1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

eurocamaraUnião Europeia - PCO - A zona do euro implodirá no curto prazo? Qual é o impacto da saída da Grécia da zona do euro? Qual é o significado da “união bancária” e fiscal?


Nos dias 18 e 19 de outubro, aconteceu a 26a. reunião cume da UE (União Europeia), da qual participaram os chefes de estado dos 27 países, com a pretensão de conter o avanço da crise capitalista na Europa. Nos últimos dois anos e meio, os esforços nesse sentido, promovidos por essas reuniões, que começaram no dia 9 de maio de 2010, têm fracassado. A crise tem crescido dos países menores, Grécia, Irlanda, Portugal e Chipre, até atingir em cheio à quarta economia da Europa, a Espanha, e provocar o aparecimento de rachaduras importantes na Itália, na França e na Grã Bretanha, se expandindo a passos largos para o centro do coração do capitalismo europeu, a Alemanha.

A reunião esteve focada no iminente resgate da Espanha, apesar das declarações à imprensa terem se centrado em relação à união bancária. O governo direitista de Rajoy está esperando a realização das eleições regionais na Galiza e no País Basco. Mas não foi aprovado o resgate direto dos bancos pelo fundo de resgate europeu, o MEDE (Mecanismo de Estabilidade). O próprio estado deverá ser resgatado, para, por sua vez, resgatar os bancos, impondo novas medidas de austeridade que inevitavelmente aumentarão a recessão e implicarão na necessidade de novos resgates.

Além dos recursos que serão usados para socorrer os bancos falidos, o BCE (Banco Central Europeu) comprará títulos públicos nos mercados secundários (varejo) como o objetivo de evitar a disparada dos juros e, ao mesmo tempo, garantir os lucros dos especuladores financeiros.

Os especuladores financeiros têm mantido a pressão contra o Reino Espanhol. A agência qualificadora de riscos Moody’s somente manteve a nota por cima do status lixo sobre a premissa de que o resgate acontecerá.

Os títulos públicos com vencimentos a 10 anos têm se mantido um pouco acima dos 5% sob a mesma condição, após terem ultrapassado os 7%.

Um dos principais impactos imediatos do aprofundamento da crise na Espanha reside em que a meta do déficit público imposta pela UE para este ano, de 5,6%, será superada de longe. De acordo com as regras atuais, esta situação acarreta fortes multas e a imposição de medidas ainda mais draconianas.

A bancarrota em larga escala da Espanha desataria, em efeito dominó, a bancarrota do sistema capitalista mundial, pois, devido a tratar-se da quarta economia da Europa é irresgatável. O contágio avançaria imediatamente para a Itália e, logo a seguir, para a França. A Alemanha seria a próxima vítima. Os especuladores financeiros norte-americanos, britânicos e japoneses se encontram fortemente contaminados pelos títulos alemães e franceses. 

A zona do euro implodirá no curto prazo? 

Conforme a chanceler alemã, Angela Merkel, deixou claro com a recente visita a Atenas, o imperialismo alemão evitará ao máximo a saída dos integrantes da zona do euro, a começar pela Grécia.

A Alemanha se transformou numa lavanderia de capitais especulativos que afluem dos países mais endividados para o centro financeiro, em Frankfurt, devido à disparada da aversão ao risco, onde são estacionados a taxas de juros próximas a 0%, e retornam àqueles países, na forma de empréstimos públicos, a taxas várias vezes superiores. Estas diferenças estão na raiz da relativa bonança vivida pela Alemanha na comparação com os restantes países da região, mas não resolve o grande problema da economia. No centro da questão está queda da produção industrial nos principais países da região, e particularmente na Alemanha, provocada pela redução da demanda impactada em cheio pela crise capitalista, que tem levado ao aumento exponencial da especulação financeira.

A desintegração da zona do euro, provavelmente, não será imediata, conforme os economistas burgueses da ala esquerda têm vaticinado para os próximos dois anos – verificar as previsões de Paul Krugman e Nouriel Roubini por exemplo. O imperialismo alemão tentará impor a monetização das dívidas nacionais em larga escala após as eleições gerais que acontecerão do final do próximo ano.

No curto prazo, Merkel precisa evitar um desgaste maior da direita e, ao mesmo tempo, obter a aprovação doBundestag (parlamento alemão) para promover a escalada dos resgates, pois, particularmente no caso da Espanha implicarão no aumento da exposição ao risco da própria Alemanha. A pesar da gritaria dos setores da esquerda do imperialismo alemão, os socialdemocratas do PSD e A Esquerda (Die Link), as alternativas são muito reduzidas e passam pela imposição do aperto do controle sobre os estados nacionais como condição para monetizar as dívidas nacionais em escala maior. O efeito colateral tem sido o inevitável aumento exponencial do endividamento alemão, como o preço pago para evitar o colapso dos mecanismos especulativos e a implosão da zona do euro no curto prazo. As consequências dessa política, que já está em andamento em escala menor à pretendida, podem ser observadas hoje nas outras grandes potencias imperialistas, os EUA, o Japão e a Grã Bretanha – gigantescos endividamentos e déficit públicos, e economias paralisadas, com a única “saída” de continuar aplicando versões semirecicladas das mesmas políticas.

Com o objetivo de impedir a corrosão do regime político, perante o futuro sombrio, a burguesia alemã está tentando impor uma nova Grande Coalisão, nos moldes da que aconteceu em 2005, para as eleições gerais de 2013. Salvar a direita alemã da bancarrota, cujo prenúncio foi visto nas sucessivas derrotas nas eleições regionais, nos Lands, é condição indispensável para facilitar o repasse do peso das novas políticas para as massas trabalhadoras alemãs. 

Qual é o impacto da saída da Grécia da zona do euro? 

O problema da saída da Grécia da zona do euro está relacionado, em primeiro lugar, com a manutenção do pagamento dos serviços da dívida pública. Para a especulação financeira, que domina a economia capitalista mundial, é vital minimizar os estragos da disparada das indenizações dos CDS (credit default swaps), que são uma espécie de seguro sobre as apostas e contra-apostas sobre as transações financeiras, e evitar a bancarrota dos bancos imperialistas que operam no País – o banco francês Credit Agricole, por exemplo, reportou nestes dias um novo prejuízo de € 2 bilhões na Grécia; o mesmo tem acontecido com os demais bancos franceses e alemães e as empresas não financeiras.

O grosso do endividamento grego tem sido transferido do setor privado estrangeiro para os bancos que operam na Grécia, e deverão ser resgatados pelo estado no caso de falência, e, em maior escala, para o BCE (Banco Central Europeu) e os bancos centrais dos países da zona do euro, principalmente o Bundesbank (o banco central alemão), o que implica na piora generalizada da qualidade dos balanços dessas instituições no caso de uma moratória.

Até aí nada irreversivelmente catastrófico devido a que a economia grega representa apenas 2,5% da zona do euro. O perigo para a UE (União Europeia) imperialista está nas grandes potências da região, em primeiro lugar a Espanha e a Itália, principalmente, levando em conta as centenas de bilhões de euros do BCE dos quais os sistemas financeiros desses países são dependentes para funcionarem no dia a dia devido à seca do crédito interbancário. Portanto, o verdadeiro perigo de implosão da zona do euro reside nas consequências que a moratória grega teria sobre esses países, principalmente sobre o Reino da Espanha, cuja economia, devido ao tamanho, a terceira maior da Europa, é irresgatável.

Na reunião cume da UE, foi publicada uma declaração de apoio ao governo grego, mas a “solução” do problema foi adiada para a reunião dos ministros das finanças da zona do euro que acontecerá no próximo mês. A provável “solução” de fato não é uma solução, mas um novo remendo, e bastante frágil. Ela deverá focar o adiamento das metas para o déficit fiscal, provavelmente em dois anos, e a imposição de planos de austeridade ainda mais duros.

A pergunta óbvia, é, como a falida economia grega suportará a continuidade dos planos de austeridade? São cinco anos consecutivos em recessão, uma dívida pública (oficial) que ultrapassa os 160% do PIB, uma contração prevista para este ano de, pelo menos, 6% e taxas de desemprego galopantes.

Como as massas trabalhadoras reagirão a esses novos ataques? As novas, e inevitáveis, medidas continuarão abastecendo o crescimento dos protestos sociais. De qualquer maneira, a evolução, no próximo período, deverá ser o aumento da organização e a ultrapassagem da burocracia sindical e da frente popular. A tendência geral, conforme também está sendo demonstrada pelo aumento dos protestos na Espanha e Portugal nos últimos dias é ao enfrentamento direto entre o proletariado e a burguesia. 

Qual é o significado da “união bancária”? 

O assunto que mais foi publicitado na reunião cume foi a “união bancária”. Em junho, tinha sido aprovado um calendário para promover a união bancária e a recapitalização direta dos 6.000 bancos e caixas que operam na UE que previa a entrada em funcionamento no dia 1o. de janeiro de 2013.

O BCE (Banco Central Europeu), que é controlado pelo imperialismo alemão, deveria começar a supervisionar os bancos da UE a partir do próximo ano, mas, por imposição do governo alemão, somente serão contemplados os bancos que tenham sido resgatados pelo novo fundo de resgate europeu, o MEDE (Mecanismo de Estabilidade), e submetidos às condições impostas pela UE. O início deverá ser um ano e meio após ao inicialmente acordado, em 2014. Não serão contemplados os demais bancos, inclusive os bancos “ruins”, que deverão acumular os títulos podres, conforme também tinha sido acordado.

A “união bancária” significa o aumento da hegemonia alemã e o aumento da submissão das demais potências a essas políticas. Principalmente, para a França significa o abandono definitivo da UDM (União do Mediterrâneo), por meio da qual pretendia incorporar a mão de obra muito mais barata das ex colônias da região para concorrer com a produção industrial alemã. Ao mesmo tempo, para a Alemanha, significa, como efeito colateral da escalada do parasitismo financeiro, assumir a impiedosa necessidade de aumentar a exposição ao risco dos demais países no contexto em que a crise capitalista na região não parou de se aprofundar a pesar dos trilhões que têm sido repassados para os especuladores financeiros desde o ano passado. Sob o programa LTRO (long term refinancing operation ou operação de refinanciamento a longo prazo) foi repassado € 1 trilhão para os bancos pelo BCE em dezembro e fevereiro. O BCE repassa bilhões repassados para os sistemas financeiros espanhol e italiano continuarem funcionando. O ELA, programa de resgate do BCE, tem repassado bilhões para a Grécia, Portugal e Irlanda. Sob o programa Target 2, os bancos centrais dos países mais fortes, a começar pelo Bundesbank, têm repassado bilionários empréstimos (mais uma forma camuflada de resgate) para os bancos centrais dos países mais endividados com o objetivo de evitar o colapso da especulação financeira – os maiores credores da dívida pública alemã, por exemplo, é o imperialismo alemão, tanto por meio do BCE e do Bundesbank quanto pelos bancos privados e os investimentos em ações de empresas e bancos que operam na Espanha e que deverão ser resgatados no caso de bancarrota. Todos esses mecanismos somente conseguiram dar sobrevivida aos mecanismos especulativos durante um certo período. 

O fracasso da contenção da crise capitalista na Europa 

A crise capitalista não foi contida e o centro tem se movimentado em direção aos países centrais. A luta de classes na Europa tem se exacerbado visivelmente na Europa.

A curto prazo, o futuro da zona do euro e da UE é a monetização das dívidas públicas. As consequências já podem ser vistas nas principais potências imperialistas, mas os impactos serão ainda piores devido às diferenças e ao aumento das contradições nacionais. A visão de futuro pode ser descrita graficamente parafraseando o próprio John Maynard Keynes, o pai da ideia de aumentar os gastos estatais a qualquer custo para salvar o capitalismo – “a longo prazo, todos mortos”.

A União Europeia imperialista não poderá ser salva pela união bancária nem pelo tesouro único, conforme foi proposto pela Comissão Europeia, nem mesmo pela união fiscal e a supervisão comum das contas públicas nacionais, conforme proposta do ministro da Fazenda alemão, Wolfgang Schäuble. Estas representam apenas as condições principais do imperialismo alemão para promover as emissões de dívida conjunta, os chamados eurobônus, conforme reinvindicação dos países mais impactados pela crise, encabeçados pelo presidente francês François Hollande.

As propostas das várias alas do imperialismo europeu, assim como também acontece em escala mundial, não passam de mecanismos de “mais do mesmo”, onde o principal objetivo é manter e aprofundar a especulação financeira. Estas políticas deixaram de lado as propagandeadas políticas de crescimento, que há alguns meses Hollande chegou a colocar como sendo o foco da sua presidência. A paralisia é total, pois o avanço da crise é incontível e não depende da ação iluminada de tal ou qual pessoa.

O futuro é a hiperinflação e a depressão econômica que deverão injetar combustível em larga escala para despertar a organização independente das massas trabalhadoras, para a expropriação do punhado de especuladores financeiros que domina o mundo, que tem como condição a destruição do estado burguês que os protege. A implosão da zona do euro deverá encurtar enormemente esse futuro inexorável.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.