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100513 campanhaFilipinas - Esquerda - [Mary Fusen] Na campanha eleitoral já se registaram 35 mortos e 34 feridos. Arquipélago de 7107 ilhas e 97 milhões de habitantes tem 12 milhões a trabalhar no exterior e 23% da população abaixo da linha de pobreza.


As eleições para o senado, congresso, presidentes de câmara e vereadores que serão realizadas no próximo dia 13, estão marcadas pela violência política. Segundo a polícia filipina, desde a abertura do período eleitoral, há pouco mais de três meses, foram registados 58 casos que podem ser considerados de violência politica. Onze já foram confirmados e outros estão sob investigação.

O resultado até agora foi de 35 mortos e 34 feridos em 51 incidentes onde houve tiroteio e dois casos de explosão de granadas.

Até a apuracão dos votos, é possível que esse número aumente, já que as eleições entram na reta final, com todas as cidades forradas de cartazes, carros equipados com altifalantes a circular com slogans das campanhas, comícios e vários candidatos a percorrer as principais cidades, como o senador Enrile, que promove desfiles com uma centena de motocicletas, cujos pilotos são devidamente pagos pela tarefa, no vale-tudo que marca o período eleitoral. Como comentou certa vez um ex-político de Bicol, no sul da ilha de Luzon: "O dia da eleição é o único dia em que os candidatos se vão lembrar de si. Nesse dia, estarão dispostos a pagar 100 pesos, 500 pesos, ou até 1000 pesos pelo seu voto. No dia seguinte, eles já não vão lembrar-se que você existe."

Descarrilamento da Revolução Poder Popular

A violência eleitoral que está a ocorrer é uma manifestação do descarrilamento da Revolução Poder Popular, como ficou conhecida quando, em 1986, as massas filipinas tomaram as ruas e derrubaram a ditadura de Ferdinand Marcos, levando ao poder Corazón Aquino.

A revolução democrática filipina, cujo objetivo era reimplantar a democracia, ao invés de prosseguir nas tarefas democráticas, levou à formação da atual raquítica democracia da República das Filipinas, arquipélago de 7107 ilhas, povoado por 97 milhões de habitantes de diversas etnias que sobreviveram à espanholização do país, desde que o navegador português Fernão de Magalhães, sob a bandeira da Espanha, aportou nessas paradisíacas ilhas. Desde então, as Filipinas só se equiparam a alguns países europeus no que diz respeito ao desemprego, que atinge duramente a população e mantém 28% abaixo da linha de pobreza. Essa situação tem obrigado nada menos de 12 milhões a trabalharem no exterior ou imigrarem definitivamente para poder sustentar os familiares que permaneceram.

Uma vez derrubada a facção de Marcos, o que a história demonstrou foi que o país continuou a ser dominado pelos velhos feudos familiares, como o da própria Corazón Aquino, mãe do atual presidente, e outras proeminentes famílias filipinas. Cabe lembrar que as organizações dos trabalhadores continuam na clandestinidade ou semiclandestinidade. O motivo principal dessa situação é que a revolução democrática, ao não resolver a maior parte das tarefas democráticas que deveria, entre elas a ampliação da democracia e a reforma agrária, fez com que várias organizações étnicas, como as guerrilhas islâmicas ou mesmo de origem operária e camponesa, como o Novo Exército Popular, braço armado do Partido Comunista das Filipinas, maoísta, não depusessem as armas, mantendo o país em contínua guerra civil. Ainda que o governo negue a existência desta, para, principalmente, não afugentar os investimentos estrangeiros, num momento em que a economia filipina é uma das poucas a crescer numa economia mundial em crise.

As atuais eleições, onde o Partido Liberal, do atual presidente Benigno Aquino, deverá obter a maior votação, transformaram-se, devido à ausência da participação livre dos partidos da classe trabalhadora, numa eleição exclusivamente de partidos direitistas, não democrática.

Faroeste político local

A atual violência política diz respeito, principalmente, aos conflitos nas áreas dominadas pela guerrilha maoísta do NEP, que cobra portagens aos candidatos que querem fazer campanha. E, também, do faroeste político local, onde os grupos rivais, montando bandos armados, tentam resolver a tiro velhas rixas políticas.

Depois de Corazón Aquino, o ex-presidente Joseph Estrada foi deposto pelo Supremo Tribunal, em 2001 e, agora, a também ex-presidente Glória Macapagal-Arroyo, cuja marca principal de governo foi a corrupção, está a ser processada por isso, demonstrando a fragilidade do atual regime democrático.

Não podemos esquecer que continua inconcluso o massacre de Maguindanao, ocorrido em 2009. Durante as eleições desse ano, quando um grupo de pessoas se dirigia para registar a candidatura oposicionista de Esmael Mangudadatu, vice-presidente da câmara de Buluan, foram brutalmente assassinados a mando do governador da província de Maguindanao, Andal Ampatuan. Foram mortos a mulher do candidato Mangudadatu, 34 jornalistas que acompanhavam o grupo, advogados, apoiantes e motoristas naquele que foi um dos principais casos de violência politica nos últimos anos.

O raquitismo da democracia filipina não é uma exclusividade deste arquipélago, mas uma das características principais da maioria dos países asiáticos.


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