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8107774987 5de2bd7d2d zEstados Unidos - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Como a alta dos juros afeta os Estados Unidos, os países desenvolvidos e o Brasil?


O verdadeiro objetivo por trás da pressão pela alta dos juros se relaciona com a própria podridão da economia. Foto: Chris Butterworth (CC BY-SA 2.0)

Na reunião da Reserva Federal (o banco central dos Estados Unidos), que aconteceu no dia 28 de outubro, as taxas de juros foram mantidas perto de 0%, apesar da pressão dos monopólios para que fossem aumentadas.

A Reserva Federal, que é controlada diretamente pelos principais bancos, alegou que a economia não estaria crescendo o suficiente como para suportar o aumento dos custos dos empréstimos. Em 2007, a taxa de juros se encontrava acima dos 4%. Em 2008, foi rebaixada para 2% e, desde 2009, tem sido mantida em 0,25%.

Em 2008, o fechamento de vagas de trabalho, de acordo com as estatísticas oficiais, chegou às 765 mil.

O suposto crescimento econômico tem sido sustentado, de maneira muito contraditória, por meio do repasse de recursos ilimitados aos monopólios. Em 2008, o sistema financeiro mundial quebrou e todos os monopólios sofreram enormes perdas. Os monopólios foram resgatados por meio de trilhões, escalando o endividamento a níveis inacreditáveis. Somente a dívida pública dos Estados Unidos passou dos US$ 6 trilhões para mais de US$ 18 trilhões; ou seja, em apenas sete anos a dívida que tinha sido acumulada desde a Independência triplicou. E se ainda forem somados os recursos não provisionados com as aposentadorias, MediCare, gastos remanescentes com as guerras do Iraque e do Afeganistão, dívidas das empresas, consumidores e estudantes, o endividamento geral norte-americano dispara para aproximadamente US$ 100 trilhões, ou cinco vezes a “produção” anual. A palavra "produção" deve ser colocada entre aspas, pois, devido às manipulações estatísticas e ao estado de putrefação da economia, entram nos cálculos os componentes da especulação financeira. Por exemplo, as tarifas bancárias e os juros entram no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto).

O conto de fada dos juros

A propaganda imperialista tenta fazer acreditar que os juros baixos têm como objetivo facilitar as compras ultra parceladas que movimentam a economia dos Estados Unidos. Na realidade, isso é apenas um dos componentes do problema.

A economia capitalista se encontra encurralada por uma brutal crise de produção, muito além de uma “mera” crise financeira. As mercadorias não encontram saída por causa da crise, do empobrecimento, da queda do poder de compra das massas. Um certo desenvolvimento da economia é a base, apenas, para realizar as atividades especulativas das quais os monopólios extraem o grosso dos lucros. Mas há um outro componente muito crítico.

Em 2008, as políticas neoliberais colapsaram. Os monopólios não conseguem mais existir sem receberem repasses de recursos trilionários do Estado. Desde 2009, passaram a receber empréstimos ilimitados a taxas de 0,25% ao ano. Esses recursos são direcionados para a especulação financeira. E nem mesmo assim os monopólios conseguiram se recuperar. Vários outros programas têm repassado outros trilhões em paralelo.

Nenhuma engenharia financeira consegue salvar o capitalismo ultra parasitário da crise. Os volumes de capitais fictícios são gigantescos, e somente crescem. O capitalismo de Estado, o capitalismo funcionando nas costas do Estado burguês, é uma caraterística do imperialismo que representa a prova material de que a sociedade tende a se organizar de maneira planejada e centralizada, e que a crise tem na origem a propriedade privada da riqueza mundial pelas 150 famílias que dominam o mundo.

Uma moeda "papel higiênico"?

O mundo tem sido inundado com o dólar norte-americano desde o final da Segunda Guerra Mundial. Os acordos de Bretton Woods (1944) estabeleceram a conversibilidade do dólar ao padrão ouro. Bretton Woods sofreu um calote em 1971, durante a Administração de Richard Nixon, devido à impossibilidade de enfrentar os gastos da Guerra do Vietnã.

O principal mecanismo para emitir dólares é a emissão de títulos públicos. Os principais detentores desses títulos são a Reserva Federal, com US$ 4,5 trilhões, a China, o Japão, a Arábia Saudita, o Brasil e a Rússia. O Brasil possui mais de US$ 260 bilhões em títulos do Tesouro Norte-americano que, supostamente, fariam parte da enfraquecida blindagem da economia. Na realidade, trata-se de um mecanismo para absorver recursos da economia mundial com o objetivo de sustentar os lucros dos monopólios que, de outra maneira, não conseguiriam sobreviver.

O verdadeiro objetivo por trás da pressão pela alta dos juros se relaciona com a própria podridão da economia. O volume de títulos podres que é comercializado tem crescido violentamente e já supera os US$ 6 trilhões. Conforme a crise tem se aprofundado, esse volume tende a aumentar. O problema é que, com a acumulação desses títulos podres pela Reserva Federal, a partir dos programas QE (quantitative easing ou alívio quantitativo) as taxas de lucro dos chamados “high yields”, ou títulos altamente podres, despencaram de 15%, há dois anos, para menos de 4%, para desespero dos especuladores financeiros.

O capitalismo se encontra numa encruzilhada da qual não consegue sair. Não foi possível colocar em pé uma nova política alternativa ao “neoliberalismo”, desde 2008, devido ao gigantesco parasitismo. As políticas tampam um buraco, mas acabam destampando outro.

Para o próximo período, está colocado um novo colapso capitalista de proporções muito maiores que os anteriores. E esta é a base que voltará a colocar em movimento a classe operária mundial, principalmente nos países centrais.

O impacto do inevitável aumento dos juros sobre o Brasil

A próxima reunião da Reserva Federal acontecerá em dezembro e a seguinte em março de 2016. A presidente da Reserva Federal, Janet L. Yellen, declarou que as taxas de juros deverão aumentar no próximo período. Segundo o FOMC (Federal Open Market Committee), que se reúne dois dias antes e estabelece a política, apesar da crise mundial, a situação tenderia a melhorar e a alta dos juros deverá acontecer em breve.

A preocupação das políticas monetárias é manter os lucros dos monopólios a qualquer custo. O problema seriam “apenas” os “fatores imprevisíveis”, tais como a crise na China, a enorme queda dos preços do petróleo e das matérias-primas, a crise nas bolsas, a recessão industrial em escala mundial e o aprofundamento generalizado da crise capitalista mundial em direção a um novo colapso de grandes proporções.

A política prevista é a de aumentar as taxas de juros nos Estados Unidos de maneira gradual, em aproximadamente 1% ao ano. Mas há sempre os “imprevisíveis”. No início de 1980, no auge da crise aberta em 1974, os juros chegaram a 20,5%.

A política de juros baixos para os empréstimos de longo prazo, na década passada, acabou gerando a bolha imobiliária que estourou em 2008. Nos anos seguintes, a migração de capitais levou ao crescimento das bolhas nos países atrasados que deverão estourar no próximo período.

O impacto da alta dos juros nos Estados Unidos sobre o Brasil é que haverá uma fuga de capitais para o “porto seguro” dos títulos públicos dos países centrais. A atração acontecerá por causa da alta dos juros e também pelos ataques promovidos contra o Brasil pelas agências qualificadoras de risco, que, controladas pelos monopólios, estão colocando a dívida pública brasileira no status "lixo".

A política da alta dos juros nos Estados Unidos também tenderá a acirrar as contradições com os demais países desenvolvidos, pois se os imperialismos europeu e japonês mantiverem as taxas de juros baixos haverá, inevitavelmente, uma corrida pelos títulos norte-americanos.

O acirramento das contradições inter-imperialistas e com os países atrasados está colocado à ordem do dia no próximo período. É a política do “salve-se quem puder” a todo vapor. O novo elemento que entrará em cena, também de maneira inevitável, é a movimentação da classe operária mundial.

Alejandro Acosta é cientista social, colaborador do Diário Liberdade e escreve para seu blog pessoal.


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