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250312_eleicoesfrancaFrança - PCO - Apesar da tendência à polarização do teatro eleitoral, onde o candidato favorito da burguesia é François Hollande, do Partido Socialista Francês, outros candidatos burgueses e pequeno-burgueses postulam o cargo


A poucas semanas das próximas eleições presidenciais que acontecerão na França, nos próximos dias 22 de abril, em primeiro turno, e 8 de maio, em segundo turno, e por trás de toda a demagogia, o verdadeiro desafio que o regime resultante dessas eleições deverá enfrentar é a implementação do plano de austeridade já aprovado pelo governo Sarkozy, assim como a implementação de novas medidas contra as massas trabalhadoras.

O denominador comum dos candidatos é a defesa do regime burguês e a não adoção de qualquer medida que questione o domínio do sistema financeiro parasitário.

Os candidatos da direita tentam se apresentar como os paladinos da salvação dos lucros dos especuladores financeiros e do aumento dos ataques contra as massas trabalhadoras. Os candidatos da esquerda burguesa se apresentam como os salvadores do regime burguês através de medidas de contenção das massas trabalhadoras, principalmente implementadas através de programas que servem como colchão social. Os candidatos da esquerda pequeno-burguesa apresentam propostas mais agressivas em relação à melhoria das condições dos trabalhadores, mas sem considerar nenhuma medida efetiva que busque a ruptura do regime burguês.

Nicolás Sarkozy tenta canalizar os votos da direita e da extrema direita

Nicolas Sarkozy é o atual presidente da França e candidato à reeleição pela direitista UMP (União por um Movimento Popular) sob o lema "uma França forte". Ele escalou rapidamente a hierarquia burocrática da UMP, após ter sido nomeado como ministro do Interior no governo de Jacques Chirac em 2002, e foi eleito presidente da República em 2007, após ter derrotado a candidata do PSF (Partido Socialista Francês), Ségolène Royal.

Às vésperas das próximas eleições, Sarkozy disputa os votos da direita e da extrema direita em completo alinhamento com os representantes diretos dos especuladores financeiros na Europa.

Na tentativa de disputar os votos da direita e os setores gaullistas, Sarkozy tem ameaçado demagogicamente promover o fechamento das fronteiras da França, o cancelamento a participação no acordo de Schengen, e revisar a participação do País no mercado único e de livre comércio na UE (União Europeia). Os seus ataques contra os imigrantes têm ficado cada vez mais exacerbados.

Os seus pontos fracos relacionam-se com o acelerado aumento da sua rejeição pelas massas trabalhadoras e a descrença de importante setores da burguesia imperialista sobre a sua capacidade para contê-las. A tendência ao desgaste eleitoral da direita já tinha ficado clara nas eleições parlamentares de março de 2011, quando a UMP recebeu 36% dos votos, 7% a menos que nas eleições cantonais de 2004.

Apesar das recentes pesquisas atribuírem um aumento da intenção de votos à sua candidatura devido ao aumento dos recursos de campanha e da propaganda promovidos pelos setores mais reacionários da burguesia imperialista, ao mesmo tempo, todas elas dão como certa a sua derrota por larga margem para o candidato do PSF no segundo turno.

O fracasso de Sarkozy representa um fator de crise importante da direita francesa pois, apesar de ter seguido a cartilha "neoliberal" e ter promovido o repasse de recursos públicos em larga escala para os especuladores financeiros, não tem conseguido conter o crescente descontentamento popular. O fantasma das revoltas de 2005 ronda a burguesia francesa.

François Hollande é o favorito da burguesia imperialista, pois é o candidato burguês com melhores condições para conter os trabalhadores

François Hollande é o candidato do PSF (Partido Socialista Francês) sob o slogan "A mudança é agora".

Membro do PSF desde 1979, participou do governo de François Mitterand, depois da sua vitória em maio de 1981, tem sido eleito como deputado da primeira circunscrição desde 1988 e foi primeiro-secretário do PSF desde 1997 até 2008.

O PSF, que sofreu forte desgaste com os governos de François Mitterrand, que governou o País entre 1981 e 1995, e Lionel Jospin (1997-2002), e perdeu as eleições presidenciais em 2002 para o direitista Jacques Chirac, representa a principal alternativa da salvação do regime burguês ao final do processo que está levando ao completo desgaste do governo Sarkozy.

As ligações da direita com os setores mais reacionários do imperialismo, assim como os interesses coloniais da burguesia francesa na África, que se tornou evidente por meio de várias denúncias de volumosas doações de governos africanos para vários candidatos, são um dos pontos fracos que estão sendo explorados pelo PSF.

A retórica demagógica contra a especulação financeira tenta desligar o PSF da crescente impopularidade de Sarkozy que representa o imperialismo francês decadente a reboque do imperialismo alemão. As diversas declarações de Hollande contra as "maldades" do "mundo das finanças", assim como as taxas que pretende aplicar sobre as operações especulativas sempre vêm acompanhadas de afirmações como, por exemplo, que participarão "todos os sócios europeus que o desejarem".

A extrema direita fica como uma carta na manga da burguesia imperialista

Marine Le Pen é a candidata da ultradireitista FN (Frente Nacional) que representa o norte industrial decadente da França. Ela tem tentado refinar o discurso ultrarreacionário do seu pai, Jean Marie Le Pen, com o objetivo de evitar aparecer como uma organização abertamente fascista. Ela propõe a saída da França da UE (União Europeia), se diz contrária à "globalização" e ao "livre comércio", se opõe aos imigrantes e é a favor do retorno da pena de morte. A votação da FN tem se mantido entre os 10% e os 15% do total de votos, com um pico de 16,86% no primeiro turno das eleições presidenciais de 2002.

A burguesia imperialista tem fortalecido os movimentos ultradireitistas na Europa como uma carta na manga perante um eventual fracasso das alternativas "democráticas" para manter a espoliação das massas trabalhadoras em benefício dos especuladores financeiros. Mas essa política tem sido dosada em função do temor do avanço revolucionário provocado pela aceleração dos ataques contra as condições de vida das massas trabalhadoras, os programas sociais, a repressão contra os imigrantes e o acirramento das contradições interimperialistas, principalmente com o imperialismo alemão, no caso da retirada da França da UE.

Os candidatos de direita menores são coadjuvantes do teatro eleitoral polarizado entre Sarkozy e Hollande

Os candidatos menores da direita francesa aparecem como meros figurantes no esforço da burguesia imperialista para polarizar a campanha eleitoral.

François Bayrou é o candidato da direitista UDF (União para a Democracia Francesa). Ele aumentou a sua votação de 6,84%, nas eleições presidenciais de 2002, para 18,56%, nas eleições de 2007, sob a bandeira do combate à dívida e déficit públicos. Agora conta com pouco mais de 10% das intenções de voto.

Bayrou tenta se apresentar perante os eleitores franceses como o único candidato da direita com condições para bater François Hollande. Ele tem notoriedade pública por ter sido ministro da Educação em três governos burgueses e presidente de três partidos políticos de direita, mas o seu partido conta com apenas três deputados.

Nicolas Dupont-Aignan, candidato pela DLR (Debout La République, ou De Pé, República), se apresenta como seguidor das tradições gaullistas e "soveranistas" e busca "a liberação da França da tutela de Bruxelas"; propõe a saída da UE (União Europeia), o abandono do euro e a volta ao franco. Apesar de ter saído da UMP em janeiro de 2007, fez campanha por Sarkozy no segundo turno das eleições do mesmo ano. A votação da DLR não tem ultrapassado os 2,5% e, para as próximas eleições presidenciais, as intenções de votos estão em torno de 1%.

Dominique De Villepin, é o candidato do partido República Unida, fundado por ele mesmo em junho de 2010, após ter rompido com a UMP de Sarkozy. Em 1995, Villepin foi chefe de gabinete do então presidente Jacques Chirac; entre 2002 e 2006, foi chefe de gabinete e ministro do Interior, após Sarkozy deixou esse ministério, em 2004, para assumir a pasta de Economia e Finanças. Mantém explícita rivalidade com o presidente em exercício. Durante esse período, e após a proclamação do estado de emergência em 8 de novembro, ele foi responsável por ter conduzido a violenta repressão aos protestos populares que estouraram na periferia de Paris, em outubro de 2005, e que se estenderam a outras regiões da França e duraram três semanas, tendo se transformado nos maiores protestos no País desde maio de 1968. Em 2003, como ministro das relações exteriores, liderou a campanha francesa contra a invasão do Iraque devido aos contratos das multinacionais francesas com o regime de Saddam Husein.

Villepin conta com 1% das intenções de votos.

Eva Joly é a candidata do Partido Verde (Os Verdes, Confederação Ecologista – Partido Ecologista), que é membro do PVE (Partido Verde Europeu) e tradicional aliado do PSF. Joly é uma juíza de 68 anos de idade que ficou conhecida nos anos 90 pela sua atuação em vários processos contra a corrupção envolvendo o ex-ministro Bernard Tapie, o banco Crédit Lyonnais e a petrolífera Elf Aquitaine. O seu lema de campanha é "o voto justo". O Partido Verde francês, assim como todos os partidos verdes europeus afiliados ao PVE, têm evoluído à direita e se integrado completamente ao regime burguês, na maioria dos casos a reboque dos partidos socialdemocratas, a partir da aceleração da implementação da política do imperialismo nos anos 90 e a acentuada deterioração dos seus resultados eleitorais. Na França, o PV tem atuado como um apêndice do PSF, chegando a participar do governo Jospin em 1997; alcançou o seu auge eleitoral em 1989, quando nas eleições europeias teve 10,6% dos votos e nas eleições municipais, que aconteceram no mesmo ano, teve 9% dos votos no primeiro turno e 15% no segundo. Nas eleições presidenciais de 2002, a sua votação foi de 5,2%, devido ao aumento da rejeição ao PSF, e em 2007, o percentual despencou para 1,57%. As intenções de voto para Eva Joly para as próximas eleições presidenciais são de cerca de 2%.

Jean-Luc Mélenchon o candidato burguês da esquerda da frente popular

Jean-Luc Mélenchon é o candidato do PE (Parti de Gauche ou Partido de Esquerda). Ele aderiu ao PSF nos anos 70, foi eleito senador em 1997 e foi ministro delegado de educação profissional no governo de 1997-2002 do primeiro ministro do PSF Lionel Jospin. Em 2005, se engajou na campanha pelo "Não" no referendo do Tratado da Constituição Europeia, o que o levou a abandonar o PSF. Em 2008, participou da fundação da Frente de Esquerda. Em 2009, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu.

Os principais partidos que compõem o PE são o Partido de Esquerda, formado por dissidentes do PSF, e o PCF (Partido Comunista Francês), um dos principais representantes do chamado eurocomunismo, a ala do stalinismo mais ligada às potências imperialistas europeias durante as décadas de 80 e 90, que entrou em acelerada decadência com a queda da União Soviética em 1991.

Sob o lema de campanha da chamada "revolução cidadã" e a "insurreição cívica", Mélenchon defende várias medidas para a melhoria da situação dos trabalhadores como o salário mínimo de 1.700 euros, a diminuição da idade de aposentadoria para os 60 anos de idade, o aumento dos gastos sociais e a taxação das grandes fortunas e a especulação financeira. Essas melhorias devem, supostamente, ser conseguidas mediante o aumento da representação parlamentar do PE.

Apesar do PE contar com três deputados, dois senadores e um eurodeputado e ter alcançado os 10% das intenções de votos e de ter conseguido mobilizar milhares de manifestantes em comícios, no contexto do aprofundamento da crise capitalista, do gigantesco endividamento do estado e dos bancos franceses, e do direcionamento dos recursos da sociedade para os especuladores financeiros, é praticamente impossível implementar as melhorias prometidas pelo PE sem quebrar a estrutura do regime capitalista controlado pela burguesia imperialista, que somente consegue manter as suas altas taxas de lucro saqueando os recursos públicos, e muito menos através das suas instituições reacionárias.

O objetivo a longo prazo de uma frente política do tipo PE, no contexto atual, é tornar-se um instrumento para a formação de um governo de coalizão da esquerda burguesa francesa com o objetivo principal de conter o avanço das massas trabalhadoras.

Os candidatos pequeno-burgueses da esquerda da frente popular

Nathalie Arthaud é a candidata da UC (União Comunista), ou LO (Lutte Ouvrière ouLuta Operária), organização que se reivindica trotskista. Ela sucede Arlette Laguiller que foi candidata seis vezes e que, em 2002, teve uma votação histórica de 5,72% dos votos e, em 2007, de 1,34%. Entre as principais bandeiras da campanha de Arthaud estão que as demissões dos trabalhadores sejam proibidas, que o trabalho existente seja distribuído entre todos os trabalhadores, sem terem os seus salários diminuídos, e que os salários sejam indexados à inflação.

A UC, que é a principal organização da UCI (União Comunista Internacional), já tentou, nas eleições presidenciais de 2007, integrar a frente popular através da aproximação com o NPA (Novo Partido Anticapitalista) e até com o PSF, impulsionada pela escalada da reação direitista que levou Sarkozy ao poder e que aumentou a pressão sobre a esquerda pequeno burguesa, perante o aprofundamento da crise do regime burguês na França e a tentativa de conter a escalada dos protestos populares que tinham se aprofundado a partir de novembro de 2005.

A integração dos partidos da "extrema esquerda" na frente popular visa subordina-los, junto com as organizações populares e proletárias, aos interesses da burguesia, dentro dos marcos da legalidade do regime burguês, e reflete o aprofundamento da crise capitalista, que corrói a estabilidade das instituições burguesas, e a posição defensiva da esquerda pequeno-burguesa.

Philippe Poutou é o candidato do NPA (Novo Partido Anticapitalista), antiga LCR (Liga Comunista Revolucionária), fundada por Ernest Mandel, e principal partido do SU (Secretariado Unificado) da IV Internacional. Poutou, que foi mecânico da Ford e sindicalista da CGT, conta com apenas 0,5% das intenções de voto, o que representa o descalabro do projeto político do NPA, focado na total integração ao estado burguês. Olivier Besancenot, candidato do NPA nas eleições presidenciais de 2002 e 2007, teve em torno de 5% dos votos.

O NPA foi fundado em fevereiro de 2009, após o relativo sucesso eleitoral de 2007, com objetivo de concorrer às eleições europeias de 2009 e negociar uma frente eleitoral com o PCF e o PE, e outras organizações menores como a LO. Do ponto de vista teórico, trata-se da continuidade das posições de 2003, quando a LCR renunciou oficialmente à luta pela ditadura do proletariado, colocando em prática as teorizações de Ernest Mandel que defendia a "democracia socialista" contra a ditadura do proletariado, e passou a procurar organizar uma ampla "frente de revolucionários", que, na prática, seria estruturada em cima de um programa e direção pequeno-burgueses, sem nenhum vínculo com a luta da classe operária e das suas organizações, principalmente os sindicatos.

O congresso de fundação do NPA eliminou os princípios fundamentais do marxismo e se distanciou definitivamente do trotskismo.

O NPA, como típico partido pequeno-burguês, tem buscado se constituir, em aliança com o PE, numa alternativa à esquerda do PSF, que, apesar do relativo sucesso atual perante a decadência da direita, tem sido impulsionado pela burguesia imperialista.

O NPA está ligado no Brasil à DS (Democracia Socialista), que tem uma parte dos seus membros atuando no PT, inclusive no governo, e outra no PSol -

a corrente (Enlace) dirigida por Heloísa Helena.

Os partidos pequeno-burgueses, tanto na França como no Brasil e nos demais países, não têm nenhuma relação com a luta revolucionária da classe operária.

As eleições e a política da burguesia diante da crise capitalista

O colapso do governo Sarkozy dará lugar, provavelmente, ao governo do "socialista" Hollande, mas este será obrigado a aumentar os ataques contra as massas trabalhadoras, pois inclusive não terá outra escolha. Neste contexto, uma nova frente popular poderá ser impulsionada, inclusive com a participação de agrupamentos pequeno-burgueses da esquerda e até da "extrema esquerda" com o objetivo de conter o eminente avanço do movimento operário no próximo período, perante a agudização da crise capitalista, e impedir a organização independente do proletariado.

Diante da política de construção de partidos de esquerda, sem conteúdo de classe, sem programa socialista e revolucionário, sem tática de luta revolucionária, é preciso reafirmar a necessidade da construção de partidos operários, que organizem a classe operária para a luta, com um programa revolucionário de expropriação do capital e de luta pela ditadura proletária e o socialismo.

A luta contra a burguesia mundial requer a luta pela independência dos trabalhadores contra as tendências conciliadoras e liquidacionistas da esquerda pequeno-burguesa, no seio na classe operária, que se adaptam, qual verdadeiros camaleões, para conseguir um lugar ao sol no regime burguês.


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