A suposta “recuperação” dos bancos imperialistas caiu por terra depois do BIS (Bank of International Settlements), espécie de supra-banco central mundial, ter anunciado no recente relatório que os lucros teriam caído devido à queda das taxas relacionadas aos títulos podres (bond yields). O crescente acúmulo desses títulos reflete a podridão da economia capitalista e a falta de tomadores de empréstimos devido ao aprofundamento da crise. Para enxugar esses balanços podres, a Reserva Federal dos Estados Unidos compra nada menos que US$ 85 bilhões mensais de títulos podres pelo valor cheio, o Banco do Japão destinou U$ 750 bilhões anuais à mesma finalidade, o Banco Central Europeu tomou conta diretamente de 80% dos bancos europeus, passando por cima dos bancos centrais nacionais, e assim sucessivamente, pois essa é a norma e não a exceção em escala mundial – os grandes capitalistas parasitando de maneira crescente em cima dos recursos públicos e devido à impossibilidade de obterem lucros nas atividades produtivas.
O Bank of America, por exemplo, detém US$ 315 bilhões em títulos financeiros, dos quais 90% são títulos hipotecários e da dívida pública.
Os títulos públicos norte-americanos, com vencimento a 10 anos, alcançaram a maior taxa em dois anos, de 1,3% em agosto para 2,58%. A compra desses títulos é feita pela Reserva Federal e pelos governos de países estrangeiros. O Brasil, por exemplo, é o quarto maior detentor com US$ 270 bilhões, o que tem gerado perdas em torno a US$ 60 milhões anuais devido às baixíssimas taxas de juros e às tarifas bancárias. A subida das taxas quebra um dos principais mecanismos de repasse da crise para os demais países e de obtenção de dinheiro fácil e barato que tem como destino os monopólios imperialistas.
As taxas de juros começaram a subir e o dinheiro que os especuladores obtinham quase de graça, para aplica-lo quase que integralmente na especulação, ficou um pouco mais caro. A taxa de juros hipotecária passou de 3,59% em maio para 4,17%. O Índice de Compra caiu 3% e o Índice de Refinanciamento caiu 40%, evidenciando que a bolha do refinanciamento estourou.
Quando começou a farra da aceleração do ritmo de impressão de moeda podre, os títulos podres (bondyields) chegaram a render mais de 20% ao ano (2009). Hoje o rendimento caiu para um pouco acima dos 5%. Trata-se de um setor que somente nos Estados Unidos movimenta mais de US$ 3,5 trilhões por ano ... de títulos de calotes, altamente podres!
A reação da Reserva Federal para conter a implosão da bolha financeira foi anunciar que diminuirá o ritmo dos repasses, provavelmente no próximo ano. O sistema capitalista mundial se encontra tão supeditado à especulação financeira, assim como cada vez mais distante da economia real, que até no Brasil houveram consequências graves, como a forte queda das bolsas, a desvalorização do dólar e a redução dos capitais especulativos que entram no País, fundamentais para o fechamento das contas públicas.
De acordo com o 83o relatório anual do BIS os dias em que as economias conseguiam ser mantidas num certo funcionamento sob a base de gigantescos volumes de moeda podre estão chegando ao fim. “... o dinheiro barato e farto dos bancos centrais somente conseguiu comprar tempo ...”. Quando os monopólios obtêm esse dinheiro fácil, não o usam para aplica-lo em atividades produtivas, mas diretamente na especulação financeira ou para jogar para frente os vencimentos. O problema é o circulo vicioso que tem sido criado, devido à falta de alternativas. A redução das injeções de recursos podres na economia provoca o aumento do déficit público e paralisa os monopólios, fortemente alavancados em recursos de terceiros. Os bancos norte-americanos, por exemplo, trabalham com apenas 5% a 11% de recursos “próprios”, sob a base desses repasses.
Os 30 maiores bancos imperialistas, em escala mundial, receberam injeções por US$ 15 trilhões nos últimos quatro anos e por US$ 25 trilhões desde o ano 2000. Os bancos centrais acumulam, de maneira acelerada, assustadores volumes de títulos podres.
De acordo com o BIS, somente o aumento das taxas de juros em 3% provocaria perdas aproximadas de US$ 1 trilhão. E as taxas voltarem ao patamar dos primeiros anos da década de 1980 (acima de 20%)?
E não se trata de um problema que afeta “somente” os bancos, conforme os neoliberais gostam de dizer. Todas as grandes empresas capitalistas estão direcionadas à especulação financeira; todas elas têm a divisão financeira. O parasitismo financeiro, com o distanciamento das atividades produtivas, é um fenômeno típico do imperialismo, que é a junção entre o capital bancário e industrial. E se trata de um fenômeno que não tem volta devido as amarrações criadas pelo próprio desenvolvimento da sociedade. Por esse motivo, e perante a impossibilidade de elaborar uma política alternativa ao neoliberalismo, a burguesia tenta aumentar o repasse da crise sobre as massas, uma nova onda de choque neoliberal, que somente pode ser conseguida sob a base de uma saída de força.