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recepTurquia - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] O que está por trás da mudança da política do governo de Erdogan? Como mudou o cenário político a partir das recentes eleições nacionais e da “santa cruzada” promovida pela Administração Obama?


Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia. Foto: Serdar Kilic (CC BY-NC 2.0)

O governo turco, de Erdogan, até o momento, tinha priorizado o esforço pela derrubada do governo sírio de al-Assad e tinha feito vista grossa para o uso do território da Turquia, pelo Estado Islâmico, como uma rota de fornecimento na Síria.

Recentemente, o Estado Islâmico promoveu um ataque terrorista, perto da cidade de Kobani (Curdistão Sírio), na Turquia, que deixou dezenas de vítimas. Foi uma resposta ao aumento da repressão pelo governo turco. Após o atentado, o governo turco anunciou a adesão à aliança promovida pela Administração Obama contra do Estado Islâmico e a abertura da base aérea de Incirlik para ser usada pela aviação norte-americana.

O que chamou a atenção é que os bombardeios iniciais, realizados pela aviação turca, não somente atingiram alvos do Estado Islâmico, mas também o YPG (Unidades de Proteção do Povo Curdo) sírio, no povoado localizado no norte da Síria, Zur Maghar. A partir do dia 24 de julho, a aviação passou a atacar as posições do PKK no nordeste do Iraque, apesar de ter iniciado negociações de paz em andamento. O YPG é ligado ao PKK (o Partido dos Trabalhadores Curdos da Turquia), que é considerado uma organização terrorista pela Turquia, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

A Turquia representa uma das potências regionais no Oriente Médio, além de controlar a entrada e saída ao Mar Negro, através do Estreito de Bósforo. Trata-se de um aliado instável tanto dos Estados Unidos como da Rússia, com pretensões de tornar-se a principal potência da região.

O envolvimento da Turquia na crise do Oriente Médio cumpre um papel de primeira ordem, na região que representa o principal foco atual de um conflito de largas proporções, com o potencial de detonar uma nova crise econômica de proporções apocalípticas, na medida em que avança sobre o coração da região, a Arábia Saudita.

O que está por trás da mudança da política turca?

Por causa do aumento das contradições entre o governo turco de Recep Tayyip Erdogan e os curdos, o YPG passou a cogitar, nas últimas semanas, em se aliar ao governo de al-Assad, cuja derrubada é um dos pontos centrais da política de Erdogan.

A derrota do Estado Islâmico em Kobani, a cidade fronteiriça síria, foi liderada pelo YPG, e contou com a ajuda dos curdos iraquianos, os pershengas, e da aviação norte-americana. Com o apoio aéreo, o YPG continuou se fortalecendo e conseguiu ligar fisicamente os três territórios que controla e que se encontravam isolados. Recentemente, o YPG tomou Tal Abyad e avança rumo à capital do Estado Islâmico, Raqqa.

O governo turco considera como uma forte ameaça a criação de um estado curdo que, entre outras coisas, significaria a perda da Anatólia Oriental, peça chave do hub de distribuição de energia para a Europa. O YPG à frente de um estado Curdo na Síria, e ligado ao PKK, representa um passo importante rumo a um estado nacional curdo. Hoje a minoria curda habita a Turquia, a Síria, o Iraque, onde controla o estado autônomo com capital em Erbil, e o Irã.

Apesar de existirem várias facções curdas, e dos curdos iraquianos serem próximos ao governo turco e ao imperialismo norte-americano, as relações do YPG e do PKK são estreitas. Ambos consideram Abdullah Ocalan como líder máximo, apesar dele se encontrar numa prisão turca.

O recente acordo da Administração Obama com o Irã, e a aproximação com o YPG, também esteve na base da cessão da base aérea. A concessão busca camuflar os ataques contra os curdos que fazem parte da aliança impulsionada contra o Estado Islâmico por Obama. Mas o PKK está no foco de ambos, apesar de tratar-se de uma política contraditória por causa dos estreitos laços que o PKK mantém com o YPG. É o vale-tudo da política do “salve-se quem puder”.

A virada a partir das recentes eleições nacionais

O avanço do YPG se soma à apertada vitória do AKP (Partido Justiça e Desenvolvimento) nas últimas eleições nacionais, o que impede que Erdogan consiga aplicar a reforma constitucional que pretendia. Ao mesmo tempo, o partido curdo, Partido Democrático Popular, teve um crescimento vertiginoso e conseguiu mais de 12% dos votos. A crise do regime político se abriu e ainda não foi estruturada a nova coalisão que irá governar a Turquia.

O governo turco tenta jogar a carta da convocação de novas eleições no lugar de ficar à frente de uma coalisão fraca. No cálculo, se encontra a avaliação de que a retomada da luta militar contra o PKK tira votos do Partido Democrático Popular curdo. Os ataques contra o Estado Islâmico têm como objetivo fortalecer a “aliança nacional contra os terroristas”, tirando votos do partido de extrema-direita, o Movimento Nacionalista, que também cresceu nas eleições.

A partir do dia 10 de julho, a polícia turca apertou o cerco contra os militantes e prendeu mais de mil pessoas, inclusive membros do PKK e da Frente Revolucionária de Libertação, um aliado do PKK. O conflito militar entre o PKK e o exército turco foi retomado a partir do final de junho.

As negociações de paz que vinham sendo mantidas com o PKK curdo inclui a reabilitação política de dezenas de políticos que tiveram os direitos cassados, como Abdullah Gul e Ali Babacan. Na atual situação política, isso aumentaria o desastre do AKP. Por outro lado, a guerra fortaleceria a unidade nacional em torno ao AKP.

O atentado do Estado Islâmico botou combustível na política de Erdogan. Da mesma maneira que aconteceu com os atentados de 11 de setembro de 2001, quem esteve por trás? E quem se beneficiou?


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