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120216 dbUnião Europeia - Esquerda Diário - [Juan Chingo] A reação dos mercados é uma mostra de que o saneamento do sistema financeiro ainda não terminou e que nos marcos da explosão da bolha de capital fictício que se acelerou no começo deste ano, como mostra a enorme desvalorização das bolsas, se exacerba a guerra financeira entre os Estados Unidos e a Alemanha.


Depois de sofrer na segunda-feira sua maior queda na bolsa em sete anos, o maior banco da Alemanha se viu obrigado nesta terça-feira a lançar uma mensagem tranquilizadora, assegurando que tem fundos suficientes para fazer frente ao pagamento da dívida conversível em ações que emitiu em 2014 por 4,6 bilhões de euros para fortalecer seu capital (o que no jargão financeiro chama-se CoCos) tanto este ano como o seguinte. Isto fez subir fortemente suas ações na quarta-feira (e com estas, a de todo o sistema bancário europeu). Mas as dúvidas sobre este megabanco estão longe de ter desaparecido.

É assim que o “mercado” duvida da capacidade para cumprir com suas obrigações por sua dívida de maior risco, e prova disso é o forte aumento de seu CDS – seguro frente a não-pagamento –, cujo preço disparou a mais do dobro neste ano, enquanto que caíram na bolsa quase 50% desde dezembro. Agora mesmo, as ações do banco estão no nível mais baixo de sua história.

Uma estranha conferência

As ações do Deutsche Bank caíram a seus menores preços em 30 anos nesta semana, já que as perdas nas bolsas e os temores sobre a economia global levaram os investidores a uma “fuga para a qualidade” com seu dinheiro. Nestes marcos, na terça-feira passada o CEO do Deutsche Bank, John Cryan, se viu obrigado a emitir um comunicado para tranquilizar os investidores de que o banco está "absolutamente sólido como uma rocha" e continuará fazendo os pagamentos programados.

Este tipo de revelação é altamente incomum no mundo dos bancos, que é um negócio ultra-secreto. Ao contrário da intenção, estes comentários podem ter alimentado as suspeitas de que algo está acontecendo. Ainda assim os preços das ações se recuperaram na quarta-feira. Isto foi provavelmente depois de serem divulgados os informes de que o Deutsche Bank está considerando a recompra de parte de sua dívida para deter qualquer nova perda.

Uma queda de rentabilidade recorde

A entidade alemã registrou no ano passado as maiores perdas em seus 58 anos de história: no fim de janeiro a instituição bancária revelou que tinha fechado o ano passado com perdas líquidas de cerca de 6,7 bilhões de euros. Estas perdas são maiores que as que teve que admitir em 2008, em plena crise financeira mundial, quando registrou um balanço negativo de 3,9 bilhões de euros. Depois destes resultados desastrosos os rumores sobre sua possível quebra – já crescentes ao longo de 2015 – aumentaram.

Os analistas econômicos assinalam que a exposição de derivativos especulativos do banco com sede em Frankfurt chegaram a cifras que anunciam um colapso em breve: o dinheiro que está distribuído por todo o mundo em duvidosas operações financeiras já alcança os 67 trilhões de euros, 20 vezes o PIB da Alemanha de um ano (3,6 trilhões de euros). Os problemas de diferentes tipos se acumulam: o gigante bancário se viu obrigado a pagar nos últimos anos 8 bilhões de euros em multas impostas pela comissão antimonopólio da União Europeia por realizar práticas corporativas corruptas, como a manipulação do Libor, Tibor e Euribor.

Por outra parte, segundo a Bloomberg, em somente três anos o maior banco europeu gastou 7 bilhões de euros no pagamento de advogados e gastos judiciais pelas irregularidades e litígios nos quais está envolvido. Os analistas se perguntam se os 15 bilhões de euros abonados entre multas e advogados representam um custo extra aceitável na corrida de um dos maiores bancos do mundo convencido de que nem o Estado alemão nem a União Europeia lhe deixariam quebrar. Além disso, como punição pela fraude da Volkswagen – que obrigou o grupo automotriz a prover 10 bilhões de euros para fazer frente às indenizações e multas –, o Deutsche Bank tem que adiantar esta quantidade de dinheiro, dado que o Grupo (Volkswagen, Audi, Porsche, Skoda, Seat) tem depositada a maior parte de suas contas no gigante financeiro alemão.

Nestes marcos, a direção do banco anunciou em outubro passado a maior reestruturação a nível interno de sua história. Nos próximos dois anos, seus responsáveis querem a demissão de 35.000 trabalhadores de um quadro de 75.000 (grande parte dos mesmos pela divisão de uma parte do banco) para reduzir os “custos” de exploração e o abandono de 10 países.

O sistema bancário não é tão sólido como parece

A explosão da bolha de capital fictício que explicamos aqui[http://www.ft-ci.org/A-ocho-anos-del-comienzo-de-la-crisis-mundial?lang=es] está começando a ter seus custos. Durante estes anos de festa financeira e das bolsas, um dos instrumentos mais utilizados pelos bancos europeus para reforçar sua base de capital e diversificar fontes de financiamento foram os chamados CoCos, que nomeamos no início.

O Banco Central Europeu (BCE) cumpriu um papel central em promover estas práticas para reforçar seus balanços (*). Estes bônus, de alto risco, foram emitidos de maneira generalizada e com enorme êxito em um mundo em que os investidores buscavam rentabilidade frente à queda das taxas de juros e quando se presumia a fortaleza dos bancos, e finalizado seu saneamento, depois da crise de 2007/8. Em 2011, os bancos europeus emitiram 10 bilhões de dólares nestes produtos com rentabilidades que chegavam a 10%. Parecia um negócio seguro e o risco de não-pagamento, mínimo. Em 2015 foram emitidos mais de 70 bilhões de dólares com rentabilidades que não passavam 4%. Mas a entrada em uma nova fase da crise mundialos transformou rapidamente em um produto do que seus possuidores querem desprender-se, pois poderiam ser obrigados a assumir a perda total de seu investimento.

Vários fatores alentam esta possibilidade: o perigo de colapso dos benefícios pela política de baixas taxas de juros (ou dito de outra maneira a realidade que os bancos se financiam mais barato graças à política ultra acomodatícia dos bancos centrais, mas o impacto de prestar a preços mais baixos é muito maior e, portanto, seus lucros podem ser afetados negativamente de maneira muito importante); a necessidade de uma recapitalização para evitar uma próxima crise; e fundamentalmente a rápida deterioração da economia mundial, que afeta um sistema bancário que havia apostado em crescer nos mal chamados países emergentes e na China, as matérias-primas e o financiamento de infraestruturas públicas.

Neste contexto, não só o Deutsche Bank, mas também seus rivais europeus, entre os quais se destacam Credit Suisse ou Barclays, estão se vendo sacudidos na bolsa por alguns investidores que buscam colocar-se a salvo no rarefeito panorama econômico e financeiro. Sem falar dos bancos italianos, com uma exposição a uma taxa de inadimplência de mais de 16%, um recorde na Europa e que se sustenta artificialmente mediante um plano de resgate frágil que o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, negociou no início de janeiro, em contradição com os princípios do novo mecanismo único europeu de resolução bancária.

Um novo capítulo da feroz guerra financeira entre Estados Unidos e Alemanha

Apesar de que tudo que foi dito anteriormente tem bases materiais, a persistência e a forte difusão dos rumores de quebra sobre um banco como o Deutsche respondem também a uma manobra dos Estados Unidos no cenário da guerra econômica entre Washington e Berlim sobre quem pagará os custos da crise mundial com uma montanha de capital fictício, cuja rentabilidade futura não existe mais, e que no essencial foi jogado pra frente. Assim, entre outros, o banco estadunidense CITIBANK defendia em uma recente nota no passado 28/1 que as relações de capital do Deutsche Bank estão muito abaixo dos de seus competidores e que em 2017 terá um aumento de capital de até 15 bilhões de euros (questão que o próprio banco alemão nesta terça-feira tentou apagar negando a necessidade de tal ampliação de recursos próprios).

A guerra financeira e geopolítica que vem agitando as águas do Velho Continente em especial desde a crise do euro, enquanto que frente aos juros e/ou a possibilidade Alemã de descolar-se da agenda geopolítica que os EUA querem impor à Europa, em especial no conflito sobre a Ucrânia. A realidade é que a nova fase da crise mundial, diferente da atitude unificada imperialista frente à crise financeira e econômica de 2007/8, pode exacerbar as disputas entre as principais potências imperialistas, adicionando um elemento qualitativo de incerteza à realidade meramente econômica, devido a que o controle no manejo da crise vai ser colocado à prova de uma maneira mais dura que em sua resposta à catástrofe aberta depois da queda do Lehman.


(*) No cenário posterior à crise de 2007/8, estes eram apresentados como os títulos perfeito em caso de salvamento bancário: os mesmos são os primeiros a serem transformados automaticamente em ações – antes de recorrer, se for necessário, a outros credores e inclusive aos depositantes – permitindo recapitalizar um banco sem ter que recorrer aos contribuintes e estados. Precisamente por estas cláusulas os proprietários dos mesmos são os primeiros em querer desprender-se deles frente ao brusco giro do contexto econômico.


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