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Banco de InglaterraInglaterra - O Diário - [Jorge Cadima] Há dias, na comissão parlamentar inglesa de inquérito à falsificação do índice Libor, foi perguntado a um vice-governador do Banco de Inglaterra se estava confiante que já não houvesse falcatruas. A resposta foi: «não posso confiar em nada, depois de tomar conhecimento desta fossa de estrume [cesspit]» (Telegraph, 9.7.12). Não é todos os dias que se pode concordar com um vice-governador do Banco de Inglaterra. A fossa de estrume em questão é a grande finança. É a banca que «precisa de ser recapitalizada», objectivo que justificaria a destruição das economias e a ruína dos estados. São os «mercados» que têm de ser «acalmados» e para isso precisam que nos cortem direitos, salários, subsídios e feriados. Já é oficial: trata-se duma estrumeira. 


O índice que está no centro do escândalo não é coisa pequena. Segundo o Wall Street Journal (3.7.12) o Libor é usado «para fixar taxas de juros em empréstimos e derivados no valor de 800 triliões de dólares». Um «trilião de dólares», na terminologia dos EUA, é um milhão de milhões de dólares, e 800 triliões de dólares representa 11 vezes o Produto Interno Bruto do planeta inteiro. Este índice é fixado todas as manhãs na City de Londres com base na informação fornecida por 18 bancos e que deveria indicar as taxas de juros pedidas por outros bancos nos empréstimos inter-bancários. O que veio agora a público, na sequência duma investigação iniciada além-Atlântico, é que os bancos em questão (os tais que «não podem falir» porque isso provocaria um «risco sistémico») forneceram informações falsas ao longo de anos. Segundo a imprensa, por vezes a mentira visava satisfazer colegas envolvidos em operações financeiras (autênticas apostas de casino) onde os ganhos ou prejuízos de muitos milhões dependiam do valor do Libor (Telegraph, 1.7.12). Outras vezes, e segundo um dos bancos implicados (Telegraph, 3.7.12), terão sido feitas a pedido do próprio Banco de Inglaterra, preocupado em minimizar os efeitos da crise após 2008. Também sob investigação está o Euribor (Guardian, 3.7.12), congénere do Libor para a zona euro, que é fixado de forma análoga por 50 bancos (Wall Street Journal, 3.7.12). Sujeitos a investigação estão «muitos dos maiores bancos mundiais» (Economist, 7.7.12). «Ao que parece, todo o sector bancário se dedicava a manipular o sistema em proveito próprio e sem se preocupar com as consequências» (Telegraph, 1.7.12).

É quando se zangam as comadres que as coisas se tornam interessantes. Até agora, só rolaram cabeças importantes no maior banco inglês, o Barclays. Curiosamente, o seu chefe máximo – corrido por intervenção do Banco de Inglaterra – era norte-americano e conhecido por ser o banqueiro mais bem pago de Inglaterra (Bloomberg, 3.7.12). Desde 2006 recebeu «100 milhões de libras em remunerações e bonificações» (Guardian, 3.7.12). É o montante que um trabalhador português com o ordenado mínimo ganharia ao fim de 18 700 anos de trabalho, se não lhe cortassem os subsídios de férias e Natal… Desgostoso por ver que o seu talento não era apreciado «o chefe do Barclays ameaça retaliar» (Financial Times, 2.7.12) e divulga informações implicando o Banco de Inglaterra no escândalo. Um comentarista no Financial Times irrita-se e só falta a música do filme O Padrinho: «aqui vai um conselho para o sucessor de Bob Diamond como executivo principal do Barclays: ninguém ameaça o Banco de Inglaterra. Se o fizerem serão deportados. […] não se ameaça o Banco. A City de Londres não é uma espécie de democracia financeira. É uma hierarquia» (FT, 3.7.12). A Reserva Federal dos EUA já divulgou informações de que o Banco de Inglaterra estava silenciosamente ao corrente da fossa de estrume do Libor desde 2008 (Wall Street Journal, 14.7.12).

Aguardam-se ansiosamente os próximos capítulos da telenovela. Mas desconfie-se dos resultados: no seu discurso anual, o Governador do Banco de Inglaterra pediu mais dinheiro público para financiar a banca (Telegraph, 14.6.12). Prometerão que é para obras de saneamento. Mas nem com certificado da ASAE deixará de ser uma estrumeira.


*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2016, 19.07.2012.


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