Nesta terça-feira, 15 de julho, o Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (NUMSA, na sigla em inglês) iniciou uma greve com 200 mil trabalhadores. Os trabalhadores em greve exigem um aumento de 12% nos salários, cerca do dobro da inflação oficial. As empresas oferecem 8%, para os trabalhadores com menores salários. O NUMSA é o maior sindicato do País, e o maior filiado do Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU, na sigla em inglês). A greve deflagrada na terça-feira vem uma semana depois do fim de uma greve dos mineiros das minas de platina que durou cinco meses, envolvendo 70 mil trabalhadores, a maior greve da história do País.
O CNA e o neoliberalismo
A África do Sul é o país mais desenvolvido da África e cumpre um papel de primeira linha na chamada África Negra, que compreende os países localizada ao sul do Deserto do Saara. O entendimento do que aconteceu a partir do governo do CNA (Congresso Nacional Africano), é muito importante, pois efeito parecido poderá ter o colapso do governo do CNA que, a partir das greves mineiras tem se encaminhado para um confronto aberto com os trabalhadores.
A política econômica do CNA representou desde o início uma completa e covarde capitulação ao imperialismo. Toda a receita neoliberal foi aceita e aplicada. Os principais recursos do país foram direcionados para a especulação financeira, sob o controle e para o benefício dos monopólios. Disciplina fiscal tornou-se sinônimo da priorização dos pagamentos da dívida pública a qualquer custo. Neste sentido, o partido cumpre o plano do imperialismo defendendo:
Redução dos gastos públicos: cortar os gastos com os programas sociais e os serviços públicos.
Reforma tributária: redirecionar os impostos para os gastos estatais prioritários, em primeiro lugar, a dívida pública.
Juros de mercado: favorecer o sistema financeiro com a suposta independência do Banco Central (não dos bancos) e a permanência no Ministério das
Finanças do ministro branco racista e neoliberal Derek Keyes.
Câmbio de mercado: deixar a moeda nacional a mercê dos interesses dos especuladores imperialistas.
Abertura comercial: desestruturar a indústria local e abertura para as importações, conforme os interesses imperialistas. Investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições: entregar em massa os recursos nacionais para os imperialistas.
Privatização das estatais: entregar as empresas públicas a preço de banana para os imperialistas.
Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas): reduzir amplamente os impostos dos capitalistas, arrocho salarial, além da situação de verdadeiro vale tudo em favor dos maiores lucros a qualquer custo.
A reforma agrária, uma bandeira histórica do CNA, ficou no esquecimento.
Direito à propriedade intelectual: monopólio tecnológico pelas multinacionais imperialistas, que passaram a usufruir royalties parasitários.
O governo do CNA rejeitou a sugestão da Comissão de Verdade e Reconciliação, que propunha um pagamento de 1% sobre o faturamento das empresas, uma única vez, para levantar fundos com o objetivo de indenizar às vítimas do Apartheid. Sob o controle total do imperialismo, o governo do CNA continuou a pagar as dívidas contraídas pelo regime racista, o que, só até o final da década, custou US$ 4,5 bilhões.
Os preços dos produtos básicos e o desemprego dispararam, milhões de pessoas deixaram de ter acesso aos serviços públicos básicos, como água encanada, energia elétrica e telefonia, devido à impossibilidade de pagar as altas tarifas. A burguesia branca e os monopólios imperialistas continuaram controlando a mineração, principal componente da economia, os bancos e os principais setores, o que está na base do ascenso do movimento grevista desde 2012.
NUMSA rompe com o CNA
Em dezembro do ano passado, no dia 20, o NUMSA rompeu com o CNA e retirou seu apoio eleitoral ao partido. O sindicato fez um chamado ao COSATU para retirar também seu apoio ao CNA. Esse ano o NUMSA pretende realizar um congresso para fundar um partido dos trabalhadores.