nova Iorque.
  • Argumento: Durante a I.ª Guerra Mundial (1914-1918), dois soldados franceses são capturados pelas tropas alemãs. O Capitão Boïeldieu é um aristocrata, enquanto o Tenente Marechal era um simples mecânico quando ainda civil. Eles conhecem outros prisioneiros de diversas origens e fazem amizade com um companheiro chamado Rosenthal. Após tentarem fugir por diversas vezes, eles são separados do novo amigo e enviados para uma fortaleza. É lá que Boïeldieu faz amizade com um oficial alemão chamado Van Rauffenstein, também de origem aristocrática. Uma obra-mestra do cinema mundial sobre a camaradagem e as relações humanas que retrata o dia-a-dia duns prisioneiros galos num campo de concentração germano. Quando chegam ao campo-fortaleza os dois oficiais são informados pelos seus companheiros de barracão de que estão escavando um túnel para poder fugir dali. Quando estão preparados para fugir, chega a ordem do seu traslado a outro campo de prisioneiros. Filmado em 1937, o filme é uma das primeiras reflexões que ocorrem nos inícios do cinema sonoro, sobre a crueldade e esterilidade que representa a guerra. Renoir, o realizador, inspira-se em factos acontecidos na primeira grande guerra, evidentemente preocupado pela situação que vivia Europa em aqueles anos, e como ele mesmo declarou, o seu filme é “um manifesto pacifista”.

UMA UNIDADE DIDÁTICA GLOBALIZADA PARA CELEBRAR O DIA DA PAZ:

O tema da Paz e da não-violência é tão importante, que pode ser trabalhado nas aulas de forma globalizada, e desde todas as áreas do ensino, tanto as de expressão, como as de experiência. No seu dia, coordenada pelo autor deste depoimento, a ASPGP publicou uma unidade didática sobre o tema da Paz, dentro de uma série dedicada às diferentes festas populares do ciclo anual, aos direitos humanos, às árvores, à mulher, ao livro, aos jogos populares, à energia, ao património e à Nossa Terra. De forma sintética resenho a continuação um plano de atividades a realizar nas diferentes áreas do ensino.

-Expressão Verbal (Língua e Literatura): 

-Inventar por parte dos estudantes poemas, textos livres, coplas, pequenas peças teatrais, contos, relatos, aforismos, lemas, frases, máximas, etc. sobre a paz, a guerra, a não-violência, o desarmamento…

-Fazer leituras em livros, jornais, revistas, internet e folhetos sobre o tema da paz.

-Fazer leituras de poemas de Tagore, Celso Emílio Ferreiro, Kail Gibran, Violeta Parra, Gandhi, Machado, Pessoa, Neruda, Cabral, Drummond de Andrade, Cecília Meireles, etc.

-Organizar por grupos revistas orais sobre o tema. Idem uma monografia e um jornal escolar.

-Organizar um Livroforum, depois de escolher o livro a ler por todos, e preparar um guião radiofónico para ser emitido pela rádio.

-Organizar um recital poético, depois de escolher poemas sobre a paz para serem recitados.

-Expressão numérica (Matemáticas):

-Resolver problemas sobre o dinheiro que se gasta no mundo em armamento, e o que se poderia fazer com ele em benefício da humanidade, da saúde, da alimentação, da cultura e da educação, ou em outras coisas positivas para os seres humanos.

-Elaborar um gráfico sobre o orçamento económico por áreas da Comunidade Autónoma da Galiza e do Estado Espanhol, com o fim de comprovar as percentagens que se dedicam em cada caso ao bem-estar social, ao ensino, à saúde e à cultura, comparando-as com as que se dedicam à defesa, armamento e energia nuclear.

-Elaborar estatísticos, diagramas, quadros sinópticos, com as percentagens correspondentes nos orçamentos de outros países da Europa e o resto de continentes.

-Resolver problemas e desenhar conjuntos adequados ao tema: bombas, mísseis, soldados, exército, conflitos, países com mais tempo de paz, etc.

-Expressão Plástica (desenho, manualidades, cinema e imagem):

-Elaborar murais e cartazes coletivos sobre a paz. Podem levar retalhos de imprensa, desenhos, poemas e lemas dos próprios estudantes, quadros sinópticos, fotografias, gravuras e autocolantes.

-Construir em trabalhos manuais brinquedos didáticos antibelicistas, fantoches, máscaras teatrais, cabeçudos satíricos, sobre pessoas que são ou foram negativas para a existência da paz no mundo.

-Elaborar postais, tarjetas, cromos, diapositivos e autocolantes de temática pacifista.

-Desenhar de forma criativa armas que não disparam, ou que disparam coisas positivas, bombas que não estouram ou se estouram lançam brinquedos ou doces para as crianças.

-Elaborar bandas desenhadas sobre a paz. Recriar com desenhos criativos duas paisagens: uma depois de ter lugar uma guerra ou uma explosão nuclear, e outra de um jardim no que jogam e brincam as crianças em paz, e os adultos estão ledos.

-Recolher material fotográfico sobre as destruições que provocam as guerras, explosões nucleares, armamentos, rendições, assinaturas e tratados de paz, e organizar nos estabelecimentos de ensino uma amostra com todo o material recolhido e encontrado.

-Desenhar um roteiro fílmico e logo realizar um documentário seguindo o mesmo.

-Expressão dinâmica (música, teatro, dança, educação física e jogos):

-Realizar jogos populares e pacifistas ao ar livre ou na aula, que favoreçam o espírito cooperativo, o desfrute e o gozo lúdico dos participantes.

-Praticar desportos em que o importante seja participar, no lugar de ganhar, para ajudar ao fomento do espírito desportivo. Pode organizar-se uma jornada escolar desportiva pela paz.

-Fazer dramatizações de atos de assinaturas históricas de tratados de paz entre países ou nações, nos que os estudantes representem as personagens assinantes.

-Inventar uma peça teatral ou jogo dramático e representa-lo, no que a paz ou a guerra sejam temas centrais.

-Fazer mimo ou teatro de fantoches, nos que a temática seja algo que tenha que ver com a paz.

-Representar a obra de Robindronath Tagore “O Carteiro do Rei”, ou alguma peça humorística e farsas de Gil Vicente, Blanco Amor ou Valhe-Inclám.

-Inventar cantigas sobre a paz, ou cantar algumas das já existentes. Tanto de forma individual como em grupos corais.

-Escutar música que desenvolva a sensibilidade dos rapazes a respeito do importante que é viver em paz. Podemos escolher, ademais de peças clássicas, obras de cantautores: José Afonso, Martinho da Vila, Violeta Parra, Joan Baez, Yupanqui, Adamo, Serrat, Jara, Prada, Vaamonde, etc., e de grupos como A Quenlha, Fuxam os Ventos, Colheita Alegre e Maio Moço.

-Áreas de Experiência Social e Natural (Ciências Sociais e Naturais, Geografia, História, Arte e Ética):

-Pesquisar e fazer trabalhos monográficos, seguindo o modelo da técnica da biblioteca do trabalho de Freinet. Temas possíveis: as guerras mais importantes que houve no mundo ao largo da história, incluindo as causas e as consequência das mesmas; épocas de paz mais duradoiras e a sua incidência positiva nos diferentes povos que as desfrutaram (na cultura, no ensino, no bem-estar social…); organismos estatais e internacionais que trabalham a favor da paz entre os povos e na procura do desarmamento, incluindo os objetivos dos mesmos, atividades, publicações e endereços; as duas guerras mundiais, com países participantes, consequências graves, documentos e tratados; o bombardeio nuclear das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, e as suas consequências, etc.

-Fazer uma coleção de selos de correios do mundo cujo tema monográfico seja a Paz.

-Elaborar mapas que recolham os países que estão hoje em guerra ou nos que existe repressão de caráter racista. Também mapas dos que levam tempo desfrutando da paz e com poucos problemas no relacionamento entre os seus habitantes.

-Fazer um estudo do mapa de Arno Peters para poder comparar as relações de dependência entre os países Norte-Sul, Oeste-Leste, o chamado terceiro mundo, etc.

-Investigar sobre obras artísticas que tenham como tema central a paz ou a guerra. Por exemplo, o Guernica de Picasso, a rendiçao de Breda de Velázquez, os fuzilamentos de Goya, etc.

-Elaborar monografias sobre pessoas que se destacaram na defesa da paz e as que, pelo contrário, foram nefastas para a humanidade: No primeiro caso Gandhi, Tagore, Nobel, Aurobindo, Jesus, Buda, Luther King, Afonso X, Confúcio; no segundo Calígula, Nero, Felipe II, Napoleão, Hitler, Mussolini, Franco, Bokassa, Idi Amin, Estaline ou Pinochet.

-Pesquisar sobre os problemas que causam as guerras no mundo: na higiene, na saúde, no ecossistema, na transmissão de enfermidades, na aparição de doenças, pestes e enfermidades contagiosas.

-Fazer estudos sobre as grandes e graves consequências produzidas na espécie humana, animal e vegetal de uma guerra nuclear, uma guerra bacteriológica ou uma guerra com armas químicas.

-Estudo sobre o corpo humano, a relação entre sexos, a sexualidade, na procura de uma positiva educação sexual que favoreça a relação afetuosa entre as pessoas.

-Investigar sobre o que afetou ao ecossistema do Vietname a guerra provocada por EUA. O mesmo a última guerra no Iraque. Idem sobre os minerais que mais se usam no fabrico de armas convencionais ou não.

-Estudar as teorias explicativas sobre as origens da vida e a formação do universo, o cosmos e a paz.

-Analisar cientificamente as diferentes alternativas ecologistas e pacifistas que existem na Terra, e organizar exposições sobre o tema. Podem-se elaborar também monografias sobre científicos que se destacaram pela defesa da paz: Fleming, Russell, Einstein, Nobel e os denominados “Científicos pela paz”.

-Estudar e analisar as Declarações internacionais dos Direitos Humanos, dos Direitos dos Povos e dos Direitos das Crianças.

-Organizar uma jornada nos estabelecimentos de ensino sobre a solidariedade entre os povos, com campanhas a favor dos que se encontram em guerra, para que logo consigam a paz.

TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Utilizando a técnica do Cinemaforum, podemos analisar o filme do grande realizador Renoir, desde o ponto de vista formal (linguagem fílmica, planos, planos-contra plano, movimentos de câmara, etc.) e de fundo (mensagem que intenta transmitir e atitudes que manifestam as diferentes personagens do mesmo).

Organizar nos estabelecimentos de ensino um Ciclo de Cinema sobre a Paz. No mesmo podem incluir-se filmes excelentes que têm a paz como tema central, e, entre eles, “A harpa de Birmânia”de Kon Ichikawa, “O grande ditador” de Charlie Chaplin, “Sopa de ganso” com os irmãos Marx, “Sendeiros de glória” de S. Kubrick, “Johnny Got His Gun” (Johnny Vai à Guerra, no Brasil; E Deram-lhe Uma Espingarda, em Portugal) de Dalton Trumbo, “O dia depois” de N. Meyer, “Desaparecido” de Costa-Gavras e “Nascido o 4 de julho” de Oliver Stone. Alguns dos filmes citados já foram analisados no se dia com depoimentos na série do PGL “As Aulas no Cinema”.

Organizar um debate-papo ou uma posta em comum, depois de ler o seguinte texto: “No mundo gastam-se em armamento 160 mil euros por minuto. Os 4 % dos cientistas e os dois terços dos fundos de investigação estão destinados a estudos de natureza bélica. No entanto, 250 milhões de crianças não têm escola, 800 milhões de pessoas são analfabetas, 1500 milhões carecem de assistência médica e 2000 milhões passam fome”.

 

 


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