A surpreendente votação obtida por Martine le Pen, do Front National – FN ( 17,9 % ), mais do que um aumento do apoio a esse movimento neofascista, expressou o descontentamento de milhões de franceses que sofrem duramente os efeitos da crise.
Mas Sarkozy, na esperança de conquistar os votos da extrema-direita, começou imediatamente a cortejar o Front National. «Respeito-vos, escuto-vos, de certa maneira compreendo-vos» - declarou dirigindo-se aos eleitores de Martine de Pen. Num comício, sublinhando a «legitimidade» da FN, afirmou que os seus votos serão bem-vindos.
A guinada à ultra-direita do discurso de Sarkozy é tão ostensiva que não hesita em hostilizar a jornada do Primeiro de Maio. Por iniciativa sua, no Dia dos Trabalhadores, vai realizar se uma contra-manifestação anti-sindical, para homenagear «o verdadeiro trabalho».
Nessa escalada reaccionária, apelou ao reforço de poderes às forças da repressão, a propósito da detenção de um polícia que assassinou um magrebino, um jovem abatido por um tiro que o atingiu na nuca quando fugia. Mas para Sarkozy, o matador agiu em «legitima defesa». Nas intervenções na Televisão insultou o diário «L'Humanité», usando uma linguagem tão primária que trouxe à memória a dos colaboradores da época de Petain.
O namoro ao Front National dificilmente se traduzirá, porem, no apoio maciço da extrema-direita. Martine le Pen registou com satisfação as palavras do presidente cessante. Mas exige dele algo que o partido do governo, a Union pour un Mouvement Populaire - UMP, rejeita liminarmente: só o apoiaria se Sarkozy se comprometesse a pedir aos seus eleitores que na segunda volta das próximas legislativas, em Junho, votassem pelos candidatos do FN quando estes enfrentassem socialistas.
A provável vitória de François Hollande no dia 6 de Maio não deve, porem, gerar ilusões.
A rejeição pela maioria dos franceses das medidas de «austeridade» de Sarkozy é tão forte que, sob a pressão popular, Hollande terá de mudar alguma coisa. Certamente a França vai distanciar-se um pouco da política imposta à União Europeia pela senhora Merkel e tudo indica que a vassalagem perante os EUA será atenuada. É positivo que se tenha já comprometido a retirar do Afeganistão as tropas francesas antes do final do ano.
Mas Hollande nada tem de socialista. Se eleito, dará continuidade, com outro discurso e outro estilo, à politica neoliberal dos últimos governos, incluindo o do seu colega de partido Leonel Jospin.
Hollande é, no actual contexto, o mal menor. Votar nele, para milhões de franceses, será votar contra Sarkozy.
OS EDITORES DE ODIARIO.INFO