Numa reunião da direção do Partido Democrático, Renzi culminou os ataques que tem vindo a dirigir contra o governo através da aprovação de uma moção em que "agradece" a Enrico Letta o trabalho feito à frente do governo, pelo que este anunciou imediatamente a intenção de apresentar a demissão ao chefe de Estado.
Matteo Renzi fica livre para assumir a chefia do governo depois de há duas semanas ter recuperado o ex-primeiro ministro direitista Silvio Berlusconi para a atividade política. Recebeu-o na sede do PD e estabeleceu com ele uma espécie de "pacto de regime" em que o primeiro objetivo é aprovar uma lei eleitoral que assegure a "estabilidade política" através de um sistema bipartidário – o Partido Democrático, à "esquerda", e a restaurada Forza Italia de Berlusconi, à direita, independentemente do que aconteça com a ala de Alfano. Berlusconi e Alfano desentenderam-se já depois da formação da coligação de Letta, devido ao processo de expulsão do antigo primeiro ministro do Senado, pelo que o veterano e desacreditado chefe da direita deve a sua "ressurreição" ao novo chefe da "esquerda".
Renzi tomou recentemente o poder no Partido Democrático com base no programa de "deitar fora" as figuras tradicionais do partido e derrotando Pier Luigi Bersani. Todas as biografias o apresentam como um político "com pressa e sede de poder", um imitador de Tony Blair e de Obama, com um programa político fluido à mercê das conveniências do neoliberalismo económico. Pretende transformar o PD num "partido ágil e inovador" à imagem da viragem dos trabalhistas britânicos há 20 anos.
Simbolicamente a tomada do poder por Renzi significa a vitória das correntes tradicionais democratas-cristãs sobre o que restava dos velhos Partidos Comunista e Socialista (PCI e PSI), que se diluíram no Partido Democrático. Matteo Renzi é católico, oriundo de uma família democrata-cristã, ele próprio foi chefe do Margherita, um grupo da área da democracia cristã quando o histórico partido se dividiu na sequência das turbulências políticas que se seguiram na Europa à queda do muro de Berlim.
Renzi, que recusa a hipótese de realização de eleições antecipadas, considera que o caminho para o novo governo é no sentido oposto, o de atribuir poderes constitucionais à legislatura em curso de modo a alterar a lei eleitoral segundo o formato já acordado com Silvio Berlusconi.
Renzi recebera Berlusconi na sede do PD em Roma, mesmo depois de este último ter sido acusado. Naquela altura Renzi explicara o projeto de lei eleitoral fabricado com a extrema direita: Quando um partido atinge 35% dos votos adquire imediatamente uma maioria de 53% no mínimo e de 55% no máximo. Se nenhum chegar aos 35% haverá uma segunda volta entre coligações formadas para garantir a maioria, à direita ou "à esquerda" tal como a pratica o PD. As ideias eleitorais de Renzi e Berlusconi foram aprovadas no interior do PD, apesar de 111 votos contra congregados na figura do presidente (honorário) Gianni Cuperlo. O projeto eleitoral retira igualmente poderes ao Senado.