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040514 adosulÁfrica do Sul - Correio da Cidadania - [Maciel Cover] No próximo dia 7 de maio acontecerão as eleições gerais na África do Sul. O líder do partido que conquistar o maior número de cadeiras na Assembleia Nacional será aclamado como Presidente da República.


Neste contexto eleitoral, três presidenciáveis têm se destacado no cenário político: Jacob Zuma, do Congresso Nacional Sul Africano, (CNA na sigla em inglês); Helen Zille, da Aliança Democrática (DA na sigla em inglês); e Julius Malema, dos Lutadores da Liberdade Econômica (EFF na sigla em inglês).

O líder do CNA e atual presidente da República Jacob Zuma vem sendo investigado pelo Ministério Público pela suspeita de desvio de 238 milhões de randes (o equivalente a quase 60 milhões de reais) para construir sua residência na Província de Kwazulu-Natal, no leste do país. O assunto tem tomado destaque no noticiário nacional e internacional, tendo a representante do Ministério Público Thuli Madonsela sendo indicada pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes de 2014, devido ao seu trabalho neste caso.

A África do Sul atravessa uma onda de protestos diários que ocorrem em todas as partes do país. São grupos de trabalhadores e trabalhadoras em mobilizações espontâneas por acesso a água, energia elétrica, melhoria em estradas, acesso a moradia. Há também protestos organizados por centrais sindicais e mineiros. O mais conhecido foi o caso do "Massacre da Marikana" ocorrido em agosto de 2012, onde a polícia matou 44 mineiros que estavam em greve.

A política do CNA não tem agradado setores sindicais. Em dezembro de 2013, o maior sindicato do país, da categoria dos metalúrgicos (NUMSA, na sigla em inglês), com mais de 330 mil filiados, deixou a central sindical Cosatu, que é aliada ao CNA desde a luta contra o apartheid, pré-1994.

O CNA se mantém no governo graças a uma aliança com o Cosatu e o Partido Comunista. A insatisfação da população com a violência policial, com a dificuldade de acesso a direitos básicos, de acesso a empregos, com os baixos salários pagos pelas mineradoras, tem desgastado o partido de Nelson Mandela e da luta contra o regime racista do apartheid.

No entanto, os partidos de oposição não têm conseguido se mostrar como uma alternativa ao CNA.

A líder do DA, Helen Zille (partido que aparece em segundo lugar nas intenções de voto) é uma jornalista que ganhou destaque em 1978, desmascarando a mentira do governo branco do apartheid, que alegava que Steve Biko morrera em decorrência de uma greve de fome, quando na verdade ele fora espancado até a morte pelo regime do apartheid. Em 2006 Zille foi eleita prefeita da Cidade do Cabo (segunda maior cidade do país) e em 2009 tornou-se governadora da província do Cabo Ocidental.

A maior bandeira da Aliança Democrática (DA sigla em inglês) é a criação de empregos. A grande crítica ao governo do CNA, além da corrupção, é a cobrança dos seis milhões de empregos prometidos na última eleição e que até o momento não foram alcançados. O índice de desemprego no país gira em torno de 25%.

O DA é forte na região do Cabo Ocidental, não conseguindo ter a mesma força em outras regiões do país, sobretudo em províncias populosas como Gauteg (província onde fica a região metropolitana de Johanesburgo) e Kwazulu-Natal, (que conta com a grande cidade de Durban) redutos eleitorais do partido de Jacob Zuma.

O terceiro personagem de destaque nesta disputa eleitoral é o EFF, liderado por Julius Malema. O líder dos "Lutadores da Liberdade Econômica" tem apenas 33 anos, foi dirigente da juventude do ANC, porém foi expulso do partido por conflitos internos. Malema tem sido um dos principais personagens da denúncia do suposto desvio de recursos públicos realizado pelo atual presidente sul africano, e isto colocou o jovem presidenciável em evidência nos noticiários. O EFF tem propostas progressistas como a nacionalização das minas e universalização do ensino superior. Estima-se que 80% das reservas de platina do mundo estão em no subsolo sul africano por exemplo.

No Massacre de Marikana em 2012, Malema foi até o local da greve, recusou a proteção policial e se reuniu com os trabalhadores grevistas, aproveitando para protestar contra Zuma, que não se encontrou com os trabalhadores e se reuniu apenas com os gerentes da Mineradora.

Apesar de ser um partido com menos de dois anos, o EFF conta com uma militância jovem e desponta com 4% na pesquisa eleitoral. É um partido que vem se firmando e tende a crescer nos próximos anos.

Da Cidade do Cabo a Durban, de Pretória a Johanesburgo, estes são os três principais partidos que despontam com possibilidade de vitória nesta eleição sul africana, onde fazem apenas 20 anos que os negros podem escolher representantes e a disputar eleições.

Nas ruas, algumas ideias se repetem na "boca do povo", tais como: "Zuma é corrupto, mas votamos no CNA por causa do Mandela". "Alguns jovens votarão no EFF do Julius Malema, mas os mais velhos votam no CNA, por causa de Mandela, e por ter sido o partido que derrotou o apartheid e libertou os negros".

Malema até tem dito na campanha eleitoral que "o ANC morreu com Nelson Mandela", mas sua tarefa de se afirmar como uma alternativa na política não tem sido fácil.

Na última pesquisa eleitoral, realizada pelo jornal Sunday Times (20/04/2014), o CNA de Zuma está com 65,5% das intenções de voto; em segundo lugar aparece a DA de Helen Zille, com 23, 1%; em terceiro lugar está o EFF de Malema, com 4%. O IFP (Inkatha Freedom Party), liderado por Mangosuthu Buthelezi, aparece em quarto lugar com 2,8% e o Congresso do Povo (COPE), liderado por Mosiuoa Lekota, aparece com 1,3%. O AGANG SA, da líder Mamphela Ramphele, não aparece na pesquisa.

É difícil não acreditar numa possível vitória do CNA. Parece não haver muita água para rolar até o dia 07 de maio, dia em que ocorrerão as eleições. Por hora, os números das pesquisas e as ideias que se repetem nas ruas, nos bares, nas universidades, na rádio, na televisão, nas minas etc. terão que esperar para confirmar mais essa vitória, que, se concretizada, parece mais ser da herança política de Nelson Mandela e dos que lutaram contra o apartheid do que das propostas políticas que se apresentam recentemente.

Maciel Cover é militante da Via Campesina


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