O exército egípcio anunciou ainda a criação de um governo interino e a convocação de eleições antecipadas após um período indeterminado de "transição".
Mohamed Mursi foi destituído e a cúpula militar declarou que "não quer tomar o poder, apenas auxiliar o povo, que pedia ajuda". A praça de Tahrir está cheia de manifestantes aparentemente celebrando a saída de Mursi do poder, mesmo à custa da tutela militar do mesmo.
A Constituição foi suspensa e um governo interino assumirá a delegação do poder pelos militares, verdadeiros donos da situação, ao que tudo indica. De fato, as Forças Armadas cercaram o palácio presidencial desde o momento em que concluiu o prazo dado pelos militares ao já ex-presidente para que abrisse negociações com as forças opositoras. O anúncio de Mursi de que tinha disposição para a formação de um governo de unidade chegou tarde, sendo retido pelos militares e, segundo algumas fontes, impedido de abandonar o país.
Tanques nas ruas, ocupação da TV e rádio públicas e discurso do general que comanda o golpe de estado seguiram-se nas últimas horas, sem que pareça ter consequências violentas nas ruas, na altura de redigirmos esta crônica inicial. Contudo, desde o passado fim de semana já morreram 16 pessoas e centenas ficaram feridas em confrontos e na repressão.
Esquerda preocupada com a deriva que possa impor o Exército
Coincidindo com as forças anti-islamistas, a esquerda revolucionária egípcia mostrou já a sua preocupação com a deriva que a situação venha a ter com a cúpula militar no poder. Tal como a chamada "primavera egípcia" acabou com o islamismo reacionário no poder, o golpe de estado militar pode supor mais uma deriva anti-popular, uma vez que a esquerda, apesar da sua relativa fortaleza social, não consegue impor uma direção revolucionária aos acontecimentos.
Convém lembrar a aliança estreita entre o exército e o governo dos Estados Unidos da América, que o subsidia anualmente com 1.300 milhões de dólares.