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221115 impfrFrança - Esquerda Diário - [Diego Lotito e Josefina L. Martínez] Depois dos brutais atentados de Paris e as declarações belicistas de Hollande voltamos a escutar nos meios de comunicação discursos carregados de islamofobia, xenofobia e outros "valores europeus"


"Estamos em guerra", disse Hollande; tudo para salvar a "República Francesa" dos "bárbaros" que a ameaçam.

Para isso a França se veste de verde militar, redobrando as operações militares na síria e no Sahel africano, enquanto Hollande faz seu o discurso de guerra contra o terrorismo e a política de Bush e dos neoconservadores pós 11S, assim como a agenda xenófoba e racista de Marine Le Pen.

Um "estado de guerra" que se mostra internamente com o "estado de emergência" e o ataque as liberdades democráticas mais elementares, que Hollande acaba de transformar em um verdadeiro "estado de exceção permanente", fazendo votar na Assembléia Nacional o endurecimento da lei de 3 de abril de 1995 - atualmente em vigor- com o apoio de todo o arco político governista e opositor, e até (escandalosamente) pelo Front de Gauche de Jean Luc Melenchon.

Por isso se faz tão apropriada a frase que serve de título a esse artigo, lembrada faz poucos dias por um amigo. Como disse Marx faz muito tempo referindo-se à República Francesa: Só faltava uma coisa para completar a verdadeira face desta república: (...) substituir seu lema de Liberté, Égalité, Fraternité por essas palavras inequívocas: Infantarie, Cavalarie, Artillerie! (O 18 Brumário de Luís Bonaparte)

Xenofobia, Islamofobia e belicismo imperialista.

Segunda-feira a meia noite, na mesa do programa de notícias mais visto na televisão espanhola, um acad emico "especialista em estudos árabes" se coloca com definições que destilam a mais rançosa islamofobia. Diz, retomando as já trilhadas e não menos errôneas teses de Huntington, que estamos diante de um "choque de civilizações" e que o "terrorismo islâmico" é quase imanente ao Islã.

Um discurso reacionário carregado de ideologia racista que também se propagou depois dos atentados em Paris em Janeiro. Porém agora combina-se com a chamada "crise migratória" e a chegada de centenas de milhares de refugiados às fronteiras europeias, que vem alimentando ainda mais as tendências islamofóbicas e xenófobas.

Na Alemanha, a direita já vinha pressionando Angela Merkel para endurecer mais ainda as restrições aos refugiados, acusando-a de ter uma política de "fronteiras abertas". Uma crise de grande magnitude dentro da coalizão do governo alemão, com duros questionamentos em suas próprias fileiras. Movimentos com Pegida e Alternativa pela Alemanha voltaram a organizar mobilizações racistas nas últimas semanas e aumentaram os ataques diretos contra centros de acolhida de refugiados.

O partido de extrema-direita da Polônia, Lei e Justiça (PiS), ganhou as eleições e depois dos atentados de Paris anunciou que não aceitarão mais refugiados, colocando-se na vanguarda da xenofobia europeia. Ainda que a Hungria não fique atrás em relação a políticas xenófobas, com a construção de cercas nas suas fronteiras e ameaças de prisão para os que cruzem ilegalmente a fronteira. O governo de Viktor Orban anunciou inclusive que levará aos tribunais o plano de Bruxelas de "divisão" dos refugiados.

Em toda a Europa faz tempo que vem fortalecendo-se tendências de extrema-direita, com discursos xenófobos, racistas, homofóbicos e nacionalistas. Mas foi as novas e brutais ações do Estado Islâmico no coração do Ocidente que deram rédeas soltas a uma profunda islamofobia que identifica Islã e barbárie terrorista em oposição aos supostos "valores democráticos" da Europa "civilizada".

Um narrativa em que a guerra e o "estado de exceção permanente" se justificam em defesa da "democracia", a "liberdade" e os "valores europeus". Velhas definições abstratas que escodem uma ideologia imperialista, belicista e xenófoba.

A islamofobia e a xenofobia estão entre os fundamentos "ideológicos" das guerras imperialistas que preenchem boa parte do mundo. Uma tarefa "civilizatória" dispensada em forma de bombas e drones assassinos.

Hoje a França reafirma sua vontade guerreira e intensifica os bombardeios sobre a Líbia em nome da "liberdade". Porém a mais de uma década o Estado Francês vem multiplicando suas intervenções militares imperialistas no Oriente Próximo e na África, uma política intervencionista que cresceu ainda mais desde a eleição de Hollande. Mali, República Centro-Africana, Iraque, Líbia, Síria. Uma guerra por ano.

As intervenções militares imperialistas e a ruptura do equilíbrio geopolítico histórico no Oriente Próximo foram um fator fundamental que explica o surgimento de grupos como a Al Qaeda e o EI, muitos das quais foram deus aliados no passado.

Os Estados Unidos financiou durante a década de 80 diversos grupos islâmicos para utilizar-los como parte dos últimos combates da "Guerra Fria" contra a declinante influência da URSS, para deixar-los a própria sorte quando esses já não respondiam a seus objetivos imediatos. Aquelas operações foram a base para o surgimento das milícias da Al Qaeda no Afeganistão.

Do mesmo modo, é impossível conceber o levantamento do Estado Islâmico sem as guerras no Iraque, Síria e Líbia. Um movimento reacionário que por sua vez foi financiado por distintos setores das burguesias árabes, como as da Arabia Saudita e Qatar, enquanto a Turquia vem "deixando fazer" dentro de seu território, já que é funcional para seu enfrentamento com os Curdos. Esses países são aliados "chaves" dos Estados Unidos e da Europa, o que mostra o cinismo dos discursos que se escutam por esses dias.

Se a França, Alemanha, o Estado Espanhol ou outros países da Europa voltem a ser alvo de ataques bárbaros como os de Paris, não será por responsabilidade dos trabalhadores nem das classes populares mas sim o resultado da política imperialista no estrangeiro dos mesmos governos que na Europa atacam as liberdades democráticas e praticam seu próprio "terrorismo" contra os imigrantes e refugiados que fogem do horror e da guerra.

Suas guerras não são as nossas. Os mortos sim. Em Paris, na Síria, Na Palestina, em Beirute. Contra a xenofobia e o belicismo crescente na Europa do capital, contra a "unidade nacional" e a defesa dos "valores europeus", faz falta a unidade de nossa classe e dos setores populares, mais além de nossas origens e confissões religiosas, contra nosso inimigo em comum: a barbárie capitalista em todas suas formas.

Para isso nos também nos inspiramos nos ideais da República; mas não da república burguesa que trocou a "liberdade" em canhões de "artilharia", mas sim da "República social" dos proletários e proletárias que puseram em pé a Comuna de Paris, tomando o céu de assalto para fazer da fraternidade universal sua bandeira de luta.

Tradução: Pedro Rebucci de Melo


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