Independentemente da maneira como se olha para o cenário, os últimos três anos mostraram que esse sacrifício social tem sido inútil. De todos os modos, como é que essa máquina pode funcionar melhor sem suas correias e engrenagens? Mas o que devemos realmente questionar é a maneira pela qual se tornou aceitável sacrificar tanto em beneficio de algo tão vago como "a economia".
Certamente, "a economia" assume algum tipo de significado geral na consciência pública. A expressão em si traz consigo a imagética da produção e da troca de bens e serviços. No entanto, apesar disso, deveríamos nos permitir a traçar nossas próprias interpretações acerca do termo. Especificamente, cada um de nós deveria ser encorajado a formar uma opinião independente a respeito do que se constitui uma "boa economia".
Ao invés disso, acadêmicos e políticos desonestos promovem a ideia de que existe uma "economia verdadeira" e consideram indiscutíveis os critérios que eles utilizam para avaliá-la.
Não há nenhuma tentativa de explicar com clareza o que é "a economia" para o público em geral. Pelo contrário, esforços são aplicados para que esse conceito permaneça remoto e misterioso, notavelmente pelo uso de fórmulas matemáticas desnecessárias e complicadas. A obra de Friedman, que buscava modelar a economia por intermédio da analise da recessão, é um famoso exemplo que desencadeou um legado duradouro.
Recentes teorias pró-austeridade são, geralmente, claramente delineadas. Porém, eles se fixam no que foi o desenvolvimento gradual de uma categoria separada e impenetrável denominada como "economia". Essa entidade extravagante e deifica da permitiu que 'experts' possam justificar o sacrifício social através de uma lógica simplista e fora de lugar. Os sacerdotes astecas foram capazes de convencer o seu povo de que os sacrifícios humanos agradavam aos seus deuses. De maneira similar, os gaviões da austeridade nos convenceram de que o débito coloca "a economia" em fúria e que alimentá-la de seções inteiras de Estado faz com que fique satisfeita e se acalme.
Não faz sentido algum sacrificar nossos objetivos políticos pela "economia", porque "a economia" é, por si só, um projeto político. Considerações políticas se encontram por detrás de toda definição e teoria econômica. Na economia ortodoxa, o lucro é sempre tido como um fator positivo, mesmo que ele seja oriundo de atividades nocivas. Além disso, o volume de comércio nacional é a medida primária da performance econômica, de modo que pouca atenção é dada à distribuição de riquezas. Sendo assim, mesmo olhando superficialmente, fica aparente o paralelo entre "a economia" uma visão de mundo classista e consumista.
No entanto, nossos políticos nos enganam constantemente ao nos fazer crer que "a economia" é apolítica. David Cameron ao acusar seus rivais disse o seguinte: "eles estão colocando a política em frente da economia!". Aqui "a economia" se refere a um sistema que permanece indiferente à pobreza – desde que ela esteja fora de seu caminho – e polui e destrói o nosso meio ambiente. E isso se dá por colocar o lucro acima de tudo. Mas nada disso vem à tona e a sentença assume uma status axiomático e de senso comum.
Nós deveríamos trabalhar em torno da desmistificação da crença na economia apolítica. Por exemplo, Carrick-Hagenbarth e Epstein escreveram um artigo (Cambridge Journal of Economics, Vol. 36, N.1) que estabelece ligações concretas entre as teorias avançadas desenhadas por muitos acadêmicos pró-austeridade e seus interesses pessoais financeiros. Isso lança luz sobre quão fácil à produção de conhecimento sobre economia pode se tornar um instrumento para poucos.
A política é muitas vezes definida como uma equação sobre quem consegue o quê, como e por quê. Em nossa sociedade, "a economia" é o que determina estas questões. Nós devemos tomar de volta o controle sobre o que nos afeta diretamente e refletir sobre o que é bom para nós,