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300915 putRússia - Esquerda Diário - [Juan Chingo] Há menos de um ano, as sanções ocidentais, logo após a incorporação da Crimeia por Moscou e a guerra com a Ucrânia, transformavam Putin no novo pária do Ocidente. A crise da política norte-americana no Oriente Médio e na Síria permitiu que voltasse com força ao cenário diplomático regional e mundial.


Fazia dez anos que Vladimir Putin não falava em uma assembleia geral da ONU, como fez nessa segunda (28). Nesse palanque, onde vociferou contra o Ocidente pela administração da crise síria, sua consagração foi o reencontro com o presidente norte-americano, Obama, o mesmo que assinalava na reunião de cúpula da ONU do ano passado três grandes perigos: o ebola, a violência russa e o Estado Islâmico (EI). A mudança no panorama é enorme. O contínuos avanços deste último frente à impotência do Ocidente permitem que a nova oferta de uma frente anti-EI do presidente russo encontre eco.

O fracasso da estratégia norte-americana na Síria

Essa realidade diplomática demonstra a debilidade e o fracasso da estratégia norte-americana no território de combate: na Síria, Bachar al-Assad, ainda que militarmente debilitado, mantém-se no poder e tenta voltar ao jogo diplomático; a oposição "moderada" na qual apostava o Ocidente está praticamente derrotada em proveito das correntes radicais islâmicas. Nesse marco, tanto os movimentos diplomáticos como militares do chefe do Kremlin têm provocado um importante movimento nesse conflito regional que tende a se manter.

No verão do norte, Putin multiplicou os contatos com todos os atores: Irã, Egito, Turquia, Arábia Saudita, Israel e mais discretamente com os EUA. Essas manobras se complementaram com o rumor de que a Rússia estaria instalando uma base militar. Por enquanto, os aviões e helicópteros russos não entraram em ação, mas apenas o fato de seu deslocamento já gerou um efeito político de primeira ordem. Ainda que não se possa descartar que a Rússia lance alguns bombardeios consideráveis contra o Estado Islâmico, em Palmira, por exemplo, para ganhar mais visibilidade, o objetivo central é evitar que Damasco caia, além de assegurar o eixo de comunicação ao norte e no litoral. Com ventos favoráveis, no sábado, Moscou conquistou outro êxito, dessa vez no Iraque: as autoridades iraquianas anunciaram a criação de uma célula de coordenação em matéria de inteligência e segurança em Bagdá com a Rússia, o Irã e a Síria. Uma reviravolta importante para os Estados Unidos

A crise dos imigrantes favorece os jogos diplomáticos de Putin

Frente à crise de refugiados mais importante desde a Segunda Guerra Mundial na Europa, que tem um de seus focos na guerra síria, a abertura de Putin encontra novos aliados no Velho Mundo. É mais uma vez Ângela Merkel quem rompe o jogo das chancelarias europeias. A chanceler alemã disse na última quinta-feira que seria bom conversar com o presidente sírio, Bashar al-Assad, sobre a situação na Síria quanto à crise de refugiados que a Europa enfrenta. "Temos que falar com muitos participantes, entre eles al-Assad", afirmou Merkel, em uma conferência de imprensa que ocorreu após a reunião de cúpula da União Europeia sobre o tratamento destinado aos solicitantes de asilo.

Merkel destacou que a solução do conflito armado na Síria deve se resolver pela via diplomática, com a participação dos Estados Unidos, da Rússia, e também de "importantes sócios regionais, Irã, países árabes sunitas como Arábia Saudita". Dessa maneira, a política ocidental anti-Assad, principal responsável pelos dezenas de milhares mortos e milhões de deslocados na Síria, começa a ruir.

Ligado ao fato da reticência a uma intervenção mais forte dos EUA no terreno, esses elementos obrigam Obama a buscar soluções criativas à proposta russa, como é o caso da hipótese de que não seria uma pré-condição a saída de Assad, mas que esta se daria depois de um período, dando espaço ao balé diplomático no qual Putin é de novo um ator central.

Manobras diplomáticas a serviço de seu fortalecimento interno

No marco de que sua situação interna é complicada e da crise econômica que atinge fortemente os BRICs - em especial, pela queda forte do preço das matérias-primas e pela queda de investimentos devido à enorme acumulação, em um contexto de queda brutal de lucros - , a política externa vem ao apoio do regime reacionário de Moscou.

Os Jogos Olímpicos em Sochi, a "recuperação" da Crimeia, as comemorações da vitória de 1945 foram muito populares. A volta do diálogo direto entre os EUA e a Rússia sobre os assuntos mundiais é sua coroação. Por sua vez, a crise síria poderia permitir virar a página da crise ucraniana: nessa sexta-feira, 2 de Outubro, haverá uma reunião de cúpula em Paris entre Putin, Porochenko (presidente da Ucrânia), Merkel e Hollande: no Eliseu (sede da presidência francesa) começa a ser considerado o final das sanções europeias contra a Rússia. A realidade é que ninguém considera seriamente que a Rússia se retire da Crimeia e tampouco quer ver
Kiev (capital da Ucrânia) tentando recuperar sua província à força em Donbas.

No entanto, esse brilho diplomático oculta fortes debilidades: uma população russa que não quer se comprometer em uma guerra externa, uma economia em estado calamitoso e, mesmo na Síria, uma capacidade de ação política e militar limitada. Porém, assim como em 2013, quando Obama se negou a entrar em guerra frente às denúncias de armas químicas que havia utilizado o regime sanguinário de Assad, as debilidades das distintas potências imperialistas permitem uma vez mais que Putin tenha seu minuto de glória.


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