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220813 claparede aulaFrança - PGL - [José Paz Rodrigues] Uma das instituições educativas mais interessantes criadas no mundo teve como sede a cidade suíça de Genebra. Graças a ela pôde coordenar-se a nível mundial o movimento pedagógico da Escola Nova, progressiva ou ativa, funcionando dentro da mesma durante muitos anos o BIEN (Bureau Internacional das Escolas Novas), os comités mundiais de apoio à paz e um labor editorial importantíssimo no campo da psicologia, a pedagogia e os movimentos pedagógicos inovadores, com publicações periódicas muito interessantes, como L´Educateur Pour l´Ère Nouvelle.


O Instituto Jean-Jacques Rousseau, foi fundado em 1912 por Édouard Claparède (1873-1940), juntamente com Pierre Bovet e Adolphe Ferrière. O Instituto reuniu alguns dos grandes nomes da psicologia e psicopedagogia da época, entre os quais Adolphe Ferrière, Ernst Schneider, Jean Piaget e Helena Antipoff, são os mais destacados. Como uma escola de ciências da educação teve como ideia original o objetivo de contribuir para a formação de educadores e para a difusão de novas pedagogias, baseadas no conhecimento científico da criança. Rousseau foi escolhido como patrono do Instituto pela sua defesa da necessidade de se conhecer a criança para melhor educá-la. Além da realização de pesquisas nas áreas de psicologia e pedagogia, este importante Instituto objetivava o incentivo às reformas educativas baseadas no movimento da Escola Nova. Muito rapidamente tornou-se um dos principais centros de referência sobre este movimento na Europa e no mundo. Estava envolvido na crítica à educação tradicional e na defesa de mudanças na educação que tornassem a escola mais humana, mais significativa e interessante para as crianças.

O conhecimento da psicologia humana era central no projeto humanista e pacifista do Instituto Jean-Jacques Rousseau. Èdouard Claparède foi um dos principais estudiosos a propor o aprofundamento dos estudos psicológicos, especialmente do ponto de vista funcionalista. Ligado a partir de 1929-1930 à Faculdade de Letras da Universidade de Genebra com o nome de Institut des sciences de l'éducation, foi depois elevado ao estatuto de escola universitária autónoma em 1969, ficando a partir daí sob a supervisão direta do reitorado da Universidade de Genebra. A partir de 1975, passou a constituir a Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação desta Universidade. O ícone utilizado como seu símbolo amostra uma criança de pé ao lado de um adulto sentado, o qual tem um livro na mão. A criança aponta para fora de uma janela, como a buscar ativamente conhecer a natureza através da experiência concreta. A altura semelhante das figuras sugere uma relação mais igualitária entre professor e aluno.

Noutras palavras, o ideal de basear a educação na observação da natureza, cultivando ao mesmo tempo uma relação de camaradagem para com a criança está presente no emblema escolhido para este Instituto. Neste emblema está resumida, iconograficamente, a filosofia do Instituto: cultivar o espírito científico através da observação da natureza, com o auxílio do conhecimento acumulado nos livros; encarar a criança como um igual, dotada da capacidade de tomar a iniciativa e eventualmente dirigir o adulto; deixar que a criança seja o guia do processo educativo, e guiá-la afetuosamente no seu processo de investigação e de descoberta. Vale ressaltar que já nos anos vinte, o Instituto tornou-se referência básica para os movimentos educacionais progressistas que despontaram em todo o mundo. Sob a coordenação de E. Claparède e Pierre Bovet, orientavam-se pesquisas dentro de uma conceção funcional de educação e preconizava-se o modelo da criança ativa. Jean Piaget foi diretor do Instituto entre 1921-1932. Convidado por Pierre Bovet, em maio de 1921, Robindronath Tagore apresentou ali uma muito interessante palestra para falar da sua pedagogia e de como a punha em prática na sua instituição educativa de Santiniketon (“Morada da Paz”) na Bengala indiana.

Em 2011, com a coordenação da educadora brasileira Alessandra Arce, a produtora Atta Mídia e Educação de Brasil realizou um interessante documentário dedicado à grande figura pedagógica do suíço Claparède, que foi editado em DVD pela Paulus Editora de São Paulo. Este filme serve para o comentário do presente artigo, com o qual continuo a série dedicada aos grandes educadores e pedagogos do mundo.

Ficha técnica do filme-documentário:

Título original: Édouard Claparède.

Produtora: Atta Mídia e Educação (Brasil, 2011, 30 min., a cores e a preto e branco, documentário).

Editora: Paulus Editora. Coleção: Grandes Educadores.

Roteiro e Apresentação: Alexandra Arce (Mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, pós-doutora em Filosofia e História da Educação pela Unicamp. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de São Carlos e coordenadora do curso de Pedagogia. Considerada como a maior especialista do Brasil sobre Federico Froebel, e também sobre outros grandes educadores do mundo).

Argumento: Claparède viveu em um mundo atormentado por guerras e viu na transformação da escola um importante passo na sua luta pela paz mundial. Acreditava que o autoritário ambiente escolar era o grande responsável pela formação de indivíduos autoritários. Defendia que a escola deveria ser mais democrática e valorizar mais a criança. As ideias de Claparède sobre a inteligência foram revolucionárias. Acreditava que ela estava relacionada à capacidade de se adaptar a novas situações, algo muito diferente da noção de inteligência dominante na época, relacionada à quantidade de informações que o indivíduo conseguia armazenar. Claparède lançou as bases para inúmeros psicólogos e educadores. Entre eles estão Vygotsky e Piaget. No Brasil, a sua influência é enorme.

Conteúdos do Documentário: Biografia e contexto. Escola duplicada. Influências. Escola Nova. Revolução de Copérnico na educação. Princípio da ação. Teoria dos Talentos. Desenvolvimento infantil. Inteligência. Psicologia funcional. Didática. Professor. Escola sob medida. Currículo mínimo. O jogo. Disciplina, ética e moral. Novidades da Escola Nova.

 

Claparède, um psicopedagogo inovador:

Édouard Claparède (1873-1940), foi um psicólogo e pedagogo genebrino, que se constituiu num dos baluartes do progresso efetivo das bases científicas da Nova Educação. Doutorou-se em Medicina em 1897 e posteriormente abandonou os seus estudos de neurologia e psicologia animal, para dedicar-se integramente à psicologia da infância. Foi diretor do Laboratório de Psicologia da Universidade de Genebra (1904), professor de psicologia, para mais tarde aceder à cadeira que deixara vaga Flournoy, cujos trabalhos decidiram a sua vocação científica. Junto com Bovet e Ferrière, fundou em 1912 o Instituto de Educação “J. J. Rousseau”, dando-lhe funções de orientação, experimentação e divulgação psicopedagógicas. Entre os seus méritos destacam o ter sido diretor dos Arquivos de Psicologia Experimental e Doutor “honoris causa” de múltiplas sociedades no mundo e, em definitivo, de ter sido, junto com Ferrière, um dos impulsores da fecunda e intensa obra de coordenação e reelaboração original dos temas da Escola Nova.

Claparède tratou de dar aos educadores a justificação científica e os meios para realizar a reforma do ensino, e para isto apontou duas estratégias fundamentais: a) Uma intensificação das investigações referentes à criança e ao seu desenvolvimento mental. b) Uma preparação específica dos futuros mestres e educadores: Pondo-os ao corrente dos resultados das investigações psicológicas e das normas novas que possam deduzir-se delas para a educação e a instrução. E, em segundo lugar, dando-lhes no maior grau possível um espírito científico onde não falte a observação metódica nem a experimentação.

A crítica ao sistema de classificações e postos, a reconsideração dos exames, as inovações no ensino da língua, a necessidade de que os docentes se formem nas Universidades, são outras tantas reivindicações e conquistas do pedagogo genebrino. Em Claparède o ativismo pedagógico recebe o nome de funcionalismo. Para ele toda a atividade vem determinada por uma necessidade de tipo biológico e por um interesse de tipo psicológico. Os máximos representantes do ativismo educativo são Dewey em América, Tagore na Ásia e Ferrière, Bovet, Kerschensteiner e Claparède na Europa. As principais obras de Claparède editadas na nossa língua são Psicologia da criança e Pedagogia experimental (1909, Brasil: 1934), A Escola sob medida (1920, Brasil: 1959) e A Educação funcional (1931, Brasil: 1933). Lourenço Filho traduziu em 1928 a sua obra A escola e a Psicologia Experimental, escrita em 1916.

Em 1906 Claparède criou no Laboratório de Psicologia da Universidade de Genebra, um Seminário de Psicologia Pedagógica, para atender as solicitações de numerosos docentes interessados nas novas ideias. Este foi o núcleo de uma organização mais importante que se fundou em 1912 no Instituto de Ciências da Educação da mesma universidade, mais conhecido como Instituto J.J. Rousseau, e do que antes falei, cuja direção fora encomendada ao pedagogo tagoreano, amigo de Tagore, Pierre Bovet. E posteriormente fora dirigido por Jean Piaget.

O modelo pedagógico da chamada educação funcional:

Claparède foi o promotor mundial do ponto de vista funcional no estudo psicológico, e tal ponto de vista transferiu-se igualmente para o campo da pedagogia. A psicologia funcional olha para os fenómenos vitais e psíquicos em relação ao valor que manifestam para atingir a adaptação desse organismo ao ambiente físico-social. O comportamento aparece assim explicado como uma reatividade ao ambiente, de forma que toda atividade virá determinada por uma necessidade (biologicamente), e por um interesse (psicologicamente). Portanto, uma conceção funcional da educação deverá favorecer uma conduta que adapte o organismo a uma situação determinada, quer dizer, que fundamente a ação do indivíduo em função das suas próprias necessidades, desejos e interesses, que, se bem podem ser suscitados, nunca hão de ser impostos. A atividade da criança deve corresponder ao desenvolvimento natural de uma função fisiológica ou psicológica que há ser o resultado de uma atividade vital e que deverá brotar dos próprios estados e interesses expressados de maneira espontânea. Isto vai supor que no centro de todos os programas e métodos vai estar a criança e os seus interesses. A infância passa a ser uma etapa da vida humana com uma função biológica insubstituível e com uns valores próprios. A educação consiste na adaptação progressiva ao meio físico e social através da conquista de um equilíbrio entre a individualidade e a sociabilidade.

Propostas didáticas práticas:

Todos os aspetos citados anteriormente vão supor uma série de sugestões didáticas de tipo prático para desenvolver nas aulas escolares.

- Adaptação às etapas psicológicas pelas que passa a criança.

- O interesse como alavanca da educação, já que o interesse converte o esforço em positivo e espontâneo, entendido como disciplina interior.

- A escola como “laboratório” em que a criança opera livre, ativa e espontaneamente na sua própria educação, com métodos ativos e pessoais.

- Valor do jogo e das atividades lúdicas, que favorece na criança o trabalho verdadeiro, já que nelas entrega-se inteiramente e persevera no esforço.

- Amor ao trabalho e às matérias, considerando-as não só no seu aspeto vital, como também como instrumento de ação social. Um currículo adaptado a uma motivação é um elemento indispensável.

- Necessidade de satisfazer as diferenças individuais, que, aliás, são de tipo qualitativo.

- O mestre deve ser um estimulador de interesses úteis, de necessidades intelectuais e materiais, ao tempo que se transforma num colaborador que ajuda os seus alunos a que adquiram por si mesmos uma série de experiências e conhecimentos através do trabalho e das investigações pessoais e da apresentação de objetivos interessantes.

- A escola é vida e, enquanto tal, é preparação para a vida individual e social: solidariedade, liberdade, democracia, autoexigência, responsabilidade, juízo crítico e civismo.

O jogo como atividade fundamental na infância:

Claparède foi um dos psicopedagogos que mais incidiu no tema da importância do jogo para as crianças. Este é, sem dúvida, a atividade pedagógica mais completa que existe. Quando as crianças jogam põem em exercício toda a sua personalidade: a sua inteligência, a sua memória, a sua imaginação, a sua criatividade, a sua capacidade de atenção, a sua psicomotricidade, o seu sistema nervoso, todos os seus sentidos e mesmo a sua sensibilidade e os seus sentimentos. Através do jogo as crianças conhecem o mundo e entram em contacto com o meio que as rodeia, aprendem a criar e a amar a natureza e também se preparam para a vida adulta. A criança que não joga é que está doente. Jogar é, pois, a atividade mais importante e educativamente mais completa que há na infância. No jogo das crianças amostram-se na sua totalidade e globalidade, os seus aspetos motor, afetivo, social e moral. E também as estruturas mentais sucessivas da criança. O pedagogo genebrino no seu livroPsicologia da Infância (1905) escrevia: “Para a criança o jogo é o trabalho, o bem, o dever, o ideal da vida. Que é a única atmosfera na qual o seu ser psicológico pode respirar e, consequentemente, pode agir ou atuar”. Perguntar-se porque as crianças jogam e brincam é perguntar por que são as crianças. E Claparède novamente diz-nos: “A infância serve para brincar e para imitar”. Por isto, para ele a melhor maneira de criar nas crianças o desejo de aprender é usar nas aulas a estratégia do jogo, pois assim se concilia vida e escola. Através do jogo procura levar a vida para dentro da escola, porque o jogo é parte essencial das necessidades da natureza da criança. E o genebrino continua a dizer-nos:“Façamos por que as atividades que reclamamos da criança sejam mais do círculo de suas preocupações naturais. A criança é um ser feito para brincar. O jogo, eis aí o artifício que a natureza encontrou para levar a criança a empregar uma atividade considerável, atividade útil a seu desenvolvimento físico e mental. (…) fazer de seus instintos naturais aliados e, não inimigos.”

Claparède defende a prática lúdica, o jogo, nos diferentes níveis do ensino. Dá uma razão para isso: afirma que o trabalho escolar não tem sentido imediato para o aluno. É necessário, portanto, colocá-lo em sintonia com esse trabalho da escola. O jogo é que faz essa mediação, estimulando no aluno desejos necessários para despertar a sua inteligência, frente às questões colocadas pela escola, e por isto volta a dizer: “O jogo não se distingue essencialmente do trabalho. Há, sem dúvida, entre certas espécies de jogo e de trabalho, uma distância considerável; por outro lado, encontram-se intermediárias entre uma e outra dessas formas de atividade e, de tal modo, que se pode passar do jogo ao trabalho, por uma gradação insensível”.

Temas para refletir e realizar:

Depois de ver o documentário, organizar um debate-papo ou tertúlia, sobre os diferentes aspetos que sobre a figura de Claparède aparecem no mesmo. Refletir sobre o seu pensamento educativo e comentar, dando alternativas concretas, sobre como se poderia pôr em prática hoje nas nossas escolas a didática prática e a pedagogia da Educação Funcional. Poderia pesquisar-se também na Internet sobre as experiências realizadas no Instituto “J.J. Rousseau” de Genebra, assim como as suas interessantes publicações, tanto periódicas, como em forma de livros. Seria interessante consultar a monografia escrita por Pierre Bovet, e publicada em 1932, intitulada Vingt ans de vie, l´Institut Jean-Jacques Rousseau de 1912 á 1932 (Neuchâtel-París: Delachaux & Niestlé).

Elaborar uma monografia, procurando informações em livros e na Internet, sobre a Educação Funcional, incluindo na mesma as experiências práticas de escolas que funcionaram seguindo a mesma, especialmente dentro do grande movimento pedagógico mundial que foi a Escola Nova. Com fotos, textos, cartazes, retalhos de imprensa e materiais elaborados, poderia organizar-se nas escolas uma magna exposição sobre este modelo pedagógico, que tanta influência teve em muitos lugares do planeta Terra, nomeadamente no Brasil e na Itália. E em muitos educadores do mundo.

Escolher entre as quatro obras pedagógicas básicas escritas por Claparède, e citadas antes, uma para lê-la entre todos, e depois de lida, organizar um “Livro-fórum” para a comentar e debater sobre as palavras, ideias educativas e propostas práticas que o pedagogo genebrino faz na mesma.


José Paz Rodrigues é académico da AGLP, didata e pedagogo tagoreano.


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