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Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anuncia novo fundo de investimentos em discurso em EstrasburgoFrança - Opera Mundi - [Lamia Oualalou] Tida como 'blefe', medida foi recebida com ceticismo: bloco entrará com apenas 6% do valor fixado e espera que investidores esqueçam riscos e apliquem o resto.


"Much ado about nothing": o título da peça do genial William Shakespeare ("Muito barulho por nada", em português) seria perfeito para caracterizar o muito aguardado plano de crescimento europeu.

Ao fazer nesta quarta-feira (26/11) o anúncio da criação de um fundo de pelo menos € 315 bilhões destinado a investimentos dentro da UE (União Europeia), o presidente da Comissão Europeia,Jean-Claude Juncker, afirmou que "as necessidades são grandes" e que "este é o desafio de uma geração". No entanto, a questão é que, embora bilionária, a iniciativa depende demais do setor privado e dificilmente fornecerá o impulso de que o bloco precisa para retomar o caminho do crescimento econômico.

"Devemos enviar uma mensagem para a Europa o restante do mundo: a Europa está outra vez na arena", disse Juncker, com um toque de lirismo, na sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França.

O diagnóstico do chefe do Executivo da UE não é novo: um dos principais problemas da economia europeia é a falta de capitais frescos. Segundo a comissão, os investimentos internacionais feitos no continente caíram 15%, quando comparados a 2007, antes da crise econômica.

De acordo com um relatório recente do centro de estudos belga Brugel, esta falta de investimentos representa, em 2014, cerca de € 260 bilhões a menos que poderiam ter sido injetados na economia do continente. E isso só para os 15 países "históricos" da UE — sem levar em conta os 13 membros que entraram depois. A queda é especialmente espetacular na Grã-Bretanha ou na Itália.

Ao todo, projeções da própria UE dão conta de que os 18 países da zona do euro cresçam apenas 0,8% em 2014.

"Choque de confiança"

A ideia de Jean-Claude Juncker é então provocar um "choque de confiança" que seja capaz de virar o jogo. Para isso, foi montada uma importante estratégia de comunicação, lembrando que € 315 bilhões de euros correspondem a mais 1,5% do PIB do bloco. Aparentemente, é uma quantidade de capital suficiente para tirar o "velho continente" da estagnação. No entanto, é necessário lembrar que, nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama destinou mais de 5% do PIB do país na tentativa de dinamizar a economia norte-americana, após a crise financeira de 2008.

Mais do que isso, a medida anunciada por Juncker — cujo nome oficial é FEIE (Fundo Europeu de Investimentos Estratégicos) — não contará de imediato com os € 315 bilhões anunciados. O processo é mais complicado: Juncker e a UE esperam conseguir captar todo esse montante no setor privado. Na realidade, são € 21 bilhões colocados pela própria UE (€ 16 bilhões) e pelo Banco Europeu de Investimentos (€ 5 bilhões) como forma de garantir a projeção das aplicações e, dessa maneira, atrair os investidores privados, que têm evitado embarcar em projetos cuja fase inicial apresenta riscos.

A esperança da UE é que o fundo tenha um efeito multiplicador, dinamizando os investimentos privados. "O dinheiro não vai cair do céu, devemos atraí-lo", reconheceu Juncker.

Mais burocracia

Por enquanto, a única certeza é a expansão da já impressionante burocracia europeia. O FEIE deveria dar luz a um "grupo de especialistas" compostos por membros da Comissão, dos Estados-membros, do banco e de fundos privados. A tarefa do FEIE será facilitar este "efeito multiplicador" esperado, tentando direcionar a maioria dos investimentos privados para atender países do sul europeu, onde as necessidades são maiores — assim como são, também, os riscos.

Por enquanto, o "choque de confiança" não aconteceu. O plano de Juncker provocou ceticismo e decepção no continente. "Esperar um efeito multiplicador de 15 é, na melhor das hipóteses, otimista, mas provavelmente irresponsável", denuncia em um comunicado a ONG Counter Balance, que acompanha há anos o desempenho do Banco Europeu de Investimentos.

"O que apareceu como uma nova bala de prata para financiar grandes projetos de infraestrutura pode acabar tendo um efeito devastador sobre a economia", adverte Xavier Sol, diretor de Counter Balance. O novo fundo quer assumir os riscos na etapa inicial dos projetos para atrair os investimentos privados, "mas isso não significa que os riscos sumirão, só que serão repassados às instituições públicas e aos contribuintes europeus", completa.

Mais austeridade

E esta não é a única incoerência. Paralelamente, a UE prevê endurecer seu discurso de austeridade. Ela deveria, já na próxima sexta (28/11), exigir "esforços suplementares" a França e Itália, cujos déficits continuam descumprindo as regras da zona do euro. Bruxelas pede mais cortes nos orçamentos, o que deveria ter como efeito deprimir a demanda interna.

Juncker aposta numa estratégia perigosa: esperar que o efeito positivo dos investimentos privados projetados com o FEIE seja suficiente para corrigir o impacto negativo da austeridade fiscal imposta aos países-membros. "A Europa esta entrando numa verdadeira esquizofrenia", comenta o acadêmico Benjamin Coriat, que forma parte do coletivo "Economistes atterrés" ("Economistas desolados").

"Por um lado, o bloco continua aplicando um pacto orçamentário muito restritivo, obrigando muitos países a fazer cortes nas despesas. Por outro, percebe que o crescimento está nulo, e que a estratégia esta errada. Mas sem nunca chegar às conclusões necessárias", declara.


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